Bancos centrais têm a chave para crescimento, dizem investidores

28/10/2015 00:20

Os executivos de investimentos de alguns dos maiores fundos de investimento familiares e bancos de gestão de patrimônio mostram otimismo cauteloso quanto aos mercados, as perspectivas de continuação da alta nas ações e a economia mundial.

Seis vice-presidentes e estrategistas de investimentos estão em geral de acordo quanto às grandes tendências que devem dominar os próximos 18 meses, e que efeito elas terão sobre suas alocações de ativos.

Sem exceção, eles favorecem as ações dos países desenvolvidos de preferência às ações de mercados emergentes, que estão mostrando baixo desempenho, e alguns estão elevando suas alocações a empresas de capitalização média, enquanto outros acreditam que fundos de hedge, grupos de capital privado e companhias de infraestrutura valem apostas, em sua caça por retornos em um mundo onde os rendimentos são historicamente baixos.

Na opinião deles, o risco é a desaceleração da economia da China, e determinar se sua aterrissagem será suave ou dura, bem como os efeitos da reversão da política monetária extraordinária que surgirão quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) conduzir sua primeira elevação de juros em uma década.

O banco central dos Estados Unidos parece deter a chave, e o debate gira sobre o momento em que a instituição apertará sua política monetária, e os efeitos dessa ação sobre o dólar forte e os frágeis mercados emergentes, que podem solapar o crescimento e a recuperação mundiais.

Em resumo, os administradores de investimentos dizem que as decisões dos bancos centrais, não só nos Estados Unidos mas na Europa, Japão e China, nos próximos 18 meses, podem se provar críticas para as perspectivas econômicas de longo prazo e a saúde do sistema financeiro, e que recessão é uma distinta possibilidade caso eles tomem as decisões erradas.

Eric Verleyen, diretor de investimento do Société Générale Private Banking:

“Acreditamos que a recuperação dos Estados Unidos seja sustentável e não acreditamos que a aterrissagem da China será dura. Os mercados de ações e os resultados das empresas dos países desenvolvidos devem continuar a apresentar desempenho positivo”.

“Preferimos ações aos títulos porque acreditamos que as empresas vão gerar receita e crescimento e os ativos de risco se beneficiarão, o que significa que em geral conferimos mais peso às ações e menos peso aos titulos”.

“Antecipamos uma recuperação nas economias da zona do euro, com ajuda da política monetária acomodatícia do Banco Central Europeu (BCE), que deve ajudar o crescimento. Por esse motivo, estamos conferindo peso adicional às ações europeias”.

“Também estamos dando peso adicional a ações japonesas, com base na visão de que a aterrissagem será suave na China, o que beneficiará o Japão, que portanto deve ver recuperação”.

“Quanto às ações dos Estados Unidos, somos neutros. Os Estados Unidos estão crescendo e a economia parece relativamente forte, mas as ações estão caras”.

“Quanto aos títulos do governo, a normalização está a caminho e esperamos que os juros dos Estados Unidos subam rapidamente. Como investidor em títulos do governo, portanto, você sofrerá quando a política monetária for apertada”.

“Os títulos dos governos não oferecem grande valor, com rendimentos tão baixos, e por isso nos inclinamos a optar por títulos de empresas, por conta do rendimento mais alto, especialmente porque não acreditamos que o nível de inadimplência suba, já que antecipamos que a economia dos Estados Unidos continue a crescer pelos próximos 18 meses”.

“Em geral, conferimos peso mais baixo aos mercados emergentes, onde a queda nos valores das commodities está tendo grande influência. Por isso, somos mais favoráveis a ações asiáticas, quanto às quais nossa posição é neutra, mas não gostamos das ações da América do Sul. Também conferimos peso mais baixo ao leste da Europa”.

“Quanto ao câmbio, o dólar parece que manterá a força enquanto o euro provavelmente se manterá fraco, o que significa que acreditamos em reter dólares e ações de empresas norte-americanas, denominadas em dólares”.

“O consumidor se beneficiará da baixa das commodities, o que significa que gostamos de setores vinculados ao consumidor, tais como bens de consumo não obrigatório e os grupos de bens de luxo. Ações cíclicas ligadas aos consumidores e à recuperação são investimentos válidos”.

“Na frente alternativa, gostamos de fundos de hedge. Acreditamos que eles apresentarão desempenho melhor em um mercado de maior diferenciação, no qual o relaxamento quantitativo não seja tamanha influência, e as economias bem administradas estarão em vantagem´.

Willem Sels, UK diretor de estratégia de mercado do HSBC Private Bank:

“Nós rebaixamos as ações internacionais em maio porque estávamos preocupados com os mercados emergentes. Por isso, estamos conferindo peso adicional a manter dinheiro em caixa, temporariamente”.

“Também aumentamos nossas posições de crédito e em fundos de hedge, enquanto nossas alocações para as ações são em geral neutras”.

“Damos peso maior às ações europeias e esperamos crescimento forte nas receitas das empresas europeias este ano. As avaliações das ações europeias estão baixas em relação aos Estados Unidos, mas são justas em termos gerais. A política monetária também é benéfica na Europa”.

