Saiba como incubadoras podem ajudar startups de tecnologia

27/04/2012 10:16

Os longos corredores do prédio de concreto aparente do Cietec (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia) remetem ao ambiente acadêmico. Não poderia ser diferente, pois estão localizados no campus da Universidade de São Paulo (USP). Mas suas 90 salinhas, posicionadas lado a lado e empilhadas em quatro pavimentos, não abrigam alunos e professores e, sim, embriões de boas ideias. Maior incubadora da América Latina, o Cietec foi criado em 1998 e já transformou em empresas mais de 100 projetos promissores. Atualmente, mantém 114 negócios, tocados por 922 pessoas. A missão de uma incubadora como o Cietec é oferecer infraestrutura e ferramentas de gestão para empresas nascentes, principalmente as que têm por trás uma inovação tecnológica. “Para entrar numa incubadora é preciso inovar. Pode ser um produto, um processo ou um serviço”, diz Tony Chierighini, diretor da incubadora Celta (Centro Empresarial Para Laboração de Tecnologias Avançadas), de Florianópolis (SC). No Brasil existem cerca de 400 incubadoras em atividade, com 6 300 empresas em criação ou já no mercado. Somadas, movimentam 3,5 bilhões de reais por ano. A concorrência por uma vaga nas incubadoras é grande. A cada edital publicado, em média três candidatos a empresário disputam o espaço.

Nas que adotam processo contínuo de seleção, há filas com mais de dez empresas esperando por uma oportunidade. Quem tem planos de se inscrever num desses processos seletivos deve ficar atento aos editais e aos requisitos, que diferem entre um e outro. Alguns, como o do Cietec, exigem que os sócios façam um curso para a elaboração de um plano de negócios.

Começar a empresa em uma incubadora pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma boa ideia. Mas nem todas prosperam. Depois de sair das salinhas do Cietec, por exemplo, entre 5% e 10% dos projetos fracassam após dois anos. Esse número é bem menor que o índice de mortalidade das pequenas e médias empresas criadas fora dessa proteção, hoje de 27% nos primeiros dois anos, segundo o Sebrae.

Apoio às boas ideias – Boa parte das incubadoras tem base tecnológica, mas também há modelos sociais, culturais e mistos, tanto públicos quanto privados, com iniciativas ligadas a prefeituras, universidades e fundações. Aos empreendedores é fundamental analisar qual modelo de incubadora é mais adequado ao seu negócio, seguindo os mesmos princípios de quem busca um investidor.

Em 63,8% dos centros de inovação, a atenção aos incubados é contínua, com consultoria em tempo integral. Entre os serviços oferecidos também constam cursos de capacitação gerencial e orientação para obter investimento.

O dentista peruano Israel Cabrera, 40 anos, viu seus planos de trabalhar com bioengenharia decolarem quando teve seu projeto aprovado pelo Cietec, há quatro anos e meio. Sua ideia era original: criar polímeros sintéticos que estimulam a rápida regeneração dos ossos. Podem ser colocados, por exemplo, na cavidade deixada por um dente perdido, para facilitar a realização de um implante. Prestes a deixar a incubadora, a Bioactive, empresa de Cabrera, vai ter sede própria e se prepara para vender seus produtos a países europeus e asiáticos, além dos Estados Unidos. Os nove funcionários atuais deverão saltar para 20 em alguns meses e um contrato já foi assinado com um fundo nacional de venture capital.

“Uma das principais vantagens da incubadora foi a assistência jurídica para obter todos os documentos da empresa”, diz Cabrera. Outro ponto importante é a formação em gestão empresarial oferecida pelo Cietec, em parceria com o Sebrae. “Um acadêmico como eu não sabe, por exemplo, estabelecer preço para os produtos”, afirma Cabrera. A Bioactive está no último estágio de incubação, o da graduação. É o momento de cortar o cordão umbilical e se aventurar em voo solo.

Os projetos em estágio inicial ficam na pré-incubação. Ganham espaços menores e normalmente os sócios não vão todos os dias à incubadora. No passo seguinte, o da incubação, as empresas permanecem por um período que varia entre dois e três anos. Em algumas incubadoras, dois anos é o prazo máximo. Em outras, esse tempo é indefinido, o que eleva a média para até cinco anos. Durante a incubação o espaço aumenta, pois os sócios podem contratar funcionários ou buscar parceiros.

Mas permanecer muito tempo não é bom para o negócio. “A incubação deve ser transitória. O empreendedor não pode entrar numa zona de conforto e adiar o tempo de ir para o mercado”, diz Alagui Marques, gerente executivo do Cedin (Centro de Desenvolvimento de Indústrias Nascentes), de São Carlos, no interior paulista. Durante a fase de incubação, as empresas arcam com o aluguel do espaço e alguns serviços, como luz e telefone. Esses custos variam de acordo com o tempo de incubação. No Celta, de Florianópolis, o valor gira entre 15 e 30 reais por metro quadrado. Na incubadora Raiar, localizada no Tecnopuc, da PUC-RS, o valor médio para cada uma das 30 startups incubadas é de 420 reais mensais. Há ainda o modelo de empresas associadas, que usam os benefícios da incubadora, mas estão em suas próprias sedes.

Um ponto positivo do processo é a troca de experiências. Observar os acertos – e mais ainda os erros – dos vizinhos pode valer muito mais do que a consultoria da incubadora. O ambiente estimula parcerias e o desenvolvimento de soluções conjuntas.

Um problema ainda a ser vencido pelo sistema é a falta de recursos e, muitas vezes, de profissionalismo. Para tentar melhorar esse quadro, a Anprotec, associação que reúne as incubadoras brasileiras, e o Sebrae criaram o Cerne (Centro de Referência para Apoio a Novos Empreendimentos), que funcionará como uma certificação das incubadoras. “Será possível aumentar a efetividade dos processos, atender mais empresas e acelerar o crescimento”, diz Guilherme Ary Plonski, membro do conselho consultivo da Anprotec. “É preciso avançar na profissionalização”, afirma Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae.

Uma consequência esperada desse processo é a atração de capital privado. A falta de investimentos privados para se consolidar e ganhar escala é o principal desafio enfrentado pela Sencer, uma startup incubada no Cedin, em São Carlos. A empresa desenvolve sensores cerâmicos para aferir a umidade do solo, um equipamento importante para lavouras, especialmente as que usam sistemas automatizados de irrigação. O sensor da Sencer não tem concorrente nacional, mas é ainda um protótipo. “Este ano vamos trabalhar na abertura para o mercado. É hora de buscar investimentos”, diz Sonia Zanetti, 54 anos, engenheira química que comanda a empresa.

Iniciativas criativas começam a dar novo fôlego às incubadoras. O Cietec e a prefeitura paulistana criaram a São Paulo Ideias Novas (Spin). Aberto a estudantes de várias universidades, o projeto selecionará até 100 ideias para habitação, sustentabilidade, mobilidade e transporte. “No futuro esperamos que cada universidade tenha sua incubadora”, diz Sérgio Risola, diretor do Cietec.

Outra iniciativa vem da Microsoft, que assinou com o Ministério da Ciência e Tecnologia um protocolo de intenções para abrir seis incubadoras no país. Elas se concentrarão em startups nas áreas de games, mobilidade, petróleo e gás, saúde e educação. Exemplos como esses mostram que as incubadoras devem se consolidar como importantes vitrines da inovação no país.

Fonte:Info

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