Opinião – A bomba de hidrogênio caiu no colo de Janot

05/09/2017 13:51

”Joesley e Wesley fazem parte de uma organização criminosa. Portanto, precisam responder por seus crimes na cadeia e não dentro de seus iates luxuosos e apartamentos milionários em Nova Iorque.”

Parece que a bomba de hidrogênio do ditador Kim Jong-um desviou-se do centro de lançamento na Coreia do Norte para acertar em cheio a Procuradoria-Geral da República em Brasília. A menos de duas semanas de deixar o cargo Rodrigo Janot foi obrigado a declarar à imprensa que o seu principal assessor no órgão, o ex-procurador Marcello Muller, está envolvido até a medula com a organização criminosa dos irmãos Batista – Joesley e Wesley. Ou seja:  o escândalo, aliás, o petardo, entrou arrasando na sala de estar de Janot pulverizando a reputação do seu trabalho à frente da PGR até então abalizado pela população.

Janot descobre, tardiamente, que os irmãos Batista fazem parte da maior organização criminosa já montada no país para comprar políticos, juízes, ministros, presidentes e executivos de estatais, coisa que ele sempre negou ao autorizar a imunidade penal aos empresários. Na entrevista que deu aos jornalistas, Janot parecia enfurecido com os Batista, depois que chegaram às suas mãos gravações que colocam seu ex-assessor na procuradoria na berlinda. Pelo que se sabe até agora, Muller foi o principal intermediário das negociações dos irmãos com a PGR quando foi trabalhar em um escritório de advocacia que prestava serviço a JBS.

A conversa confusa de Rodrigo Janot na coletiva deixa brecha para questionamentos. Por exemplo: como do nada apareceram na procuradoria um áudio de quatro horas acusando seu ex-assessor e um ministro do STF, além de um político importante, quando Janot dizia ter esgotado a delação premiada dos Batista? Por que Janot deixou a Polícia Federal de fora das investigações que fez para descobrir o caminho da propina da JBS para os políticos? Por que Janot deu esclarecimentos esfarrapados quando foi questionado sobre a exoneração de Muller e a sua sociedade com um escritório de advocacia que defendia os interesses da JBS dentro da Procuradoria-Geral da República? Por que Janot não processou o Temer quando ele insinuou o seu envolvimento com as negociatas dos Batista e o seu assessor-procurador?

Essas e outras perguntas Rodrigo Janot ainda deve esclarecer à população brasileira para manter a sua biografia intocável, como um homem acima de qualquer suspeita. Para desmentir, inclusive, as ofensas que sofreu do Ministro do STF, Gilmar Mendes, quando o chamou de desqualificado e de petista enrustido. As revelações desse novo áudio, que os Batista mantinham em segredo, aparecem no momento em que um grupo da procuradoria começou a questionar os privilégios dos irmãos no acordo celebrado com a PGR de Janot. Alguns deles alegavam que os ilícitos cometidos pelos Batista caracterizavam a criação de uma organização criminosa, portanto, eles não poderiam ter recebido salvo conduto penal pela delação que fizeram, pois não estariam fora do alcance da lei.

A prova disso é a entrevista que Joesley deu a Veja esta semana quando afirma ter corrompido toda a república para se beneficiar do dinheiro fácil dos bancos e dos ministérios. Diz claramente que subornou juízes, procuradores, ministros, políticos (1.829) e todo mundo que encontrava pelo caminho e que poderia ser empecilho ao seu caminho de bilionário. Do BNDES levou mais de 10 bilhões de reais para comprar empresas lá fora, enquanto as dos Brasil faliam com a administração desastrosa da economia do governo do PT.

Os fatos narrados por Joesley e Wesley, que abalaram as finanças do país, não foram suficientes para sensibilizar Rodrigo Janot de que ele estaria diante de uma quadrilha que sobrevivia à base da corrupção. Ao contrário. Sempre que era questionado sobre as benesses da PGR aos irmãos Batista saia em defesa dos empresários, argumentando que já tinha alcançado um peixe grande (Temer) com a delação deles e, portanto, já era o suficiente para beneficiá-los com a liberdade. Sabe-se, agora, que Janot tinha oposição dentro da própria procuradoria que não concordava com o acordo que ele fez com os Batista.

Na entrevista que aparentava nervosismo, Janot reafirmou várias vezes que todos são iguais perante à lei, inclusive o Marcelo Muller. E que pode reavaliar a delação dos irmãos Batista. Janot, que até então parecia um cara inteligente e astuto nas suas investigações, pareceu vacilar nos esclarecimentos. Não acrescentou nada mais do que o povo brasileiro já sabia: Joesley e Wesley fazem parte de uma organização criminosa. Portanto, precisam responder por seus crimes na cadeia e não dentro de seus iates luxuosos e apartamentos milionários em Nova Iorque. E ponto final.

 

De Brasília, por Jorge Oliveira