Opinião – Adeus às metas de inflação

16/10/2015 15:17

O sistema de metas de inflação foi impantado no Brasil na gestão Armínio Fraga no Banco Central, através de um Decreto (3088/99) assinado pelo então Presidente FHC. O introdutor do sistema foi o então Diretor de Política Econômica do Banco Central, Sergio Werlang, que depois de sair do BC foi ser Vice Presidente do Banco Itaú. O sistema é um derivado do “modelo monetarista” e decorre de um axioma de Milton Friedman, em “A Contra Revolução da Teoria Monetária” de 1970. Dizia Friedman que “A inflação é sempre e em todo o lugar um fenômeno monetário e só pode ser produzida por uma expansão muito rápida da quantidade de moeda maior que a produção”.
Esse axioma pressupõe uma economia de livre mercado e sem interferência governamental nos preços. Se esta existir o axioma deixa de ser verdadeiro. Preços administrados causam inflação mesmo sem expansão monetária, é o que ocorre hoje no Brasil, a inflação de 2015 decorre do brutal aumento das tarifas de energia e combustíveis.
O problema da importação de modelos é esse. Em economia há conceitos e circunstâncias, não só conceitos, como pretendem os mestrandos em economia que saem do Brasil para estudar nos Estados Unidos e voltam com conceitos sem reparar nas circunstâncias do seu País, que são diferentes dos EUA, como qualquer outro País tambem.
Ontem a economista Monica de Bolle, de primeira linha e do círculo Millenium-Casa das Garças, portanto com credenciais impecáveis propôs o impensável: o abandono do sistema de metas de inflação, algo que venho propondo há dez anos em livros e artigos porque é um sistema que não convêm ao Brasil por circunstâncias.
A proposta é lógica, mas seu corolário é vicioso. De Bolle propõe abandonar a meta MAS para combater a inflação propõe queimar reservas cambiais para evitar que o dólar suba. Mais que um erro, é uma loucura. As reservas são a última trincheira da economia brasileira, sem elas haverá crise cambial e esta, como diz o sábio Mario Henrique Simonsen, “a inflação aleija mas a crise cambial mata”.
O sistema de metas de inflação foi concebido pelo sistema financeiro para a defesa de sua liquidez e de seus ativos em papel, que dependem mais que qualquer outro setor, da estabilidade da moeda. O único ativo dos bancos é papel financeiro, com inflação ele perde valor e ganham os devedores. Para o industrial não é tão grave, seu ativo são máquinas e estoques físicos, prédios e marcas, com inflação a correção é automática.
O problema do sistema é que torna-se a variável-mestre da economia e em torno dessa variável se traçam as outras políticas, especialmente a taxa de juros. É a conta de juros mais os swaps cambiais o maior custo do orçamento brasileiro, muito maior que todos os demais itens. É essa conta que existe para defender a “meta de inflação” que causa a recessão hoje invencível sem mudar os vetores que alimentam a recessão e o desemprego.
O abandono das metas de inflação é necessário para reativar a economia estagnada. Esta só pode ser vitaminada por expansão monetária que faz voltar a renda, a demanda, o emprego e o crescimento. O custo disso será mais inflação, mas este custo é suportável se voltar o emprego, que cria demanda e crescimento, depois volta-se a programar o controle da inflação com ou sem metas mas com as variáveis centrais da economia nos seus lugares, com emprego e arrecadação provocada pela reativação da economia os ajustes são faciveis.
Mas há um axioma, com o atual Plano jamais haverá crescimento da economia, para isso é necessário o oposto do Plano Levy, expansão monetária para fazer girar a capacidade ociosa em todos os setores, provavelmente a inflação nem subirá significativamente por causa da sobra de capacidade existente na indústria e nos serviços.
Fico feliz que uma economista do nível de Monica De Bolle tenha chegado a mesma conclusão embora sua segunda ferramenta seja absurda, não se queimam reservas para salvar a inflação, esta é menos importante que as reservas.
Na normalidade da vida de um País, a estabilidade monetaria deve ser o padrão, mas há tempos em que é preciso expandir a moeda para relançar a economia e nesse caso a inflação fica em segundo plano, depois cuida-se dela.

Por André Araújo em Jornal GGN

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