Vida e obra de Chico Science “ocupam” SP

08/02/2010 17:07

A mostra “Ocupação Chico Science” foi aberta semana passada no Itaú Cultural, em São Paulo. Traz o universo do cantor e compositor nascido em Olinda, em 1966, e morto em um acidente de carro em Recife, no início de 1997. A exposição inclui filmes, grafite, shows e encontros com representantes da cena Manguebeat. Musicalmente, o movimento misturava maracatu com rock, hip hop e eletrônica. Conceitualmente, tratava-se da criação de uma cena “capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop”, como diz o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito pelo compositor e cantor Fred 04 em 1992. O símbolo do Manguebeat era uma antena parabólica cravada na lama. Chico Science, o seu ícone. A ocupação não se resumirá ao espaço físico. “É uma ação de documentação e pesquisa, de organizar acervos dispersos. Além do trabalho do Chico, a exposição está centrada em todo o contexto de ideias do movimento”, afirma Edson Natale, gerente do Núcleo de Música do Itaú Cultural. Segundo Natale, o trabalho permanecerá registrado no site www.itaucultural.org.br/ocupação.
Além da equipe do Itaú Cultural, a exposição tem curadoria coletiva de amigos, família e parceiros do cantor, como os músicos Dolores & Morales (Helder Aragão e Hilton Lacerda) e a irmã e a filha de Science, Goretti França e Louise.
A mostra contou ainda com a importante participação de Paulo André, criador do festival Abril pro Rock, peça-chave na cena de Recife, amigo e produtor de Science e dos mangueboys e manguegirls que voltaram a colocar Recife no mapa da música pop na década de 1990.
Do escritório Astronave, na capital pernambucana, de onde saiu boa parte do acervo que estará na exposição, o produtor musical Paulo André falou à Agência Estado por telefone.
P – Chico Science tinha essa visão do uso dos computadores na arte e falava sobre isso nas músicas. As coisas estão mais fáceis para a divulgação de bandas novas com a internet?
R – Sim, ele já tinha essa preocupação. Ele tem tudo a ver com a forma de disponibilizar música dessa geração. Se ele estivesse vivo teria encontrado várias formas de disponibilizar música via rede. As coisas estão diferentes, mas não quer dizer que seja mais fácil. Nosso modus operandi era fax, correio. Quando lançamos “Da Lama ao Caos”, ficamos dois meses em um albergue da juventude em São Paulo, mais ou menos em julho de 1994. A gente ficou para fazer mais shows, por que éramos 11 pessoas, oito no palco, era difícil e caro viajar.
R – Em que as coisas não mudaram?
R – O Mundo Livre vai para os Estados Unidos fazer uma turnê em julho e agosto. O Dolores vai para os festivais do Canadá. Essas bandas são ignoradas aqui. As rádios universitárias estão 30 anos atrasadas. A cantora Céu é primeiro lugar em música brasileira fora do País. O disco “Afrociberdelia” (1996) foi o mais tocado durante um mês, entre os 10 discos mais tocados fora do Brasil. “Da Lama ao Caos” (1994) ficou dois meses. Nós fomos para o exterior para não ficar refém no mercado brasileiro. Porque eu tinha certeza de que as coisas não mudariam, como não mudaram em 20 anos, e estão longe de mudar. Por isso nos agarramos na oportunidade de sair do Brasil
P – Como está a cena em Recife?
R – Está ótima, tem tanta gente nova que nem daria para citar todas… Academia de Berlinda, Junior Black… Em Pernambuco, depois dos anos 70, que teve Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Cortes, ficamos duas décadas sem uma referência de artista. O máximo de sucesso era forró, não havia nada de música pop, até que veio essa geração do Chico Science, Mundo Livre. A grande coisa é que o Chico chacoalhou o que estava perdido desde os anos 70. Ele chacoalhou o nordeste inteiro.
P – Qual a sua música favorita do Chico Science?
R – “Da Lama ao Caos”, pela visceralidade.
P – Como foi a sua participação nessa exposição?
R – Foi de sugerir pessoas para contar as histórias, como o Beco Dranoff (“Red Hot in Rio”), o Bill Bragin, que agendava o Central Stage, em Nova York, o fundador da Womex (World Music Exposition, vitrine da música independente) Christoph Borkowsky. Além disso sou um colecionador e guardei muito material dessa época, flyers, cartazes, fotos pessoais, que estão na exposição. Eu passei dez anos sem conseguir mexer nesse material.
Chico Science

