24/07/2011 11:28
Mulheres com HIV e aids, que misturam a cor da pele, culturas, necessidades, ativismo, amores, vida e morte são como barro depois de passar pelo fogo. Isto é, ficam mais difíceis de quebrar e ganham belezura linda de se admirar quando decidem transformar a dor em trabalho de solidariedade.
Pois é, essa somos nós, mulheres do Brasil, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, que em 2008 em ação integrada da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e apoiadas pelo UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids), UNFPA (Fundo das Nações Unidas para as Populações) e governo brasileiro, através do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, decidimos nos unir e estabelecer agendas comuns para sobrevivermos às intempéries das olarias, formando a CM+LP – “Comunidade de Mulheres Posithivas de Língua Portuguesa.”
JR, iniciais do nome da coordenadora em Moçambique da rede de mulheres com HIV e aids Kuyakana, é uma obra de arte, que passou pelo fogo e estará em Salvador em julho para participar de uma oficina com a gente. Ela nos contou que em seu país há pessoas que acreditam que as mulheres são as causadoras da aids e que muitas são expulsas das suas casas pelo fato de terem HIV.
É devido a essa e tantas outras violações de direitos humanos que estamos somando esforços para nos fortalecermos individualmente. Se isso não for feito, casos como o da angolana Catarina e de muitas outras mulheres, cuja única alternativa para viver é fazer tratamento no Brasil, continuarão a existir e mais mulheres estarão exposta as intempéries e as vulnerabilidades.
Catarina foi um dos vasos quebrados em consequência do desamparo das políticas locais, discriminação e estigma.
Essas e tantas histórias justificam o nome da rede “Kuyakana” que em X-Chonga (língua do Sul de Moçambique) significa reconstrução e que para as 160 mulheres participantes do projeto significa: promover oportunidades de intercâmbio de experiências e mobilização conjunta para partilhar e proteger o direito humano de viver a vida nas suasmúltiplas nuances e caso queiram ou precisem reconstruí-la que tenha seusdireitos protegidos, seja com ou sem HIV e aids.
Para Catarina e para outras mulheres que já morreram em decorrência da aids, dedicamos o álbum “Mulheres em preto, branco e vermelho, que está sendo esculpido no âmbito do projeto “Saber para Reagir em Língua Portuguesa”, uma parceria entre sociedade civil, países da CPLP, ONU e a cooperação do governo alemão.
Com este projeto, esperamos contribuir para o fortalecimento das capacidades de atuação local, evitando que as esculturas de barro preciosas que somos se quebrem devido ao descaso das políticas de lá (continente africano) e de cá (Brasil).
Por:Nair Brito é integrante da Rede Nacional das Cidadãs Posithivas