Opinião – A malfada sina do prefeito

03/10/2016 14:04

”…Se o prefeito sofre aperto no orçamento, o que inviabiliza políticas e leva à devolução de projetos à gaveta, a rejeição popular, apenas por ser prefeito, vaticina a sina eleitoral.”

Em Belo Horizonte, a gestão Marcio Lacerda (PSB) foi rejeitada. Em São Paulo, a reprovação ao governo de Fernando Haddad (PT) se refletiu em seu desempenho eleitoral: perdeu no primeiro turno. Situação parecida se deu com Gustavo Fruet (PDT), que tentou a reeleição em Curitiba e nem foi para o segundo turno. No Rio de Janeiro, não adiantou Eduardo Paes (PMDB) sambar nas Olimpíadas e fazer gracinha falando de cangurus. Não bastou VLT e o metrô chegando à Barra da Tijuca. Seu candidato à sucessão e ex-secretário Pedro Paulo (PMDB) ficou pelo caminho. Para este, não deu nem com a mulher retirando na polícia a queixa de ter sido agredida. A imagem de bom marido não colou, nem a de bom candidato.

Foram poucos os prefeitos de capitais que tiveram sucesso ontem, seja na tentativa de novo mandato ou na transmissão de influência para um aliado. Destaque para ACM Neto, reeleito com acachapantes 73% em Salvador.

Ser prefeito já conferiu mais tranquilidade política. Dois fatores basicamente explicam esse fenômeno, dois que são um só: nossa crise nacional de várias cabeças. O ente federativo que mais sofre em momentos de retração econômica é o município. A queda da atividade é sentida de forma clara na perda de arrecadação de ISS e na inadimplência ao IPTU, os dois principais tributos municipais.

Além disso, a devolução do ICMS do governo estadual às prefeituras também se reduz em cenário de crise, e o FPM, transferência relevante mesmo para as grandes cidades, é composto pela arrecadação federal de Imposto de Renda e IPI, ou seja, em épocas de vacas magras, também vai para o brejo.

Pelo lado político da crise, assistimos atualmente à aversão à política e à atividade governamental se disseminar na sociedade. Essa é uma das consequências nocivas da operação Lava Jato e do processo de impeachment, que levaram à contaminação indiscriminada de gestões e gestores públicos, parlamentares e partidos. A acídia, o desencantamento e o desinteresse ao que é de interesse público forjam o gosto pela não-política, gosto duvidoso, perigoso e ingênuo.

Os índices de abstenção registrados ontem refletem a posição de aversão à política e, consequentemente, à eleição. Em Belo Horizonte, certa de 390 mil eleitores não compareceram. Somados esses aos votos brancos e nulos – outra forma de demonstrar rejeição indistinta –, o total equivale a 38% do eleitorado.

Então, se o prefeito sofre aperto no orçamento, o que inviabiliza políticas e leva à devolução de projetos à gaveta, a rejeição popular, apenas por ser prefeito, vaticina a sina eleitoral. Nem levando o metrô pra longe, nem criando Move, nem inaugurando Umeis e UPAs.

João Leite e Kalil, daqui a quatro anos um de vocês estará nessa situação. Se não olharem para quem realmente precisa, o revés do destino será certo.

Cegueira. Só pra variar, os institutos de pesquisa erraram feio. Tudo bem que essa eleição foi peculiar e de tiro curto. Mas passaram longe dos radares as votações expressivas de Rodrigo Pacheco (PMDB) e Reginaldo Lopes (PT). Será que o belo-horizontino demorou tanto assim para se decidir?

 

joao gualberto

Por João Gualberto Jr.
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