“No crédito empresarial, o peso que damos é mais alto. Apreciamos particularmente o espaço de sobreposição entre empresas com classificação de investimento e alto rendimento – empresas com classificação BBB ou BB. Esses ativos fazem sentido, se você é um investidor que compra ativos para reter e não está preocupado com liquidez. Elas oferecem rendimentos relativamente altos, mas liquidar posições não é tão fácil. Acreditamos que a economia dos Estados Unidos crescerá, e que o ambiente básico é muito benigno em termos de inadimplência.

“Também conferimos peso adicional aos fundos de hedge porque eles são uma categoria de ativos sem correlação, e estamos em um ambiente de alta volatilidade, que os fundos de hedge poderão explorar. Gostamos do setor de capital privado. Não é fácil aplicar e sacar dinheiro do setor de capital privado, mas precisamos criar valor no mercado de ações e o setor de capital privado cria valor”.

“Há muito nervosismo sobre a China, mas acreditamos que nos próximos 18 meses o país se estabilize, o que ajudará as ações”.

“A China pode ajudar sua economia ao elevar os gastos com infraestrutura e cortar os juros, e a moeda pode se depreciar um pouco mais, ainda que não antecipemos queda forte. Isso deve ajudar os mercados a ganhar confiança em que a desaceleração do crescimento chinês será gradual, mas não significa que não haverá aterrissagem dura”.

“Não antecipamos uma queda forte das ações, e tampouco uma alta forte. O mais provável é que elas se movimentem lateralmente, e no momento estamos na porção mais baixa desse movimento”.

“Quanto ao dólar, acreditamos que a primeira elevação de juros já tenha sido incorporada aos preços, e que o dólar seja a moeda mais supervalorizada, de modo que seria difícil para ele subir ainda mais”.

“Conferimos peso mais baixo às ações de mercados emergentes devido à falta de clareza quanto à China em curto prazo, e o mesmo se aplica aos títulos de governos porque acreditamos que seus rendimentos sejam baixos demais para propiciar retornos decentes”.

Bruce Stewart, diretor de investimento do BNY Mellon Wealth Management:

“Primeiro, a tendência geral favorece as ações dos países desenvolvidos de preferência a ações de países em desenvolvimento. A decisão mais óbvia nesse tipo de ambiente e no médio prazo, pelos próximos 18 meses, é baixar o peso dos mercados emergentes por causa de seus problemas”.

“No entanto, não acreditamos que os mercados emergentes sejam uma categoria homogênea de ativos. O leste da Europa e a Ásia emergente estão se sustentando bem, ao contrário da América Latina, onde existem muitos problemas”.

“Em termos simples, você precisa considerar os exportadores líquidos e os importadores líquidos de energia. Por exemplo, a Índia está se saindo bem e o Brasil nem tanto”.

“Nas ações como um todo, estamos realocando capital das ações de grande capitalização para as de média capitalização. Gostamos destas últimas porque ficam bem no meio do caminho entre pequenas e grandes empresas. Têm qualidade superior às ações de pequenas empresas mas oportunidade de crescimento maior que as de grandes empresas. Levando em conta o risco, ações médias são as nossas preferidas”.

“Na frente do câmbio, temos um clima de dólar forte e euro fraco, e acreditamos que isso vá continuar por algum tempo, o que pode tornar atraentes os ativos denominados em dólares”.

“Nos títulos, gostamos de títulos com taxas variáveis, para compensar a alta esperada nos juros dos Estados Unidos. Temos posições vendidas em títulos do Tesouro norte-americano e posições compradas no índice agregado de títulos dos Estados Unidos, uma ampla coleção de títulos de renda fixa, que inclui papéis com classificação de investimento e outros”.

“Outra tendência entre alguns clientes dos gestores de patrimônio familiar é segurar dinheiro vivo e esperar por boas oportunidades de investimento”.

Anton Sternberg, chefe de investimento de Stonehage Fleming:

“Estamos bem otimistas quanto às ações pelos próximos 12 meses ou pouco mais. Vemos as ações de maneira construtiva, e com foco. Nossa exposição a ações em todo o mundo se concentra em companhias que operam com base em ideias, com fortes convicções e boa qualidade defensiva, e boa exposição a mercados de consumo”.

“Agrada-nos ter companhias expostas a mercados emergentes sem que elas sejam companhias dos mercados emergentes. Queremos crescimento decente e dividendos decentes”.

“Os mercados emergentes continuam a ter grande potencial e ainda oferecem oportunidades. Temos companhias com exposição a mercados emergentes, como a Nestlé e a AB InBev, porque são empresas de qualidade”.

“Os títulos nos interessam menos. Nossa opinião quanto aos títulos foi contraditada porque os rendimentos continuam baixos, mas para nós é difícil manter uma opinião construtiva quanto aos títulos. Temos alguma exposição ao crédito”.

“Se você tiver de considerar a situação em base analítica, gostamos dos Estados Unidos porque a economia parece saudável e deve crescer em médio prazo. Portanto, vemos construtivamente as companhias sediadas nos Estados Unidos”.

