Em noite histórica, Chile começa a resgatar mineiros

13/10/2010 09:52

Após 69 dias de espera, uma noite histórica. Às 23h08 de terça-feira (12) teve início o resgate dos 33 homens presos na mina San José, no Chile, uma história dramática que chamou a atenção de todo o mundo e que promete ter um final feliz.

Foi uma longa espera. A terça-feira foi de ansiedade e nervosismo no acampamento Esperança, onde familiares vivem desde o acidente, e as informações desencontradas sobre o horário em que começaria o resgate fizeram a tensão aumentar.

Autoridades afirmaram que a operação começaria às 20h, depois “a partir das 18h” e, ainda, às 22h. Enquanto isso, jornalistas aguardavam em uma plataforma de observação e familiares se dividiam pelo acampamento: os mais próximos assistiam a tudo em um local fechado para a imprensa; os demais acompanhavam a transmissão ao vivo em telões ao ar livre e dentro da cafeteria.

A comoção ganhou força no momento em que o paramédico Manuel Gonzáles entrou na cápsula Fênix e desceu 622 metros, até encontrar os mineiros no refúgio onde ficaram presos desde 5 de agosto. Foram muitos aplausos e gritos de “Chi Chi Chi Le Le Le”, o ‘hino’ preferido dos chilenos.

Depois de 16 minutos, Gonzáles chegou ao refúgio e cumprimentou os mineiros, uma imagem impressionante transmitida ao vivo para todo o mundo.

Após receber algumas orientações do paramédico, Florencio Ávalos, o primeiro mineiro a ser resgatado, entrou na cápsula Fênix e, cerca de 15 minutos depois, às 0h10, chegou à superfície a salvo. Do lado de fora da mina, seu filho Byron, de sete anos, esperava por ele muito emocionado. No acampamento, familiares e jornalistas não conseguiram conter as lágrimas, enquanto o céu do deserto do Atacama foi enfeitado por balões com a bandeira chilena, lançados ao ar durante a comemoração.

‘Número mágico’

Depois do resgate bem-sucedido de Ávalos, o presidente do Chile, Sebástian Piñera, que acompanha toda a operação de perto, fez um discurso exaltando a união dos chilenos em dois momentos difíceis que enfrentaram em 2010: o terremoto seguido de tsunami em fevereiro e o acidente na mina San José.

“Quando o Chile se une, somos capazes de grandes coisas”, afirmou Piñera. “Quero convidar a todos os chilenos que tenham esse compromisso não apenas nas adversidades”.

 Piñera também chamou a atenção para o fato de que o primeiro mineiro deixou a jazida no dia 13/10/10. Os três números juntos somam 33, o “número mágico” da mina San José: 33 mineiros; 33 caracteres no bilhete que mandaram à superfície (“estamos bien en lo refugio los 33”); e 33 dias de perfuração.

Dono da festa

O segundo mineiro resgatado, Mario Sepúlveda, roubou a cena. Considerado o mais comunicativo entre os trabalhadores (foi ele quem fez a apresentação de todos no primeiro vídeo gravado dentro da mina), Sepúlveda ainda estava subindo na cápsula Fênix quando começou a gritar “Viva Chile Mierda!”.

Um integrante da equipe de resgate pediu que ele se apressasse, ao que Sepúlveda respondeu: “já vou, já vou”, provocando risos entre os presentes. Ao chegar a superfície, ele abraçou a mulher, chamou o ministro da Mineração, Laurence Golborne, de “chefão”, e distribuiu pedras da mina para ele e o presidente Piñera.

Muito animado e bem disposto, ele ainda foi até a grade de onde os resgates eram observados e comemorou com os “torcedores”, Depois, em entrevista coletiva, falou sério e disse esperar que o acidente provoque “mudanças profundas” nas condições de trabalho dos mineradores.

Ele ainda pediu para que a opinião pública não trate os trabalhadores da mina San José como artistas. “Quero que continuem me tratando como trabalhador, como mineiro”, afirmou.

Tranquilidade

Após dois resgates bem-sucedidos, o clima mudou no acampamento Esperança. Mais esperançosas e otimistas, todos assistiam ao resgate com tranquilidade e, a cada mineiro, resgatado, faziam uma comemoração menos barulhenta. O forte frio ajudou a fazer com que o número de pessoas assistindo à transmissão dos trabalhos diminuísse, aos poucos.

O terceiro mineiro a ser resgatado, Juan Illanes Palma, chegou à superfície por volta das 2h10, com um sorriso no rosto. Quando lhe perguntaram sobre como tinha sido a “viagem” na cápsula Fênix, ele respondeu com bom humor: “Excelente. Foi como um cruzeiro”.

Por volta das 3h10 foi a vez do boliviano Carlos Mamani, único não chileno entre os mineiros; cerca de uma hora depois foi resgatado Jimmy Sánchez, o mais novo do grupo. Devido a uma manutenção na cápsula responsável pelo transporte, o sexto mineiro, Osmán Araya, só voltou à superfície por volta das 5h30 desta quarta. Sétimo a ser retirado da mina, o viúvo José Ojeda foi recebido pela enteada ao chegar à superfície, por volta das 6h21.

O oitavo a ser resgatado foi Claudio Yañez, solteiro e pai de duas filhas. Ele chegou à superfície por volta das 6h55.

Todos serão levados ao hospital de Copiapó, cidade a 45 km da mina, onde ficarão por pelo menos 48 horas. Como cada resgate leva cerca de uma hora, a previsão é que a operação continue durante toda a quarta-feira. Se tudo correr conforme o planejado, em breve todos os mineiros estarão bem – agora em suas casas.

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