18/03/2016 18:13
À Presidente da República, Dilma Rousseff, foi dado o aviso prévio
Aqui nos Estados Unidos não há aviso prévio. Como costumava gritar na TV o fanfarrão populista e xenófobo que hoje disputa a presidência, basta franzir o cenho e fazer cara de fúria, “Você está demitido!”. No Brasil, não fazemos assim. No Brasil, nós damos aviso prévio.
Do mesmo modo, nos EUA, quando há vazamentos de informações – lícitos ou ilícitos – presta-se atenção ao conteúdo, menos importância é dada aos meandros legalistas do que é ou não admissível. A opinião pública é implacável. Errou? Desculpe-se. Errou? Renuncie. Foi assim com as revelações de Edward Snowden, que forçaram a administração Obama a pedir desculpas para todos os lados. Foi assim com Richard Nixon, que, pego em flagrante abusando do poder que detinha, virou pó na história do presidencialismo norte-americano.
À Presidente da República, Dilma Rousseff, foi dado o aviso prévio. Oficialmente, ele veio do Congresso, liderado por gente que não merece ter o privilégio de legislar por nós. Mais importante, entretanto, é que o aviso prévio foi dado com legitimidade e bom som pelos milhões que foram às ruas pedir a saída de Dilma, pelos milhares que desde então acampam nas ruas do País indignados com a sordidez exibida pelo partido que nos governa. Talvez seja isso o que Dilma não consegue engolir – somos nós que não a queremos, nós cidadãos brasileiros. Não apenas o Congresso e os partidos que voam, baratas que são, de sua base aliada. Não o juiz Sergio Moro que cumpre seu trabalho exibindo integridade tão ausente no Palácio do Planalto, tão absolutamente ausente no mentor da Presidente e em seus asseclas. Dilma ameaçou o juiz, disse que “em nenhum país do mundo” um presidente da república pode ser investigado. Esquece-se de que não era ela a investigada, mas seu comparsa, o mentor de quem não consegue se desgrudar nos momentos difíceis. Provavelmente não sabe o que se passou com Nixon.
Surpreende? De modo algum. Afinal, a Pátria Educadora já mostrou suas entranhas. Seu vernáculo é de expletivos, sua forma de falar é aos gritos, seu código moral é a violência. “Vamos dar pancada nos coxinhas”, “enfiem (escolham um substantivo) no c..”. Instituições? Instituições não existem na mente tacanha dos asseclas de Dilma. Tampouco na dela própria, que acaba de desrespeitar a instituição que ocupa ao ameaçar um juiz federal que cumpre seu trabalho. O trabalho de Dilma? Esse ela não cumpriu – a economia está aí para comprovar os não-feitos e mal-feitos. Mas quem a defende, ou defende seu mentor e comparsa, sofre de viés de confirmação. Só enxergam aquilo que os interessa, não os fatos crus e cruentos que se desenrolam à sua volta.
A substância. As gravações que o próprio Procurador Geral da República defende como legítimas são alvo de discussões intermináveis sobre minutos e minúcias. Mas, a substância. A substância, o teor do que foi dito por Lula, Jacques Wagner, Rui Falcão, Eduardo Paes, Dilma Rousseff, e outros tantos mais, enoja, é gosma pegajosa e fétida. Há quem seja imune ao nojo, ou não possua conexões neurais suficientes para processá-lo. “Nas ligações privadas às vezes dizemos as coisas com exagero”, afirmam os contaminados por pontos-cegos. Errado. Na privacidade, as máscaras caem. A de Lula caiu, queiram ou não as vítimas de pontos cegos. A de Nelson Barbosa, atual Ministro da Fazenda, também. Nelson Barbosa foi inadvertidamente pego tramando com Lula esquema para interferir nas investigações que a Receita Federal conduzia no instituto do – custa-me dizê-lo – ex-Presidente da República. O mesmo Nelson Barbosa que tece planos para resgatar a economia e alardeia aos quatro ventos que, sem solução para a crise política, não há como retomar o crescimento. Que legitimidade tem o Ministro para falar em “solução” para a crise política quando ele próprio foi flagrado como parte do problema?
Cadê sua explicação para os fatos, Ministro? Sem gráficos ou tabelas, por favor. Queremos apenas as suas palavras.
Diante de tantos descalabros, da indignação que gela o estomâgo, contrai os músculos, atiça a adrenalina, e, ao fim do dia, se transforma numa grande dor de cabeça, resta o consolo. O aviso prévio está dado pela sociedade brasileira. Pode ser que a política mude pouco, pode ser que a economia demore muito tempo para apagar os insultos e ofensas contra ela cometidos, pode ser que o país continue dividido entre rótulos de padaria. Mas, quer saber? Tudo o que interessa, hoje, é ver essa gente sórdida longe do poder, longe das nossas salas de estar, físicas e virtuais. Que caiam logo, pois seu destino está selado.
Dilma, pode espernear e esbravejar, mas seu dia há de chegar.
Por Monica de Bolle é economista e pesquisadora do Peterson Institute, em Washington