Emendas federais “alimentam” esquema de corrupção em obras no Araguaia

23/11/2010 15:07

As emendas federais – sempre as emendas federais. Agora é a vez do deputado federal Wellington Fagundes, do Partido da República, ingressar na lista dos políticos suspeitos de se beneficiarem de liberações de verbas para obras. O parlamentar foi citado em depoimento colhido pela Polícia Federal e acusado de se beneficiar do esquema de desvio de verbas públicas na região do Araguaia desarticulado sexta-feira, dia 19,  na Operação Atlântida, que prendeu empresários, engenheiros e servidores públicos de alto escalão. Naturalmente, Fagundes nega.

 A acusação contra o parlamentar partiu de um contador – que aceitou participar dos benefícios da chamada delação premiada. Seu nome não foi revelado. Ele contou que o esquema funcionava junto com o prefeito de Barra do Garças, Wanderley Farias. O parlamentar e o prefeito receberiam a título de propina 20% do valor de cada contrato licitado que teria a empresa Assessoria e Construções (Assecon), a título de comissão.

Não é de hoje que as emendas parlamentares são consideradas expedientes de articulação política suspeitas. No centro do poder sempre se fala na  existência de um comércio de emendas no Congresso Nacional em troca de propina entre 10% e 20% do dinheiro liberado. Em Mato Grosso, vários políticos já tiveram seus nomes vinculados a liberação de emendas e desvios. Os casos mais marcantes envolvendo recursos federais e emendas apareceram com os “Anões do Orçamento”, “Sanguessugas” e “Mensalão”.

No caso das obras do Araguaia, o esquema apontou pelo menos 60 obras com recursos federais supostamente desviados no esquema de favorecimento de licitação. Empreiteiros, agentes públicos, incluindo políticos, e servidores públicos do Estado e até funcionários da Caixa Econômica Federal se aglutinaram para garantir que a obra pública não fosse objeto de concorrência, gerando aumento de ganhos e desvios.

De acordo com o jornal “A Gazeta”, a empreiteira pertence ao empresário Antônio Jacomini, um dos presos na operação Atlântida, seria uma das que atuava em benefício do parlamentar. Ele contou que Luiz Antônio Jacomini conheceu Fagundes através de Farias e observou que “é notória na região do Vale do Araguaia a ascendência exercida pelo deputado Wellington Fagundes sobre as prefeituras, inclusive a de Barra do Garças”.

O deputado Wellington Fagundes teria a incumbência de viabilizar recursos a serem empregados nas obras cujas licitações seriam vencidas pelo empresário Jacomini. Jacomini viaja com frequência até Brasília para manter contatos com o intuito de ganhar licitações na região de Barra do Garças, segundo depoimento colhido pelo delegado federal  Tomás de Almeida Vianna

 “Não tenho contato algum com essas pessoas e entendo que são acusações levianas de quem, por motivo ainda obscuro, tenta me gerar prejuízos políticos” – disse Fagundes.  Apesar disso, o republicado disse que não iria tomar providências jurídicas diante das declarações feitas a Polícia Federal. “Não adianta brigar com a platéia por causa de uma vaia” – disse, com efeito.  “Sempre pautei minhas atividades pelo trabalho e é assim que vou continuar”.

Embora tenha confirmado que parte dos recursos desviados são oriundos de emendas parlamentares, a responsável pela condução das investigações, a delegada Luciane Alves informou na sexta-feira (19) que até o momento não há indícios de participação de políticos no suposto esquema, o que só poderia ser detectado após novas diligências. “Não há nada disso até o momento, qualquer identificação só será feita com novos depoimentos” – assegurou, segundo o jornal.  O inquérito deve ser concluído ainda nesta semana após nove meses de duração e ser remetido ao Ministério Público Federal (MPF) a quem cabe oferecer denúncia à Justiça.

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