Éder pede para Silval tomar cuidado e se acha “traído”

18/04/2012 11:03

O secretário Eder Moraes recebeu a reportagem do Diário em seu gabinete, às 17h30 de ontem. Naquele momento, ainda eram grandes as discussões sobre uma possível demissão. Na entrevista, ele diz que o governador Silval Barbosa (PMDB) tem recebido diversas pressões pela sua demissão, porém não citou nomes.

Ele negou que estivesse por trás da reportagem do semanário Circuito MT, que publicou uma edição extra afirmando que o cargo do conselheiro Alencar Soares no TCE estaria sendo comprado por R$ 12 milhões.

Sobre sua permanência no cargo, o secretário garantiu que esta é uma decisão do governador Silval. Leia abaixo os principais trechos da entrevista:

Diário de Cuiabá – Os rumores sobre sua saída da Secopa têm fundamento?

Eder Moraes – Eu, como todo e qualquer secretário de governo, estou no governo sob o comando de um chefe maior do Poder Executivo, que é o governador Silval Barbosa. O meu cargo está à disposição dele e ele toma a decisão que melhor lhe aprouver. Se ele entende que devo sair da Secopa, eu vou sair sem o menor problema. Se ele entende que devo ficar, ficarei. O que não pode acontecer são pressões de todos os cantos, veladas e ocultas, interesses políticos e outros interesses. Tentarem de maneira não-republicana interferir aqui no processo da Copa. Isso eu não vou aceitar. O segundo ponto é que cabe única e exclusivamente ao governador a nomeação ou exoneração de secretário. A decisão é dele. Tenho consciência do meu trabalho. Tenho a nítida e clara convicção de como estava a situação quando assumi e como está hoje. Convivo com dificuldades orçamentárias e financeiras e atuo, sobretudo, na efetiva resolução dos problemas da Pasta. E, para isso, tenho procurado fazer as coisas da melhor maneira possível, respeitando os preceitos legais.

Diário – O senhor disse que o governador está sofrendo pressão, inclusive de vários poderes… Isso tudo para pedir a sua saída?

Eder – O que chegou ao meu conhecimento é que alguns setores da política mato-grossense estavam pressionando pela minha saída. Parte de outros poderes também, com interesses não-republicanos, pediu pela minha saída. Quando eu digo não-republicanos, estou dizendo que foram contrariados interesses nas mais diversas áreas. Tenho certeza também de que, para o governador, seja um incômodo estar constantemente recebendo esse tipo de pressão. Por isso, cabe a ele tomar a decisão que entender ser melhor para o Estado.

Diário – O deputado José Riva e o presidente do TCE, José Carlos Novelli, teriam se reunido com o governador e feito esse pedido. Isso é verdade?

Eder – Assim como você, eu também recebi essa informação, mas eu não posso garantir com certeza se houve isso ou não. O que há, na verdade, é gente ao redor do governador, o fogo-amigo, aqueles que dão tapinha nas costas e que te apunhalam no menor descuido. Aqueles que enchem nossos caminhos de laços para pisarmos de forma errada. Mas eu, em nenhum momento, tenho compactuado com qualquer tipo de situação dessa natureza. Tudo o que acontece dentro do governo e que, de alguma forma, incomoda algum colega secretário ou atinge alguma área de governo é por eu ter construído uma imagem do embate, coragem, enfrentamento e de ser franco. Por isso, costumam atribuir essas situações à minha pessoa, o que é uma injustiça. O que eu tenho para falar eu falo na cara, e não pelas costas. De uma maneira geral, nosso trabalho tem dado alta resolutividade ao Estado em todas as áreas em que passei. Construí, fundei a MT Fomento, fiz na Sefaz um trabalho jamais feito na história de Mato Grosso que me rendeu até hoje muitos inimigos que atuam nesse momento contra a nossa permanência no governo das mais diversas formas, usando seu poderio econômico e político no processo. Também, como chefe da Casa Civil, fiz muitas alterações e mudanças estratégicas no governo que foram acatadas pelo governador. Sofri muito e sofro com fogo-amigo por conta disso. Vim para a Agecopa numa situação de total turbulência e fizemos todas as adequações necessárias. Hoje, é uma secretaria organizada, com todas as obras saindo do papel e com trabalho reconhecido pela sociedade. Há um incômodo natural daqueles que são parasitas do poder, que mamam nas tetas do governo e não querem ser incomodados. Daqueles que, de forma letárgica, atuam no governo, mas, de forma extremamente rápida, atuam no sentido da inveja. Isso tem atrapalhado nosso trabalho. Então, se eu sou o problema, se aqui onde apontamos as soluções é que incomodam aqueles que estão em inércia no governo, deixo o governador à vontade para tomar a decisão que quiser tomar.

