06/04/2017 00:48
Maior produtor de carne na europa, França propõe a UE ampliações nas restrições à produtos do Brasil. Segundo fontes, os franceses focam especificamente PR, GO e MG
A França, maior produtor europeu de carne bovina, propôs ontem no comitê de ministros da Agricultura que a União Europeia (UE) amplie restrições ou mesmo interdite toda a carne proveniente dos três Estados brasileiros com estabelecimentos investigados na Operação Carne Fraca, que apura um suposto esquema de corrupção envolvendo fiscais agropecuários e funcionários de empresas.
Segundo fontes a par do tema, os franceses focam especificamente Paraná, Goiás e Minas Gerais. Na reunião, em Luxemburgo, a delegação francesa foi acompanhada pela rigidez da República Checa, que não hesitou em expressar o termo “proibição”. Por sua vez, a Holanda, país com os portos que mais recebem o produto brasileiro – depois distribuído a outros mercados, – insistiu que, se a Europa não receber todas as garantias de segurança das importações, deve considerar “medidas mais fortes” que as já adotadas.
A Áustria foi menos incisiva desta vez, mas continua a ser o país-membro mais rigoroso na atual crise, solicitando o bloqueio das importações. Fontes europeias dizem que essa é uma posição geral dos austríacos em casos envolvendo segurança de alimentar. A Irlanda mostrou-se surpreendentemente prudente.
No momento, porém, os que querem decisões mais duras em relação produto brasileiro não têm maioria. Mas, nesse ambiente, o comissário de Saúde e Segurança Alimentar da UE Vytenis Andriukaitis, confirmou a possibilidade de medidas adicionais em relação às importações de carne do Brasil, deixando claro que tudo depende da resposta das autoridades brasileiras à crise. “Sim, a questão não está fechada”, disse ao ser indagado em entrevista, ontem, após relatar aos ministros europeus da Agricultura sua visita ao Brasil.
Para uma fonte europeia, tudo agora vai depender do resultado dos controles reforçados e de como o Brasil vai reforçar a sua inspeção sanitária.
Segundo Andriukaitis, a conversa com as autoridades brasileiras na semana passada, foi “franca”, maneira de dizer que sua mensagem foi clara: “A segurança dos produtos alimentares exportados para a UE não é algo opcional. Enfatizei que cabe ao Brasil restaurar a confiança em suas exportações de carne, garantindo a confiabilidade, previsibilidade, credibilidade e independência dos controles brasileiros de segurança alimentar”.
O comissário tentou “tranquilizar os cidadãos europeus de que todas as remessas dos estabelecimentos implicados na fraude, que estão a caminho da UE, serão rejeitadas e devolvidas ao Brasil”. Comentou que recebeu ontem uma carta do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, insistindo que o problema tem a ver com corrupção e não com controle ou qualidade da carne brasileira.
As medidas tomadas pela UE incluem proibição das importações de estabelecimentos implicados; reforço dos controles nas fronteiras da UE; realização, em breve, de auditorias no Brasil; e garantia de que as autoridades dos 28 membros sejam continuamente informadas sobre a evolução da situação no Brasil.
Para a União Europeia do Comércio de Gado e de Carnes da UE (UECBV), que representa importadores e indústria de carnes, as medidas adotadas são “proporcionais ao risco”. Para a entidade dirigida por Jean-Luc Meriaux, as medidas podem ser reforçadas com uma revisão do sistema brasileiro de segurança alimentar, para “garantir plenamente que a carne brasileira se enquadra nas normas da UE”.
Em nota, a entidade diz que “a UECBV e seus membros se opõem totalmente a fraude em alimentos, não importa qual seja a alegação”. Diz ainda “apoiar plenamente as medidas tomadas pela Comissão Europeia e pelas autoridades dos Estados-Membros para expurgar as supostas práticas ilegais da cadeia de abastecimento caso tenham ocorrido”.
Por sua vez, o comissário de Agricultura, Phil Hogan, descartou que a crise tenha impacto nas negociações UE-Mercosul sobre acordo de livre comércio. “Essa crise afeta o Brasil, não outros países do Mercosul”, observou. “Mas é muito claro que queremos um capítulo muito forte sobre medidas sanitárias e fitossanitárias (no acordo UE-Mercosul”.
À noite, Andriukaitis foi ao Parlamento Europeu, onde o debate sobre as importações do Brasil tem sido animado. Observadores em Bruxelas estimam que os parlamentares não deverão mudar a posição da Comissão Europeia. A avaliação é de que a comissão tem força política, no momento, para manter a estratégia de dar um pouco de tempo ao Brasil para que forneça as garantias prometidas.
No Parlamento, 31 deputados europeus falaram ontem, e a maioria continuou a cobrar medidas mais duras contra a carne brasileira.
Da Redação com informações da Avisite