Próximo do preço-limite

28/10/2010 07:50

O litro do etanol está novamente mais caro em Mato Grosso e até o final desta semana o reajuste, de cerca de 15%, chegará às bombas. O repasse, o segundo em pouco mais de 20 dias, está sendo feito desde ontem pelas distribuidoras e, na medida em que os postos revendedores forem renovando os estoques, os novos preços passarão a vigorar. Considerando o valor médio do litro em Cuiabá e Várzea Grande de R$ 1,66, o valor de bomba poderá atingir até R$ 1,90. Se o preço se concretizar, o litro do etanol estará apenas a R$ 0,03 de atingir o limite de 70% do valor do litro da gasolina para ser competitivo.

Atualmente, o litro da gasolina custa, em média, R$ 2,77/2,78 nas duas cidades. O etanol nos valores atuais representa 40%. Com o reajuste de 15%, chega a R$ 1,90. A competitividade do derivado da cana vai até a R$ 1,93, cifras que equivalem a 70% do valor da gasolina, acima de R$ 1,93 – sobre o valor atual da gasolina. O consumidor deverá dar preferência ao derivado do petróleo, já que o poder de queima do etanol é maior: em outras palavras, roda-se menos quilômetros com este combustível.

O primeiro-secretário do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis de Mato Grosso (Sindipetróleo), Bruno Borges, acredita que os preços deverão se ajustar entre R$ 1,86/1,89. O dirigente faz questão de salientar que o comunicado que o Sindicato emitiu ontem sobre o reajuste é uma forma de mostrar à sociedade que o revendedor – ponto final da cadeia do combustível – está apenas repassando altas vindas das distribuidoras. “Ontem, já recebemos os novos preços. Aliás, em 60 dias as distribuidoras já aumentaram o valor do litro do etanol três vezes e este é o segundo reajuste que o revendedor anuncia”, reforça. Conforme Borges, neste período o valor do litro do etanol entregue aos postos oscilou de R$ 1,24 aos atuais R$ 1,48, na Capital. Contabilizando os valores, a majoração atinge mais de 20%. “Há preços ainda maiores no mercado, acima de R$ 1,48”, destaca.

O Sindicato observa que não existe nenhuma relação entre a usina e o posto: “nos balizamos pelo que a distribuidora nos repassa”. Questionado se o aumento não estaria chegando com muita antecedência ao consumidor – geralmente as altas vêm a partir do final de dezembro ou no decorrer de janeiro -, Borges diz que não. Segundo ele, a majoração reflete o mercado. “Há menos oferta de etanol, seja por mau planejamento de compras por parte das distribuidoras ou mesmo redução de volumes nas usinas”. Ele acredita que diante deste cenário haja outras altas até o final do ano.

USINAS – O diretor-executivo do Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindálcool), Jorge dos Santos, não confirmou a existência de aumento sobre o preço do litro nas usinas. “Pode haver realinhamento em uma ou outra usina, mas elas seguem a planilha de custos de cada uma e por isso não se pode afirmar se há e nem de quanto é o ajuste”. O Sindicato, por respeitar as diferenças logísticas de cada uma das onze usinas, não revela o preço do litro adotado no Estado.

Ainda conforme ele, a forte estiagem que assolou o Estado nos últimos meses e agora a chegada das chuvas têm trazido transtornos nos canaviais e isso tudo implica em maior custo de produção. “Ultimamente com as chuvas, algumas usinas têm interrompido momentaneamente a colheita e a moagem no Estado. Porém, o que tem de ficar claro é que estamos em plena safra e há cerca de 20% da produção de cana para moer e os trabalhos irão até dezembro”. Com a produção estimada em 14,10 milhões de toneladas, restam 2,8 milhões para ser processados.

Sobre estoques de etanol para enfrentar o período de entressafra, de janeiro até abril, Santos não divulga números sob o argumento de estratégia de mercado, mas garante que “o volume em 2010 é superior ao que havia em 2009”. A safra 2010 deverá produzir 850 milhões de litros de etanol – 600 milhões de litros de hidratado (combustível) e 250 milhões de litros de anidro (misturado à gasolina).

O bom momento do mercado do açúcar – que tem gerado mais renda ao produtor e, assim, elevando a produção deste item em detrimento do etanol – segundo Santos, não tem interferido no planejamento da safra 2010 em Mato Grosso. Como explica, as usinas mato-grossenses têm capacidade limitada para o açúcar e o Estado não é exportador do produto. “Sendo assim, 70% da cana se transforma em etanol e apenas 30% em açúcar”.

ALERTA – Santos explica que as chuvas das últimas semanas podem elevar o aumento do custo de produção em 20%, pois corre-se o risco de ficar cana no chão, sem colher, e isso dificulta muito os trabalhos no campo. “As usinas vão fazer de tudo para eliminar o problema de nova brota, mas isso pode ocorrer”.

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