Diário – Pode citar nomes?

Eder – Não vou nominar pessoas, mas a sociedade sabe exatamente do que estamos falando. Chegou o momento de decidir se eu destravo as obras da Copa ou se enterra tudo isso.

Diário – José Riva e José Carlos Novelli teriam pedido ao governador sua saída porque o senhor teria patrocinado um jornal, afirmando que a vaga do conselheiro Alencar Soares, no TCE, teria custado R$ 12 milhões.

Eder – Não procurei jornal nenhum para tratar desse assunto. Atendo a toda imprensa de Mato Grosso. Pelo contrário, atuo nos bastidores pedindo a vários veículos de comunicação que noticiem aquilo que é de positivo no governo. Sou, na verdade, uma pessoa que tem lealdade absoluta ao governador. Agora, aquilo que está construído ao redor do governador está arruinando o governo de Mato Grosso. Ele tem que tomar muito cuidado com isso.

Diário – A vaga no TCE está sendo negociada?

Eder – Eu não posso afirmar isso. Isso só pode ser dito pelo próprio Sérgio Ricardo [deputado que deve assumir o posto] ou por aquele que está saindo para lhe ceder a vaga. Eu respeito o Tribunal de Contas de Mato Grosso, o conselheiro Novelli é um amigo. É uma pessoa pela qual nutro o maior respeito e com quem tenho boa relação, como com todos os demais conselheiros. Então, não adianta atribuir a mim qualquer crise na Corte de Contas. Isso é um modelo arcaico de se tentar ‘melar’ a nossa conduta, a nossa forma de trabalhar, visando barrar qualquer futuro, que poderia passar, inclusive, por uma ida nossa para o Tribunal de Contas.

Diário – O senhor tem interesse em assumir uma vaga no TCE?

Eder – Tenho interesse em continuar servindo à sociedade mato-grossense. Fiz isso a vida toda e acho que fui muito produtivo para a sociedade. O Tribunal de Contas, ou qualquer outra colocação, remanejamento, demissão, saída, são consequência da vida pública e vou aguardar isso com a maturidade e a parcimônia de gestor que adquiri durante esses 11 anos de vida pública.

Diário – Informações de bastidores dão conta de que um possível interesse do senhor em assumir uma vaga no TCE é que estaria gerando essa crise. O que há de verdade nisso?

Eder – Eu nunca negociei vaga em Tribunal de Contas e acho que só o fato de falar negociar já não é correto. As vagas na Corte de Contas têm que surgir de forma natural, pela aposentadoria de um dos pares daquela Corte ou por qualquer motivação que se justifique para a sociedade. Agora, eu não tenho nada a ver com ida ou não do Sérgio Ricardo para o TCE, se o Sérgio Ricardo vai ou não disputar a presidência da Assembleia. Essa é uma decisão de foro íntimo dele.

Diário – Se abrisse uma vaga de forma natural no TCE, o senhor iria para lá?

Eder – Se eu tivesse a indicação do Poder Executivo e a aprovação do Poder Legislativo, eu iria conversar com o governador Silval Barbosa para ver se é de concordância dele uma ida nessas condições.

Diário – O senhor conversou com o governador sobre esse assunto quando se reuniu com ele pela manhã [de ontem]?

Eder – Conversei com ele deixando-o absolutamente à vontade para tomar decisão que desejasse tomar. Disse que não queria estar no governo de forma que fosse atrapalhar seu governo. Então, ele avalia se eu somo, se estou dividindo ou diminuindo.

Diário – O governador sugeriu a sua saída?

Eder – Não chegamos a esse ponto. Ele está em Brasília e na sua volta vamos tratar desse assunto em uma discussão mais ampla. Mas volto a dizer que é uma decisão do governador.

Diário – Por que o senhor não foi com ele a Brasília?

Eder – Ele me fez o convite para que o acompanhasse a Brasília, mas justifiquei que estou cuidado de cinco processos licitatórios de suma importância. E há a necessidade da minha presença aqui.

Diário – O senhor se sente traído?

Eder – (pausa) Eu me sinto… [neste momento, os olhos de Eder se enchem de lágrimas]. Sua pergunta é de difícil resposta. Vou deixar a resposta na consciência da sociedade mato-grossense. Estou absolutamente tranquilo, embora extremamente alvejado por todos os lados com denúncias apócrifas, anônimas, meramente para tumultuar o processo. Há muitos obstáculos colocados, mas aprendi com meus pais que, quando se coloca Deus à frente, tudo se torna possível.

Fonte: Diário de Cuiabá

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