03/08/2011 09:03
Na semana que vem completo 35 anos morando em Mato Grosso e em fevereiro deste ano completei 50 anos que cheguei a Brasília, vindo de Minas, pra estudar. Esse é um ponto desta conversa que se inicia hoje. O segundo, foi o encontro de governadores do Centro-Oeste, em Cuiabá, no dia 1º de agosto. A discussão foi reforma tributária e a posição regional sobre as perdas e os interesses da região em se defender a voracidade arrecadadora de impostos do governo federal.
Entre essas datas, penso que para se compreender esse novo Centro-Oeste de 2011 que começa a articular uma voz coerente e consistente, seja preciso retornar um pouco na História. Afinal, não se pode compreender o mundo de agora sem que se entenda a trajetória já feita. Tampouco se compreenderá o mundo que vem aí, se o presente não estiver bem conhecido.
Assim, tomo a liberdade de voltar no tempo até a década de 1950, quando o presidente Juscelino Kubitschek se elegeu presidente em 1955 com a promessa de mudar a capital do Brasil do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Naquele momento, o Brasil se resumia a três capitais de prestígio: Rio de Janeiro, Salvador e Recife. As demais eram meras cidades sem importância, incluindo São Paulo, contra quem os cariocas sacaneavam terrivelmente pelo caipirismo rural.
O presidente JK, quando planejou Brasília, disse num dos seus discursos: “Deste Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cérebro das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada, com uma fé inquebrantável e uma confiança sem limites no seu grande destino”. A partir de um discurso simplório feito na isolada e pequena cidade de Jataí, no interior do sertão goiano, nascia inesperadamente a promessa que se concretizaria com a inauguração de Brasília, como capital do Brasil, em 21 de abril de 1960.
O plano filosófico de Brasília era um tanto profético. De um lado, as visões místicas do presidente JK, sua crença na terceira profecia de Dom Bosco, que previa em 1883, na Itália, sobre o Planalto central brasileiro: “…Eu enxergava nas vísceras das montanhas e nas profundas da planície. Tinha, sob os olhos, as riquezas incomparáveis dessas regiões, as quais, um dia, serão descobertas. Eu via numerosos minérios de metais preciosos, jazidas inesgotáveis de carvão de pedra, de depósitos de petróleo tão abundantes, como jamais se acharam noutros lugares. Mas não era tudo. Entre os graus 15 e 20, existia um seio de terra bastante largo e longo, que partia de um ponto onde se formava um lago. E então uma voz me disse, repetidamente: ‘Quando vierem escavar os minerais ocultos no meio destes montes, surgirá aqui a Terra da Promissão, fluente de leite e mel. Será uma riqueza inconcebível’.”
Aliás, a história de Brasília é toda marcada de grandes coincidências astronômicas e proféticas amplamente explorada numa série de livros de escritores brasilienses e em alguns desabafos de seus fundadores e projetistas como Lúcio Costa e Alberto Silva, fora o próprio JK. Argumentam-se reminiscências egípcias nos elementos da formatação de Brasília.
Para se compreender esse Centro-Oeste que hoje olha o Brasil de frente como o maior produtor de comida do mundo, recorro a uma visão do professor Mangabeira Unger, ex-ministro de Estratégias de Longo Prazo, no Governo Lula, proferida no encontro dos governadores em Cuiabá: “O Centro-Oeste é o farol de ideias, de luz e de conhecimentos do Brasil!”. O assunto continuará pelos próximos artigos. Espero a sua paciência…!
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá e secretário adjunto de Comunicação Social de Mato Grosso