29/08/2011 11:46
Todo funcionário público deveria ser obrigado por lei a utilizar apenas os serviços públicos. Do faxineiro ao juiz, do lixeiro ao presidente. Quando os deputados ficam doentes, costumam ser internados no hospital Sírio Libanês, no Albert Einstein – se estiverem em São Paulo -, ou no Copa D’Or, se estiverem no Rio de Janeiro. Se o deputado adoece no Maranhão, por exemplo, ele voa até São Paulo para garantir o tratamento exclusivo reservado aos que têm dinheiro para pagar. Acho que é por isso que eles duram tanto na vida pública.
Imaginem se todos os juízes fossem obrigados a colocar os filhos na escola pública, se o Collor tivesse que andar de ônibus, se todo o clã dos Magalhães tivesse que recorrer aos pronto-socorros de Salvador. Seria importante também que a lei impedisse os funcionários públicos de morar em condomínios fechados. Nada de segurança privada. Senadores, deputados, vereadores, prefeitos… todos eles teriam que depender exclusivamente da segurança pública.
O dinheiro deles também teria que ser depositado em bancos públicos e ficar nos bancos públicos. Os filhos teriam que estudar para entrar na Universidade pública e assim por diante. Se as leis garantissem que os funcionários públicos só utilizassem serviços públicos, duas coisas poderiam acontecer: ou nos tornaríamos um país de primeiríssimo mundo, ou o Estado brasileiro seria extinto.
É bem mais provável acontecer a segunda opção. Pois os funcionários públicos de baixo escalão continuariam trabalhando duro, como a grande maioria deles sempre trabalhou. Mas o pessoal do alto escalão – aqueles que ganham salários estratosféricos e que decidem o rumo das coisas – teria que se comprometer e se esforçar muito para melhorar os serviços que eles e suas famílias passariam a utilizar. A preguiça e a incompetência iriam prejudicar esse processo e o funcionalismo público (pelo menos no que diz respeito aos cargos de alto escalão) perderia a graça. As pessoas começariam a desistir da carreira pública. O Estado tenderia a desaparecer.
Ou veríamos quem, realmente, corresponde àquelas ladainhas intermináveis – aqueles discursos empolados sobre princípios, dedicação, trabalho e desprendimento da própria vida.
No caso do Congresso, se desaparecesse, não faria a menor falta. Pense bem: que falta faria o Sarney na sua vida? E o Renan Calheiros? E o Almeida Lima? Você conseguiria viver sem o Paulo Maluf no seu cotidiano? Conseguiria, não é?
Esta semana, o Sarney e o Maluf importunaram o Brasil novamente. Fomos obrigados a acompanhar pelos jornais mais uma patetice do senhor feudal do Maranhão, que foi passear com o helicóptero da polícia em sua ilha particular, acompanhado de um empresário que tem participação em negócios com o governo do Estado cuja governadora é a sua filha. Já Maluf desistiu, na última hora, de confessar um crime. A Folha de São Paulo publicou a matéria com o seguinte conteúdo:
“Paulo Maluf, que vai celebrar 80 anos em 3 de setembro com pompa e estilo na Sala São Paulo, negociou ao longo de quase um ano acordo com a promotoria de Manhattan (EUA) para ter seu nome excluído do alerta vermelho, o lendário índex dos mais procurados da Interpol em todo o mundo. Em troca, o ex-prefeito e deputado pelo PP admitiria a autoria de um crime pela primeira vez na vida – no caso, delito classificado formalmente de falsificação de registros contábeis praticado nos Estados Unidos.” Um cara que “dá balão” na promotoria de Nova York e que tem o nome na lista dos mais procurados da Interpol não poderia ocupar um cargo público no Brasil. De maneira nenhuma. Dane-se que ele não tem condenação.
O melhor para o Brasil seria que todo esse pessoal se aposentasse e desse lugar para uma nova geração de parlamentares. Não é tanta utopia quanto parece. Nos últimos tempos, assistimos a uma reforma substancial na qualidade dos novos juízes e promotores. Há uma nova geração no judiciário que veio com um novo vigor e está fazendo a diferença. Por que isso seria impossível com os senadores e deputados?
O autor, Luís Paulo Domingues, é colaborador de Opinião