MERCADO: Mais um mês de altas de preços de commodities

02/11/2010 09:10

Cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos de segunda posição de entrega (normalmente a de maior liquidez) de oito produtos negociados nas bolsas de Chicago (milho, trigo e soja) e Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja) mostram que, em relação a setembro, apenas o trigo recuou. Para os demais, altas ou mesmo disparadas.

Ânimo – O movimento animou produtores e agroindústrias exportadoras, que voltaram sentiram o peso das oscilações ascendentes no bolso no terceiro trimestre. Ao mesmo tempo, manteve os preços dos alimentos em geral sob pressões altistas, com reflexos inflacionários em diversos países, inclusive no Brasil., onde o câmbio limita os ganhos. “A demanda por nossos principais produtos está forte, e o mundo precisa de uma produção agrícola maior e um comércio mais eficiente para atender às necessidades dos consumidores finais e aos deslocamentos provocados por adversidades climáticas em algumas regiões produtoras”, disse o brasileiro Alberto Weisser, CEO da americana Bunge, na divulgação dos resultados da companhia no terceiro trimestre, na quinta-feira.

Empresas – A Bunge é uma das maiores tradings de grãos do mundo. No Brasil, onde passou a investir também no segmento sucroalcooleiro nos últimos anos, é a principal exportadora do agronegócio. E não está sozinha nas comemorações ou na identificação dos riscos de uma onda de altas marcada por elevada volatilidade. No início de outubro, quando apresentou os sólidos resultados da também americana Cargill no primeiro trimestre do exercício 2011 (encerrado em 31 de agosto), o CEO da maior trading de grãos do planeta, Greg Page, realçou os desafios de administrar os riscos embutidos nas fortes oscilações das cotações e nas necessidades do grupo de garantir matérias-primas para seus negócios.

Fertilizantes – Empresas como Cargill e Bunge, bem como companhias a montante da cadeia produtiva, como a canadense Potash, líder global em fertilizantes que também exultou com seu desempenho global no trimestre entre julho e setembro, foram particularmente beneficiadas pelas explosões dos preços de milho, soja e algodão em outubro.

Milho – A disparada de maior impacto foi a do milho, que ajudou a puxar a soja e a evitar que a queda do trigo, que foi às alturas em setembro graças à problemas na oferta na Rússia e arredores, tenha sido de apenas 1,72%. Em relação à média de dezembro, o trigo ainda acumula alta de 31,62%; sobre outubro do ano passado, a escalada aponta para um degrau 40,24% mais elevado.

Produtividade – Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produtividade das lavouras americanas de milho será menor que a esperada nesta safra 2010/11, que está sendo colhida, ao mesmo tempo que as importações chinesas tendem a crescer por uma necessidade de recomposição de estoques e que o fenômeno climático La Niña ameaça o rendimento das plantações no Hemisfério Sul.

Preço médio – A equação produziu um preço médio 12,21% maior em Chicago em outubro na comparação com setembro e, segundo o Valor Data, ampliou para 36,49% a valorização acumulada em relação à média de dezembro e para 44,99% o salto sobre outubro do ano passado. Também referenciada em Chicago, a soja, carro-chefe do campo brasileiro, foi influenciada basicamente pelos mesmos fatores que sustentaram o milho, e fechou o mês com cotação média 9,63% maior que em setembro. Na comparação com a média de dezembro, o valor foi 12,81% superior, e em relação a outubro de 2009, o ganho chegou a 21,10%.

Foco – Relatório do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês), confirma que o foco nesse mercado ficou mesmo no milho em outubro, ainda que o arroz também tenha explodido com o clima adverso no Sudeste Asiático. Além de validar os fatores já apresentado, o IGC chama a atenção para os efeitos altistas das curvas ascendentes das commodities nos fretes marítimos. A entidade trabalha com um cenário de aumento de 1,5% no consumo mundial de grãos na temporada 2010/11, para 1,785 bilhão de toneladas. Nesse horizonte, diz o IGC, os estoques globais tendem a cair 54 milhões de toneladas, para 345 milhões. Na sexta-feira, a União Europeia informou que vai vender 2,8 milhões de toneladas dos estoques de trigo de má qualidade até junho.

Interesse – Fundamentos, portanto, que tendem a manter as cotações sustentadas e a continuar atraindo o interesse cada vez mais voraz de grandes fundos de investimentos que começaram a “descobrir” as commodities agrícolas em meados desta década. As apostas desses fundos nos grãos estão em níveis recordes, acima inclusive de meados de 2008, quando soja e milho atingiram máximas históricas. E, a depender do dólar, a corrida para os agrícolas poderá se acelerar. Na sexta-feira, havia uma expectativa de que uma nova injeção de recursos na economia dos EUA pudesse enfraquecer mais o dólar e acirrar a guerra cambial tão comentada em outubro.

Outros – Outros produtos, inclusive os de liquidez superior à das agrícolas, também têm sido beneficiados pelos mesmos movimentos financeiros. São os casos do petróleo, estrela maior entre as commodities cujo preço médio em outubro foi 7,67% superior ao de setembro em Nova York, e do ouro, que na comparação e na mesma bolsa, subiu 5,48%.

Soft – Entre as chamadas “soft commodities”, cuja referência maior é a bolsa de Nova York, a valorização das cotações também continua firme, alimentada também por demanda firme, ameaças à oferta e investimentos especulativos. O algodão liderou os ganhos na comparação com as médias de setembro, com salto de 13,83%, e foi seguido por açúcar (8,63%), cacau (3,01%), café (1,47%) e suco de laranja (0,90%). Mesmo aqueles que registraram variações menores seguem com preços acima das médias históricas. Exceto pelo cacau, todas as demais commodities agrícolas nova-iorquinas acumulam altas em relação às médias de dezembro e às médias de outubro do ano passado. Em 12 meses, a maior entre todas as commodities, inclusive as de Chicago, é a do algodão, que supera 61%.

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