Após denúncias, Silva se reúne com Dilma e foge da imprensa

06/09/2011 10:27

O ministro do Esporte, Orlando Silva, passou quase toda a tarde de ontem no Palácio do Planalto. A audiência que teve com a presidente Dilma Rousseff começaria às 15h, mas teve um atraso de uma hora. O encontro, cujo tema não foi divulgado pela assessoria da Presidência, durou quase duas horas. Após a reunião, Orlando Silva preferiu sair pela garagem do Palácio do Planalto sem falar com a imprensa.

Antes do encontro, membros do governo davam como certo que as recentes denúncias contra o ministério estariam na pauta. Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo divulgou que a pasta comandada por Orlando Silva assinou um convênio com um sindicato de cartolas para cadastramento de torcidas organizadas por R$ 6,2 milhões. Porém, nenhum trabalho foi feito até o momento.

De acordo com a assessoria do Ministério do Esporte, Orlando Silva foi tratar de assuntos relacionados a Copa do Mundo de 2014. O ministro teria ido ao encontro de Dilma para informar a presidente sobre o andamento das construções dos estádios que abrigarão jogos do mundial de futebol.

Convênio suspeito

Com o objetivo de cadastrar torcidas organizadas para a Copa, o ministro Orlando Silva contratou, sem licitação, o Sindafebol, entidade comandada pelo ex-presidente do Palmeiras Mustafá Contursi. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo na quarta-feira (31).

Em sua justificativa, o ministério afirma que “o projeto traz em seu contexto que é preciso aproveitar a mobilização nacional para mudar o ambiente social, a cultura e o comportamento que existe em torno do futebol como uma ação de preparação do Brasil para a Copa das Confederações 2013 e da Copa do Mundo Fifa 2014.”

O problema começa já com a habilitação do Sindafebol para prestar o serviço. De acordo com o jornal, o ministério recomendou a contratação da entidade com base em uma declaração de capacidade técnica apresentada pelo próprio sindicato. Mas Contursi, ainda de acordo com a publicação, reconhece que não tem capacidade para tocar um projeto como esse.

Para piorar o quadro desenhado por Orlando Silva, o Sindafebol decidiu subcontratar outras empresas para desempenhar o trabalho pelo qual havia fechado o convênio. Segundo o jornal, o sindicato repassaria R$ 3,3 milhões à empresa Mowa Sports para desenvolver o software do cadastramento, locação de equipamentos eletrônicos, entre outras coisas.

Outra empresa, a Closer Soluções Inteligentes e Consultoria Empresarial, receberia R$ 1,3 milhão dos cofres públicos pelo fornecimento de mão de obra, incluindo atendentes, supervisores e coordenadores, para o cadastramento das torcidas organizadas em todo o país. Procuradas, as duas empresas negaram ter assinado qualquer contrato com o Sindafebol.

Contursi rebateu a declaração das empresas ao afirmar que ainda não assinou qualquer contrato para a execução dos trabalhos.

– São orçamentos que foram feitos. Para contratar tem que começar a pagar. E no momento em que eu pagar, elas têm de trabalhar.

Convocação

No Congresso, as denúncias serviram para aumentar o coro dos que pedem a instalação da CPI da Corrupção, para apurar todos os possíveis malfeitos cometidos dentro do governo. Especificamente entre a oposição, no entanto, o discurso contra Orlando Silva é de rechaço, como afirma o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

– O ministro é enrolado há muito tempo. Ele tem um monte de coisa esquisita desde a época em que trabalhava com o Agnelo [Queiroz, ex-ministro] no ministério. Ninguém entendeu porque a Dilma não o incluiu no pacote da faxina, porque são várias denúncias contra ele, o tempo todo. A agilidade que ele não tem para concluir as obras das Olimpíadas e da Copa, retardando para poder fazer aditivos, ele demonstrou agora nesse sumidouro do dinheiro público, que é gasto com fantasma.

O clima não é favorável nem mesmo entre os governistas. O senador Humberto Costa (PT-SP), líder do governo na Casa, afirmou que espera uma explicação do ministro sobre as denúncias. O discurso foi acompanhado pelo líder do PR na Câmara, deputado Lincoln Portela (MG).

– Eu sempre fui a favor de que todas as denúncias têm de ser apuradas. Eu defendi a apuração das coisas no Ministério dos Transportes, trouxe as pessoas para fazerem esclarecimentos na Câmara, e até assinei a CPI da Corrupção. Um homem público tem de dar explicações, senão não é um homem público.

O líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira, afirmou ao R7 que vai apresentar uma representação na Procuradoria-Geral da República contra o ministro e pedir ao Ministério Público abertura de inquérito. Além disso, vai requerer ao TCU (Tribunal de Contas da União) uma auditoria especial no contrato, com pedido de medida cautelar congelando o uso do dinheiro.

– Vamos convocar o Orlando Silva para falar nas comissões de Fiscalização e Controle e na de Desporto e Turismo. Isso já era esperado. Os problemas com ele se sucedem.

Na quinta-feira (1), após reunião entre o secretário nacional de futebol do ministério, Alcino Reis, e Mustafá Contursi, o convênio foi mantido sem alterações de preço ou prazo.

Fonte: R7

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