Opinião – O baú de Pandora

06/03/2017 21:30

”Aos inocentes cabe protestar, como faz Silvestre, e não ficar com medo da exposição pública. Se não devem, não há o que temer. O silêncio não costuma ser dos inocentes.”

O jornalista Silvestre Gorgulho é um amigo dos amigos. Na segunda-feira, bem cedo, li o seu artigo “Os sete de Pandora”, publicado no Correio Braziliense. Tenho o privilégio de, também, ser seu amigo.

Conheci Silvestre quando foi secretário de Cultura do melhor governador que já tivemos no Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira que, auxiliado por homens públicos ilibados, transformou Brasília em Patrimônio Cultural da Humanidade, reconhecido pela UNESCO. Aparecido, como todos,  no governo,  cometeu equívocos que acabaram sendo consolidados, comprometendo o plano original da cidade. Mas, isto é passado e, agora, devemos preservar o que restou do sonho de JK.

Durante os anos de vida em Brasília, Silvestre prestou inestimáveis serviços à Brasília,  tendo colaborado com  vários governadores, especialmente na conturbada sucessão do outro Zé; este, considerado excelente gestor, também cometeu equívocos que comprometeu não a área física da capital, mas os conceitos morais que, então, ainda estavam sob controle.

No texto, Silvestre expõe os sete anos que se passaram desde que a  “Caixa de Pandora” foi aberta, libertando todos os males de Brasília, menos a esperança que se tornou nossa melhor herança.  Denominada como a “Capital da Esperança”, Brasília resiste aos vergonhosos procedimentos de nossos representantes e segue em frente, superando as agruras e, agora, sedenta, a cidade aguarda as novas eleições com o espírito renovado pelos blocos de rua que afastaram por alguns dias os fantasmas que nos assustam.

A defesa do amigo deve ser respeitada, mas a população sofre com a violência, o desemprego, sem assistência médica causada por vários governos irresponsáveis. Estas são as razões de a população estar desanimada com o desempenho dos meninos criados nos pilotis dos blocos residenciais.

Porém, o que interessa nestas linhas é a preocupação do Silvestre com a demora no andamento dos processos a que responde o ex-governador José Roberto Arruda e outros acusados na “Caixa de Pandora”. O articulista espera que os profissionais do direito e das leis consigam explicar a razão de, só agora, o STJ determinar a perícia das fitas de gravações feitas por delator-aliado  e expostas à opinião pública nacional.

O Superior Tribunal de Justiça só se manifestou neste momento pelo simples fato de que só agora examinou os autos. É assim; os tribunais superiores existem para que eventuais equívocos sejam apreciados, corrigidos ou não, fora do calor das acusações.

A “Caixa de Pandora”, como a “Lava-Jato”, não foi aberta totalmente pelo Ministério Publico, a Polícia Civil e Federal e pela Justiça. Os males que nos atingem passaram por um minúsculo buraco, e, contrariamente, a Pandora escapa aos poucos, maculando reputações e prendendo aqueles que silenciam quando são levados à presença das autoridades responsáveis pelas investigações.

Enquanto o nosso complexo penitenciário de presos comuns está abarrotado de muitos inocentes ou sem culpa comprovada, alguns dos nossos políticos e seus cúmplices, investigados ou réus, em ações de combate à corrupção, com o rabo entre as pernas, delatam, mentem, envolvem inocentes, vivem em prisões domiciliares e cumprem, com alguma tranquilidade, as penas que lhes foram aplicadas com os benefícios de suas justas e espontâneas delações premiadíssimas.

Aos inocentes cabe protestar, como faz Silvestre, e não ficar com medo da exposição pública. Se não devem, não há o que temer. O silêncio não costuma ser dos inocentes.

 

Por Paulo Castelo Branco

 

Tags: