ONU: Situação de refugiados na fronteira líbia é crítica

01/03/2011 12:58

A ONU afirmou nesta terça-feira que a situação na fronteira da Líbia com a Tunísia atingiu um ponto crítico, com dezenas de milhares de estrangeiros tentando deixar o país em meio aos protestos contra o presidente Muamar Kadafi.

“Nossa equipe na fronteira da Líbia com a Tunísia nos disse esta manhã que a situação lá atingiu um ponto crítico”, disse a porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Melissa Fleming. “Só hoje (terça-feira), esperamos que entre 10 mil e 15 mil pessoas cheguem à Tunísia, procedentes da Líbia.”

A porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), Melissa Fleming, disse que entre 70 mil e 75 mil pessoas fugiram para a Tunísia desde 20 de fevereiro. Outras 69 mil também teriam se dirigido ao Egito, totalizando mais de 140 mil refugiados.

Cerca de 2 mil pessoas tentam cruzam a fronteira da Tunísia por hora, mas, uma vez em território tunisiano, os refugiados não têm para onde ir. Segundo outra porta-voz do Acnur, Sybella Wilkes, os agentes da ONU estão “sob imensa pressão” para ajudar os refugiados. “Os recursos acabam assim que os disponibilizamos”, afirmou, em entrevista ao jornal americano “The New York Times”.

Cerca de 20 mil outros estariam do lado líbio da fronteira, à espera de uma autorização para entrar na Tunísia. A maioria é de egípcios, mas também há chineses e bengalis – quase todos trabalhadores estrangeiros que viviam na Líbia.

No local, campos de triagem foram improvisados para tentar melhorar a distribuição de comida, enquanto autoridades tentam alugar aviões e barcos para repatriar os refugiados. A situação de saneamento é rpecária e muitos dormem em estradas e estacionamentos.

Na semana passada, o ministro de Relações Exteriores italiano, Franco Frattini, afirmou temer que uma eventual queda do regime líbio cause uma onda migratória de até 300 mil pessoas para Europa.

“Na Líbia, um terço da população não é originária do país, mas subsaariana. Estamos falando de 2,5 milhões que, no caso da queda do sistema do país, escaparão porque ficarão sem trabalho. Nem todos (virão) à Itália. A Grécia está muito mais perto de algumas cidades líbias”, disse.

‘Delirante’

Horas depois de uma entrevista em que disse ser “amado” pelo seu povo, Kadafi foi qualificado de “delirante” por uma alta porta-voz do governo americano.

A embaixadora dos Estados Unidos junto à ONU, Susan Rice, disse na segunda-feira que Kadafi está “distante da realidade” e “não tem condições de governar”.

Horas antes, o líder líbio concedeu entrevista aos jornalistas Jeremy Bowen, da BBC, e Christiane Amanpour, da rede ABC, afirmando ser amado pelo povo líbio.

“Eles me amam, todo o meu povo me ama. Todos eles. Eles morreriam para me proteger”, disse Kadafi, voltando a repetir que as manifestações em seu país estão sendo causadas pela rede extremista Al-Qaeda.

Para Susan Rice, as declarações de Kadafi “mostram como ele está incapaz de governar e como está distante da realidade”. “Francamente, parece um delírio que ele consiga rir em uma entrevista com um jornalista internacional enquanto massacra seu próprio povo”, criticou a embaixadora. “Isso torna ainda mais importante os passos urgentes que tomamos na semana passada, no plano doméstico e na ONU. E vamos continuar a manter a pressão.”

Na entrevista, Kadafi negou que haja protestos contra o governo na capital do país, Trípoli. Ele também voltou a dizer que os manifestantes contra o governo estão drogados e agindo sob influência da Al-Qaeda.

Kadafi riu quando, durante a entrevista, foi sugerida a possibilidade de que ele deixasse a Líbia, e disse se sentir traído pelos líderes mundiais que estão pressionando pela sua deposição, acusando-os de querer colonizar a Líbia.

Questionado se cogita renunciar, ele disse que não tem cargo oficial ao qual renunciar e voltou a insistir que o poder está com o povo. “Se eles quiserem que eu renuncie, vou renunciar do quê?”, disse Kadafi, que está no poder desde 1969. Ele disse também que ordenou a seus partidários que não atirassem contra os manifestantes.

Tags: