Opinião – Governo fecha o BB e apaga a história entre Portugal e Brasil

21/09/2017 12:37

”É lamentável que isso aconteça no momento em que muitos brasileiros fazem de Portugal a sua segunda opção de vida e o governo tenta estreitar seu relacionamento comercial com os lusitanos.”

Foi-se. O Banco do Brasil encerrou suas atividades em Portugal, deixando milhares de correntistas na mão. A irresponsabilidade do banco é do tamanho – ou até maior –  da irresponsabilidade do presidente Michel, que confessou, de alto e bom som, que não sabia da paralisação dos trabalhos do banco em terras lusitanas. Nesse momento, os clientes do BB estão literalmente num mato sem cachorro. A principal agência da Marques de Pombal, em Lisboa, fecha as portas no dia 5 de novembro. Daí em diante vai ser um deus nossa acuda, pois ninguém sabe o que vai acontecer com as suas contas.

Como é hábito no Brasil, quando essas coisas acontecem, há sempre um pano de fundo nas histórias mal contadas. Para ser mais explícito: existe sempre a suspeita de que alguma coisa ilegal está acontecendo ou vai acontecer. E o Brasileiro, desconfiado, começa a juntar o quebra-cabeça para saber as razões que levaram o BB a fechar suas portas poucos dias depois da visita de Temer a Portugal, numa viagem que tinha a China como destino, e entregar a carteira ao novíssimos Banco CTT.

O que se sabe até agora é que o Banco do Brasil assinou um acordo de intenções com o CTT, que antes operava apenas como agencia postal internacional, para a transferência de todo acervo financeiro do banco. Acontece que os clientes brasileiros ausentes – aqueles que não moram em Portugal – só podem transferir seu dinheiro se assinarem a papelada disponível no Banco CTT lá em Portugal, o que cria um obstáculo intransponível, por enquanto insanável, para esses correntistas. Assim, quem está fora de Portugal terá o seu dinheiro congelado nas nuvens depois que as agencias “físicas” do BB forem apagadas das ruas de Lisboa em novembro próximo.

Nem todos os clientes do BB receberam a comunicação do encerramento das atividades do banco em Portugal, a exemplo do que aconteceu quando a primeira agência do BB, em Cascais, foi fechada. Dessa vez, como sempre ocorre, os funcionários do banco tinham pouca informação disponível para os seus correntistas. Repetiam sempre, como uma gravação oficial, que o BB para as suas atividades a partir de 5 de novembro. O tom, da informação vazia e desrespeitosa, é de desprezo aos milhares de correntistas.

Só um governo inútil como esse do Temer fecha um banco com a tradição do BB que, assim, deixa de representar o Brasil e os brasileiros em Portugal. É como diz um alto executivo do governo: “É fechar a casa da vovó e jogar a chave fora”. O que não se explica até hoje é como Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, faz uma carta de intenção para transferir o ativo do BB para o Banco CTT sem consultar o próprio presidente da república que se mostrou surpreso com o fechamento das agencias (Lisboa e Porto). É a verdadeira da Casa de Noca.

E daí? Mostrou-se surpreso,  mas foi incapaz de impedir tal indelicadeza com os brasileiros que moram em Portugal e fazem  suas transações  financeiras no banco. Muitos clientes e funcionários do BB fizeram um movimento na Praça Marques de Pombal, em Lisboa, onde fica a única agência do banco, protestando contra o fechamento. Mas pouco – ou quase nada – adiantou. Ninguém de Brasília deu bolas para a passeata. O burocrata, indiferente, é surdo aos problemas que afetam às pessoas.

É lamentável que isso aconteça no momento em que muitos brasileiros fazem de Portugal a sua segunda opção de vida e o governo tenta estreitar seu relacionamento comercial com os lusitanos. Não só as contas dos clientes vão parar no CTT, como também vão para lá a carteira imobiliária do BB, no momento, bem “gordinha”. Apaga-se, com isso, um dos vestígios do Brasil mais importante em terras lusitanas com o fechamento do Banco do Brasil. É por isso, que, à porta do BB, todos gritavam – clientes e funcionários – Fora Temer. E com razão.

 

Por Jorge Oliveira

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