Chico Science

A mostra “Ocupação Chico Science” foi aberta semana passada no Itaú Cultural, em São Paulo. Traz o universo do cantor e compositor nascido em Olinda, em 1966, e morto em um acidente de carro em Recife, no início de 1997. A exposição inclui filmes, grafite, shows e encontros com representantes da cena Manguebeat. Musicalmente, o movimento misturava maracatu com rock, hip hop e eletrônica. Conceitualmente, tratava-se da criação de uma cena “capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop”, como diz o manifesto “Caranguejos com Cérebro”, escrito pelo compositor e cantor Fred 04 em 1992. O símbolo do Manguebeat era uma antena parabólica cravada na lama. Chico Science, o seu ícone. A ocupação não se resumirá ao espaço físico. “É uma ação de documentação e pesquisa, de organizar acervos dispersos. Além do trabalho do Chico, a exposição está centrada em todo o contexto de ideias do movimento”, afirma Edson Natale, gerente do Núcleo de Música do Itaú Cultural. Segundo Natale, o trabalho permanecerá registrado no site www.itaucultural.org.br/ocupação.

Além da equipe do Itaú Cultural, a exposição tem curadoria coletiva de amigos, família e parceiros do cantor, como os músicos Dolores & Morales (Helder Aragão e Hilton Lacerda) e a irmã e a filha de Science, Goretti França e Louise.

A mostra contou ainda com a importante participação de Paulo André, criador do festival Abril pro Rock, peça-chave na cena de Recife, amigo e produtor de Science e dos mangueboys e manguegirls que voltaram a colocar Recife no mapa da música pop na década de 1990.

Do escritório Astronave, na capital pernambucana, de onde saiu boa parte do acervo que estará na exposição, o produtor musical Paulo André falou à Agência Estado por telefone.

P – Chico Science tinha essa visão do uso dos computadores na arte e falava sobre isso nas músicas. As coisas estão mais fáceis para a divulgação de bandas novas com a internet?

R – Sim, ele já tinha essa preocupação. Ele tem tudo a ver com a forma de disponibilizar música dessa geração. Se ele estivesse vivo teria encontrado várias formas de disponibilizar música via rede. As coisas estão diferentes, mas não quer dizer que seja mais fácil. Nosso modus operandi era fax, correio. Quando lançamos “Da Lama ao Caos”, ficamos dois meses em um albergue da juventude em São Paulo, mais ou menos em julho de 1994. A gente ficou para fazer mais shows, por que éramos 11 pessoas, oito no palco, era difícil e caro viajar.

R – Em que as coisas não mudaram?

R – O Mundo Livre vai para os Estados Unidos fazer uma turnê em julho e agosto. O Dolores vai para os festivais do Canadá. Essas bandas são ignoradas aqui. As rádios universitárias estão 30 anos atrasadas. A cantora Céu é primeiro lugar em música brasileira fora do País. O disco “Afrociberdelia” (1996) foi o mais tocado durante um mês, entre os 10 discos mais tocados fora do Brasil. “Da Lama ao Caos” (1994) ficou dois meses. Nós fomos para o exterior para não ficar refém no mercado brasileiro. Porque eu tinha certeza de que as coisas não mudariam, como não mudaram em 20 anos, e estão longe de mudar. Por isso nos agarramos na oportunidade de sair do Brasil

P – Como está a cena em Recife?

R – Está ótima, tem tanta gente nova que nem daria para citar todas… Academia de Berlinda, Junior Black… Em Pernambuco, depois dos anos 70, que teve Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Lula Cortes, ficamos duas décadas sem uma referência de artista. O máximo de sucesso era forró, não havia nada de música pop, até que veio essa geração do Chico Science, Mundo Livre. A grande coisa é que o Chico chacoalhou o que estava perdido desde os anos 70. Ele chacoalhou o nordeste inteiro.

P – Qual a sua música favorita do Chico Science?

R – “Da Lama ao Caos”, pela visceralidade.

P – Como foi a sua participação nessa exposição?

R – Foi de sugerir pessoas para contar as histórias, como o Beco Dranoff (“Red Hot in Rio”), o Bill Bragin, que agendava o Central Stage, em Nova York, o fundador da Womex (World Music Exposition, vitrine da música independente) Christoph Borkowsky. Além disso sou um colecionador e guardei muito material dessa época, flyers, cartazes, fotos pessoais, que estão na exposição. Eu passei dez anos sem conseguir mexer nesse material.