Mercado segue sondando articulações de Temer

05/05/2016 10:13

Ata do Copom em foco. Banco Central não atua no câmbio. Preço do petróleo sobe e o mercado segue sondando as articulações de Temer para o seu governo.

A comissão especial de impeachment dá sequência ao seu rito, que segue favoravelmente – tal como esperado – ao afastamento de Dilma Rousseff, enquanto Michel Temer tenta manter o mercado convencido de que trará melhorias ao país mesmo sem o exército de notáveis nos ministérios. Temer pode ser alçado à presidência em uma semana.

A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) e o resultado trimestral das companhias também ganham a atenção dos investidores nesta quinta-feira (5).

Temer queria um ministério composto por “notáveis”, entretanto, com o início das negociações com os partidos que farão parte da base aliada, a iniciativa foi revista, junto com a intenção de cortar o número de ministérios, segundo o Estadão.

Nome mais cotado para a Fazenda, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles deve escolher o novo nome para o cargo. De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, os mais cotados são Ilan Goldfajn e Afonso Bevilaqua. Já o jornal Valor Econômico, afirma que Meirelles está entre Goldfajn e Mário Mesquita.

Em ata divulgada nesta manhã, o Banco Central afirma que a inflação segue persistente devido aos reajustes de preços relativos e, por isso, avalia que não há espaço para corte de juros.

O BC reduziu sua projeção para a inflação em relação ao valor considerado na reunião anterior, tanto para 2016 quanto para o próximo ano. A autoridade monetária não divulga os números, mas afirma que a estimativa para 2016 está acima da meta de 4,5%, enquanto a projeção para 2017 encontra-se “ao redor da meta de 4,5%”.

Segundo o colegiado, há avanços na política de contenção dos impactos do reajuste de preços relativos, no entanto, o nível elevado da inflação em 12 meses e as expectativas ainda distantes dos objetivos do regime de metas “não oferecem espaço para flexibilização da política monetária”.

Apesar das considerações, o documento pode ter nascido velho. “Tudo ficará imprevisível a partir de agora, pois não sabemos quais serão as mudanças no BC se Temer assumir a presidência”, observa Rafael Omachi, analista da Guide Investimentos. “O mercado está esperando queda da Selic até o fim do ano”, afirma.

Na comissão especial de impeachment, os senadores discutem o parecer favorável ao afastamento da presidente Dilma Rousseff a partir das 10h. Os petistas estudam apresentar um voto em separado contra a admissibilidade do processo ou até acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) questionando o relatório de Antonio Anastasia. O tema deve gerar polêmica com os oposicionistas, que comemoraram ontem o parecer, considerado técnico.

De acordo com Omachi, “os investidores devem operar em compasso de espera mesmo tendo a convicção de que a matéria será aprovada pela comissão”.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, a direção do PT avalia que, caso Dilma seja afastada, dificilmente ela voltará à presidência. Essa é a visão de ministros e até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na quarta-feira (4), Dilma, Lula, ministros próximos e o presidente do partido Rui Falcão se encontraram para um jantar. Ficou decidido que, em caso de derrota no Senado, Dilma irá descer a rampa do Palácio do Alvorada cercada por ministros e representantes de movimentos sociais.

Nos mercados internacionais, as bolsas chinesas encerraram em leve alta em dia de baixo volume de negócios. As bolsas europeias operam próximo da estabilidade e os índices futuros norte-americanos têm leve alta.

Os preços do petróleo saltam cerca de 3% devido a incêndio em região de extração da commodity em uma província de Alberta, no Canadá, o que afeta a produção do país.

No mercado doméstico, o destaque fica para os balanços corporativos de Braskem, Rumo, Lojas Americanas e Magazine Luiza. “Os resultados de varejistas sairão depois da sessão. Ainda assim, os papéis do setor de varejo devem operar de acordo com as expectativas com o resultado”, diz Omachi.

O Banco Central não anunciou – por enquanto – nenhum leilão de swap cambial reverso – equivalente a compra de dólares no futuro. Lá fora, o dólar opera em alta em relação a moedas fortes e emergentes.

 

Por Weruska Goeking, Marcelo Ribeiro e Gustavo Kahil, jornalistas e especialistas no mercado.