Opinião – A besta do Apocalipse

24/10/2016 11:42

”…no Rio, não vão eleger o Crivella, aquele zumbi plastificado do Edir Macedo…?(…) Carioca é muito politizado nos bares – mas, depois, não adianta chorar pelo chopinho derramado.”

Eu só penso no Trump. Nunca senti tanta repulsa por alguém. Fiquei aliviado quanto vi o comentário de Robert de Niro dizendo que ele é um escroto, um cachorro, um porco e que queria dar uma porrada na cara dele. Mas o que mais me espanta é que um rato desses possa estar concorrendo à Presidência da maior nação do mundo. Como isso aconteceu? De certa forma, o Trump sintetiza a história atual. O mundo poderia até acabar se o rato fosse eleito. Acho que não será, mas é pavoroso saber que quase metade da América votará nele.

Quando aquela outra besta, o Bush, foi reeleito, o jornal inglês “The Guardian” publicou a manchete: “Como podem 60 milhões de pessoas ser tão estúpidas?”.

Eu já morei nos Estados Unidos, na Flórida, e conheço bem essa estupidez. É diferente da estupidez brasileira, pois não é fruto de analfabetismo ou de cultura zero. Lá a boçalidade tem mais chão, é mais sólida e forma uma rede ideológica que prospera na classe média do país todo. Lá, a boçalidade tem fundamentos. São monoglotas que nada sabem do mundo exterior. Se consideram uma nação excepcional que tem de repelir diferenças – o que mais odeiam: os negros, os gays, os latinos, os muçulmanos têm de ser banidos.

E, com o mundo cada vez mais global e intrincado, os estúpidos tendem para o isolacionismo mental, para certezas totalitárias, com ódio da política e dessa democracia “chata” que iguala as pessoas.

Hoje, a política virou um parafuso espanado que não gira mais a vida social. Ao contrário, vemos que justamente o desprezo às práticas políticas liberais levam ao pódio da demagogia os lideres mais radicais. O irracionalismo surge como uma forma rápida de resolver tensões e crises. Chega de “razão”, chega de “sensatez”.

Os norte-americanos médios são muito caretas; não são retrógados por causa da ignorância e da miséria, como entre nós. Aqui, não há “direita”, mas sim o atraso feudal dos donos do poder patrimonialista. Lá, eles são reacionários mesmo, uma direita assumida ativa, seguindo a religiosidade fundamentalista, com um Deus rancoroso, proibitivo.

Trump é a súmula de todos esses horrores.

Temos no mundo hoje uma manada de psicopatas dirigindo a história. É espantoso ver outro porco, o Kim, da Coreia do Norte, brincando de mísseis atômicos; vemos o Assad arrasando o próprio país; temos Maduro, Dutarte (o mais recente carniceiro) e tantos outros. E temos o supremo perigo: o Putin, psicopata da KGB, já ameaçando o mundo com seus mísseis.

E nos Estados Unidos temos esse fenômeno impressionante do Trump. É repulsivo ver aquele dedinho autoritário levantado, um pênis pequeninho ali na sua mão, seu queixo fascista (por que fascistas usam tanto o queixo duro, de Mussolini até Chávez?) babando sobre mentiras que os idiotas engolem.

Não importa o conteúdo das plataformas; só valem as palavras grandiosas, as promessas impossíveis e um cultivo da paranoia. Creio mesmo que eles gostam do mais escroto e ridículo, como se a grossura fosse uma espécie de coragem. É a rebelião dos imbecis…

Uma das causas disso tudo é o que já chamam de “infoentertainment”, isto é, uma mistura cada vez mais forte entre informações e entretenimento, mistura que impede clareza entre mentira e verdade, ficção e realidade (aliás, o que era mesmo a realidade?), que nos faz espectadores de um grande parque de diversões trágico que assistimos até com deliciado horror.

“Ahh… quantos mortos em Allepo hoje? Aumentou? Ihhh… Angelina Jolie tirou os seios, e o Boko Haram raptou 300 meninas e ohhh… o Estado Islâmico decapitou mais 20… Mas, oba… foi genial o show da Beyoncé, e o terremoto arrasou o Haiti; olha só: o Trump arrasta mulheres pela xota, e o Putin nos ameaça com força nuclear, a Petrobras foi destruída, mas o novo smartphone faz até boquete…”.

Além disso, as notícias todas juntas na velocidade da luz desenham um caos que nos alimenta de terror. A pior hipótese, o pior cenário, seria um mundo com dois lideres psicóticos: Putin e Trump. Ou seja, como disse a Hillary: “Eu sou a última barreira entre nós e o Apocalipse” – e, incrivelmente, ela está certa.

Acho que ele não será eleito, a menos que haja um fenômeno catastrófico como o de 11 de Setembro.

Por outro lado, ouso dizer que Trump foi muito bom para a democracia norte-americana. Por quê? Porque ele é a caricatura extrema do Partido Republicano, inclusive de outros canalhas que pensam como ele, mas são mais discretos como o Ted Cruz ou aquele “gusano” Marco Rubio.

Trump também serviu para alertar que a democracia na América tem de ser aperfeiçoada com instrumentos de controle mínimo que impeçam malucos de tomar o poder. Trump também é um alerta para que vejam que a desinformação política norte-americana é muito maior do que se pensava. Delicio-me vendo as caras, as fuças boçais típicas dos eleitores republicanos. Em seus rostos há o nada.

Também adoro ver as mulheres deles, todas iguais: cabelos louros, de chapinha, sorriso parado na boca, gostosas louras-burras. Toda perua é republicana.

Trump terá a serventia também de desqualificar a maioria republicana no Senado e também, se Deus quiser, Hillary terá o controle da casa depois de oito anos de sabotagens pavorosas contra o Obama. E, quando isso tudo acabar, haverá uma enxurrada de análises sobre essa mente doentia. Será um avanço para a psiquiatria.

Isso é uma tendência mundial. Até aqui não tivemos nosso trumpzinho proletário e sua filhota destruindo o Brasil?

E, agora no Rio, não vão eleger o Crivella, aquele zumbi plastificado do Edir Macedo, trazendo de volta seu irmão Garotinho?

Onde estão as celebridades críticas e artistas empenhados que não fazem um imenso trabalho na mídia para impedir isso? O Rio vai ser destruído. Façam como nos Estados Unidos, como Madonna, De Niro, Meryl Streep, em campanha contra a grande besta. Carioca é muito politizado nos bares – mas, depois, não adianta chorar pelo chopinho derramado.

 

arnaldo jaborPor Arnaldo Jabor

 

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