“Acreditamos em uma recuperação lenta nos Estados Unidos, que beneficiará a redução das dívidas dos consumidores e o dividendo do preço do petróleo, mas ainda não estamos otimistas quanto às commodities e não temos investimentos em mineradoras porque acreditamos que a fraqueza das commodities seja uma tendência que persistirá”.

“Conferimos peso mais baixo aos títulos e não temos opinião forte sobre o câmbio”.

“Nos investimentos alternativos, o patrimônio familiar multigeracional e de longo prazo torna ações de empresas privadas, títulos de dívida privada, infraestrutura e ativos imobiliários atraentes, já que a falta de liquidez não preocupa esses investidores”.

Simon Smiles, diretor de investimento do UBS Wealth Management:

“Vimos maior volatilidade nas últimas semanas, o que é preocupante porque isso acontece diante de um pano de fundo de menor volatilidade. Mas acreditamos que as tendências gerais de investimento ainda favoreçam amplamente as ações dos países desenvolvidos”.

“Damos peso maior às ações internacionais, ações japonesas e ações europeias. O crescimento econômico está melhorando na zona do euro e Japão, e as receitas das empresas continuam a crescer nos Estados Unidos. As baixas taxas de juros também devem ajudar a recuperação na Europa e no Japão”.

“Nos Estados Unidos, a maior economia do mundo, o crescimento foi revisado para mais no segundo trimestre e o mercado de trabalho é forte. Nossas opiniões podem mudar se a receita das empresas despencar, mas elas são robustas e a política monetária é positiva, com baixa inadimplência”;

“Acreditamos que a China crescerá cerca de 5% este ano. Mas continua a ser uma grande preocupação, com a possibilidade de desvalorização ainda maior da moeda chinesa, que pode prejudicar economias como as do Japão, Coreia do Sul e Taiwan”.

“Em algum momento, haverá nova recessão, mas não antecipamos que isso aconteça nos próximos 18 meses, como alguns sugerem”.

“Demos mais peso às ações dos Estados Unidos em 2013 e 2014, mas em 2015 somos neutros quanto a elas devido às avaliações elevadas. As receitas das empresas norte-americanas estão crescendo, mas de modo mais contido, o que é um motivo para não lhes conferir peso maior”.

“O petróleo e o dólar dos Estados Unidos influenciarão economias e mercados. Os baixos preços do petróleo devem ser bons para o crescimento mundial, mas o dólar mais forte está segurando as receitas das empresas norte-americanas. O peso dos mercados emergentes é menor por conta dos fatores dólar e petróleo”.

“Nos próximos 18 meses, a China será grande preocupação, mas o maior risco isolado é o da reversão da política monetária extraordinária. Não será o primeiro aumento de juros, mas sim a maneira pela qual o Fed preparará os aumentos de juros seguintes, que determinará a perspectiva para a economia mundial”.

Steven Wieting, chefe global de investimento estratégico do Citi Private Bank:

“Antecipamos que o crescimento lento vá persistir na economia mundial. O que vemos é um mercado em alta, mas com toque de recolher em vigor. Não acreditamos em colapso das ações nos próximos 12 a 18 meses, ainda que recentemente tenhamos visto alguma instabilidade”.

“A economia da China está se desacelerando desde 2010, mas não acreditamos que venha a entrar em colapso. Não antecipamos que os Estados Unidos passem por contração em 2016, mas ela poderia acontecer em 2017. Por isso, reduzimos gradualmente o peso de nossas posições de ações internacionais”.

“Quanto aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos somos neutros, e damos maior peso aos títulos norte-americanos com grau de investimento”.

“Um grande risco seria novas desvalorizações chinesas, que podem causar perturbações. Mas continuamos a dar peso mais alto às ações da zona do euro, e a conferir peso alto, mas em menor grau, às ações dos Estados Unidos e Reino Unido. Também conferimos peso mais alto às ações do Japão e China e peso alto, mas em grau inferior, às ações H chinesas”.

“Nos mercados emergentes, estamos neutros ou com peso reduzido. Estamos neutros quanto a títulos de dívida asiáticos denominados em moedas fortes mas damos peso mais baixo ao Brasil e aos papéis de dívida dos mercados emergentes”.

“Também reduzimos bastante o peso dos títulos públicos da zona do euro e do Japão, e aumentamos o peso dos ativos denominados em dólares”.

“Nos investimentos alternativos, acreditamos que haja oportunidades nos grupos de capital privado seletivos e nos imóveis, especialmente porque os retornos de longo prazo são mais altos nessa categoria de ativos do que nos mercados públicos, nos quais não acreditamos ser justificado pagar um ágio por liquidez”.

“No geral, estamos cautelosamente otimistas quanto aos próximos 18 meses, mas o risco de recessão está crescendo, porque a economia dos Estados Unidos não está desfrutando da recuperação que algumas pessoas esperavam em termos do tamanho da força de trabalho”.

Fonte.: Folha de S.Paulo

Tags: