Cientistas russos adiam busca de água mais pura e antiga do mundo

08/02/2011 18:03

Cientistas russos adiaram para dezembro a busca pela água mais pura e antiga do planeta no lago Vostok, situado abaixo do gelo da Antártida, informou nesta terça-feira (8) Valeri Liukin, chefe da expedição.

Não tivemos tempo de chegar ao lago antes que a temperatura do gelo antártico começasse a cair.

Liukin, que é subdiretor do Instituto de Pesquisas Árticas e Antárticas (AARI, na sigla em inglês), com sede em São Petersburgo, na Rússia, explicou que outro motivo da suspensão dos trabalhos de perfuração da expedição russa é que não se sabe a profundidade que o lago se encontra, em princípio situado sob uma camada de gelo de cerca de 3.750 m.

– Ninguém sabe com exatidão a profundidade. Calculamos por método sísmico e por radiolocalização e detectamos uns 3.750 m, mas há uma margem de erro de 20 m, por isso poderiam ser 3.730 m ou 3.770 m.

Segundo o cientista, outro fator que causou o adiamento “foi a diminuição do ritmo de perfuração dos 4 m por dia previstos para 1,6 m”, apesar de no último mês terem sido perfurados uma média de 2,43 m diários.

– Devido à alta pressão e à queda das temperaturas, se formaram cristais de gelo que obstruíam o avanço da perfuradora, o que nos obrigou a suspender a expedição até o final do ano.

No entanto, Liukin não acredita que isto seja um “grave problema” e se mostrou confiante de que os cientistas conseguirão alcançar a superfície do Vostok, lago que ficou vedado durante milhões de anos, no final deste ano ou no início de 2012.

– Provavelmente trata-se de água mais pura e antiga do planeta. Não temos provas concretas, mas dados de que a superfície é estéril, embora no fundo do lago deva haver formas de vida como termófilos e extremófilos [microorganismos que vivem em condições extremas].
Segundo Liukin, os resultados da prospecção do lago antártico serão fundamentais para o estudo da mudança climática na Terra durante os próximos séculos, já que o Vostok é uma espécie de termostato que se manteve isolado do resto da atmosfera e da superfície da biosfera durante milhões de anos.

Além disso, ressaltou que os expedicionários “têm certeza de que o Vostok abriga água” desde quando atingiram a profundidade de 3.583 m, já que a partir daí o gelo se forma não a partir da neve, mas da evaporação de água. Com cerca de 300 km de comprimento, 50 km de largura e quase 1 km de profundidade em algumas áreas, o Vostok é uma massa de água doce em estado líquido que se encontra no epicentro do sexto continente, como é conhecida a Antártida.

Com uma superfície de 15.690 km2, similar à do Baical, a maior reserva de água doce do mundo, é o mais extenso lago subterrâneo entre os mais de cem que se encontram sob o gelo antártico. Descoberto em 1957 por cientistas soviéticos, foi incluído na lista dos achados geográficos mais importantes do século 20.

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