Brasil reduz casos novos de tuberculose

24/03/2011 16:33

O Brasil reduziu de 73.673 para 70.601 o número de casos novos de tuberculose entre 2008 e 2010 – o que representa 3 mil casos novos a menos no período. Com a redução, a taxa de incidência (número de pacientes por 100 mil habitantes) baixou de 38,82 para 37,99. São números positivos, mas que ainda fazem da tuberculose um dos principais problemas de saúde pública do Brasil, exigindo esforços para acelerar a diminuição do número de novos casos.
 
No país, a tuberculose é a terceira causa de óbitos por doenças infecciosas e a primeira entre pacientes com aids. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (24), em Brasília, pelo secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, por ocasião do Dia Mundial de Luta contra a Tuberculose.
 
Atualmente, o Brasil ocupa o 19º lugar no ranking dos 22 países que concentram 80% dos casos em todo o mundo. Nesta lista, quanto mais elevada é a posição ocupada pelo país, melhor é a situação. Com relação à incidência, o Brasil é o 108º colocado. “Nós acreditamos que, mantido o progresso atual, em cinco anos estaremos muito próximos de deixar o grupo dos 20 países com mais casos no mundo”, afirma o secretário.
 
A tuberculose é uma das doenças que devem ter indicadores reduzidos pela metade até 2015 em relação aos registros de 1990, conforme previsto nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Há duas décadas, a incidência da doença era de 56 casos por 100 mil habitantes e a mortalidade, de 3,6 por 100 mil. Até 2015, os indicadores devem chegar a 28/100 mil e 1,8/100 mil, respectivamente.
 
Jarbas Barbosa afirma que a meta de redução da mortalidade deverá ser atingida. Em 2009, a taxa ficou em 2,5 óbitos por 100 mil habitantes. Porém, quanto à incidência, Barbosa reforça que é necessário acelerar o ritmo de queda dos casos, embora tenham sido registrados números positivos nos últimos anos.
 
“A população deve ficar atenta ao principal sintoma da tuberculose, que é tosse por mais de três semanas, com ou sem catarro. Apresentando esse sintoma, a pessoa deve procurar uma unidade de saúde para fazer o diagnóstico. Se for tuberculose, o tratamento é iniciado imediatamente e a cadeia de transmissão é interrompida”, esclarece o secretário. Ele chama atenção para o fato de que o tratamento dura seis meses e não pode ser interrompido. Dessa forma, é possível obter a cura da doença e a redução da transmissão.
 
Em 2008, o percentual de cura foi de aproximadamente 73%. A meta do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), da Secretaria de Vigilância em Saúde, é atingir 85%, como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
 
TAXA DE ABANDONO – Desde o final de 2009, o Brasil adota um novo esquema terapêutico para tratar a doença. Antes, o tratamento era feito com três drogas, o paciente era obrigado a tomar até nove comprimidos diferentes por dia e 9,4% dos doentes abandonavam o tratamento. Com o novo esquema, os pacientes ingerem apenas 2 a 4 comprimidos por dia, de acordo com o peso da pessoa. Assim, espera-se reduzir a taxa de abandono para menos de 5% (parâmetro usado pela OMS) até 2015.
 
“Um dos problemas que temos com a tuberculose é que o tratamento é muito efetivo, mas é prolongado – dura cerca de seis meses. Muita gente começa a tomar o remédio e o abandona nos primeiros meses. No entanto ela só fica completamente curada se completar o tratamento”, explica Jarbas Barbosa, que frisa a importância da ação conjunta entre os governos municipais, sociedade civil e parceiros comunitários no incentivo ao tratamento.
 
Outra medida adotada pelo Brasil foi expandir a cobertura da estratégia do Tratamento Diretamente Observado (TDO), que consiste no acompanhamento do paciente durante os seis meses de tratamento – outra recomendação da OMS. Em 2009, 36,2% dos casos novos de tuberculose foram acompanhados; em 2001, eram apenas 3,5%. Atualmente, 97% dos municípios prioritários, que concentram 63% dos casos de tuberculose, adotam o TDO como estratégia para aumentar o percentual de cura da doença.
 
SITUAÇÃO NOS ESTADOS – De acordo com os dados de 2010, as maiores incidências estão nos estados do Rio de Janeiro (71,8 por 100 mil habitantes), Amazonas (69,2/100 mil), Pernambuco (47,5/100 mil), Pará (46,2/100 mil) e Rio Grande do Sul (45,3/100 mil). As menores taxas de incidência do país foram registradas no Distrito Federal (11,7/100 mil), Tocantins (13,6/100 mil) e Goiás (14,6/100 mil).
 
Entre as capitais, as maiores incidências são registradas em Porto Alegre (111,3/100 mil), Recife (97,2/100 mil), Belém (95,1/100 mil), Rio de Janeiro (93,4/100 mil) e Manaus (93,2/100 mil).
 
TUBERCULOSE E HIV –Entre 2002 e 2009, houve aumento do percentual de pacientes com tuberculose que fizeram testes de detecção do HIV, vírus causador da aids. No início da década, apenas 26% fizeram o teste; em 2009, o percentual subiu para 50,8%. Como a tuberculose é a principal causa de morte de pessoas com HIV, quanto mais precoce o diagnóstico, melhores as chances de sobrevida do paciente. Atualmente, o percentual de coinfecção, quando o paciente tem HIV e tuberculose ao mesmo tempo, é de 9,2% (dados de 2009).
 
PERFIL DO PACIENTE – No Brasil, a faixa etária mais acometida pela tuberculose é a que vai dos 20 aos 49 anos, abrangendo em torno de 63% dos casos novos da doença registrados em 2009. Quanto à escolaridade, 62,5% dos casos novos tinham até oito anos de estudo.
 
A incidência entre os homens (cerca de 50 casos por 100 mil habitantes) é o dobro do que é observado entre as mulheres. Já nas populações mais vulneráveis, as taxas são maiores do que a média nacional, de 37,99. Entre os indígenas, a incidência é quatro vezes maior que a taxa nacional; na população privada de liberdade, 25 vezes maior; nos portadores de HIV, 30 vezes maior. No entanto, a tuberculose afeta todos os segmentos da sociedade, independentemente de renda ou da escolaridade.
 
INVESTIMENTOS – Entre 2002 e 2010, o volume de recursos investidos pelo Ministério da Saúde e estados cresceu 14 vezes. No ano passado, o orçamento total foi de US$ 74 milhões, contra US$ 5,2 milhões em 2002.
 
No ano passado, o Ministério da Saúde e o programa de saúde global financiado pela Fundação Bill & Melinda Gates anunciaram uma parceria com o PNCT, em colaboração com a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP), do Rio de Janeiro. O principal objetivo é validar um teste rápido de detecção da doença, cujo resultado sai em 1h30. Pela técnica tradicional, o diagnóstico demora 30 dias em média. O total de recursos investidos pela Fundação Gates, ao longo de três anos, será de US$ 3 milhões.
 
Em 2010, o PNCT iniciou um projeto-piloto, em parceria com as secretarias estaduais e 13 municípios da Região Sul, com o objetivo de sensibilizar e capacitar equipes de profissionais de saúde para melhorar o diagnóstico e o tratamento oportuno de tuberculose em pacientes com HIV. Um dos resultados esperados é a definição de um modelo de avaliação clínica das pessoas com HIV/aids para a detecção precoce da tuberculose. Isso porque a tosse por mais de três semanas nem sempre é o sintoma mais frequente da doença entre essas pessoas.
 
A agência do governo dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional (USAID, na sigla em inglês) repassou US$ 750 mil ao projeto, que conta com a participação da organização não-governamental MSH, responsável pela execução financeira junto aos municípios.
 
Foram selecionados municípios com prevalência de 20% ou mais de casos de HIV em pessoas com tuberculose, percentual considerado alto pelo Ministério da Saúde. No Rio Grande do Sul, o projeto beneficiará Porto Alegre e outros nove municípios da Região Metropolitana (Alvorada, Cachoeirinha, Canoas, Esteio, Gravataí, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Sapucaia do Sul e Viamão). Em Santa Catarina, as cidades contempladas são Florianópolis e Itajaí; e no Paraná, o município de Paranaguá.
 
A DOENÇA – Importante problema de saúde pública, a tuberculose é uma doença causada pelo bacilo de Koch (Mycobacterium tuberculosis), que afeta vários órgãos do corpo, mas principalmente os pulmões. É transmitida pelo ar, quando o paciente tosse ou espirra. Os principais sintomas são tosse prolongada (por mais de três semanas) com ou sem catarro, cansaço, emagrecimento, febre (noturna) e suor noturno. Em 1993, a OMS declarou a tuberculose como uma emergência global.

fonte: correio da semana

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