05/09/2017 13:37
”As resistências foram vencidas pelos ajustes que gradualmente foram sendo feitos em Confins, com mais conforto para os passageiros e segurança dos voos.”
Antes de lançar seus projetos, o governo Temer precisa organizar-se. Unificar a linguagem da equipe é fundamental para a credibilidade. É o mínimo que se pode esperar de quem quer ser levado a sério.
Ninguém vai colocar recursos em um programa de privatizações sem saber com clareza as regras do que será executado. Os aeroportos são um bom exemplo dessa insegurança. Pelo menos em relação ao da Pampulha, hoje utilizado para voos regionais, mas que o presidente da Infraero, Antônio Claret de Oliveira, insiste em recolocar para operação de grandes jatos.
Claret retomou a discussão de um assunto que parecia definido desde maio, quando o Ministério dos Transportes baixou portaria vetando o terminal para voos de aeronaves de maior porte, pondo fim, assim, a uma reivindicação que o prefeito de Belo Horizonte, do nada, passara a defender. Estranha argumentação usa o presidente da Infraero para defender a medida. Para ele, a reativação do Pampulha para grandes jatos não prejudica o aeroporto de Confins e será muito boa para o usuário, pois estabelecerá uma boa concorrência entre os dois, com ganhos para o consumidor.
Esquece-se de que Confins, privatizado, está em fase de consolidação, depois de passar por ampla reforma e ampliação, na qual foram aplicados R$ 980 milhões – parte dos recursos da própria Infraero, que tem 49% do controle do terminal. Ninguém investe R$ 1 bilhão em um negócio sem confiança na seriedade das regras definidas para uma privatização.
Claret usa a participação da empresa que dirige no controle de Confins para defender sua proposta de retomada das operações de maior porte na Pampulha. Afirma que não apoiaria um plano que prejudicasse Confins, gerando prejuízo para a Infraero. Pode estar sendo sincero em sua fala, mas é bom lembrar que não tem nada a perder se deixar dois terminais com prejuízo. Afinal, ele dirige uma estatal. Se a magia não der certo, o prejuízo será do povo, que sustenta o governo, e dos eventuais sócios, entre os quais certamente ele não está.
Essa questão envolvendo a utilização do aeroporto de Confins é recorrente. Inaugurado na década de 1980, ele ficou anos praticamente abandonado. Quando alguns anos depois decidiu-se por seu uso, a grita foi geral, com os usuários reclamando da distância e de outros problemas. Todos, menos os moradores da área, defendiam a operação no Pampulha. As resistências foram vencidas pelos ajustes que gradualmente foram sendo feitos em Confins, com mais conforto para os passageiros e segurança dos voos. A concessão permitiu investimentos que transformaram o Aeroporto Internacional de Confins num terminal completo, no nível dos melhores do mundo.
Colocar todo esse esforço em risco agora é, no mínimo, uma insensatez. Que o Pampulha não seja abandonado e que se estabeleça projetos viáveis para a sua utilização. Dividir quase sempre não é o caminho para multiplicar ganhos. Inclusive para o usuário.
Por Paulo César de Oliveira