Analista diz o exagero de confiança no novo Governo

11/05/2016 10:37

Uma visão econômica ressalta uma irracionalidade do impeachment. “Bolsa reflete um exagero de otimismo em relação ao novo governo”, diz Stuhlberger.

A expectativa de mudança política no Brasil alimentou o rali do impeachment. Para quem surfou nesta onda os ganhos não foram pequenos. A alta da Bolsa em 2016 chega a 22%. Há investidores e analistas, contudo, que enxergam outra história. Para eles, parte desse movimento fez parte de uma oscilação generalizada nos mercados emergentes. Quem não remou onda alguma observa que o mar continua agitado e que os desafios do Brasil, principalmente os fiscais, não irão desparecer junto com Dilma Rousseff.

“A narrativa do mercado de que o rali no Brasil tem sido comandado pelas possíveis mudanças na política é, na maior parte, apenas meia verdade”, avalia Caesar Maasry, estrategista sênior de ações para mercados emergentes do Goldman Sachs. Para Joana Arthur, chefe de ativos da gestora inglesa Ashmore, especializada em mercados emergentes, o aumento dos preços do petróleo e das commodities, especialmente o minério de ferro, e o crescimento da atividade política sobre o impeachment tiveram o seu papel sobre o sentimento do investidor. As commodities são a metade das exportações e um quinto dos lucros das empresas na Bovespa.

“O rali nos ativos brasileiros, assim como outros mercados latinoamericanos, parece estar bastante correlacionado com a recuperação do petróleo e o fortalecimento do dólar. Essa combinação está deixando o preço das commodities se recuperar e motivando o retorno do apetite por risco”, analisa Vladimir Signorelli, fundador da Bretton Woods Research. “O Brasil se isolou tanto dos mercados globais por políticas econômicas erráticas que houve uma forte contração da exposição aos mercados no portfólio do investidor”, diz Pablo F.G. Bréard, economista para a América Latina do Scotiabank.

O fundo Verde, de Luis Stuhlberger, avalia em relatório sobre o desempenho de abril que “a bolsa reflete um exagero de otimismo em relação ao novo governo, que não justifica alocação”. A gestora mantém posição vendida em ações.

Trajetória explosiva

A ideia de que a equipe econômica de Michel Temer, liderada por Henrique Meirelles, será mais amigável ao mercado é um consenso, mas ainda existe desconfiança sobre a vontade política para desenvolver as profundas reformas necessárias para alterar o rumo da evolução da dívida pública brasileira e restaurar a confiança de longo prazo. “Continuamos a ver riscos significativos para uma elevação do real em relação ao dólar quando ficar claro que os desafios não irão desaparecer junto com Dilma Rousseff”, aponta Lisa Alexandersson, economista do Nordea Bank.

“Vemos um claro consenso entre os observadores de que as reformas precisam ser feitas no Brasil, mas há apenas um suave otimismo sobre a vontade política em adotar uma reforma bastante conservadora”, analisa Vagner Enrico Castilho Alves, analista de renda fixa da Franklin Templeton. A gestora calcula que a relação entre a dívida bruta e o PIB vai continuar a piorar caso as reformas não sejam feitas e ficará acima de 85% durante a próxima década, assumindo uma trajetória explosiva.

“A mudança política é positiva, mas uma grande parte disso já está no preço. O ajuste será muito gradual no lado macroeconômico, o que sugere que você precisa ser paciente e escolher corretamente o que você irá comprar no Brasil”, vê Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisa da América Latina da Natixis. Ou seja, quem surfou a onda do rali do impeachment precisa ficar atento para um possível retorno da maré.

 

Por Gustavo Kahil, jornalista e especialista em mercado em O Financista