15/05/2018 07:42
”Na ânsia de enfrentar alguma destas duas forças no segundo turno, surge um centrismo frouxo, monótono, amorfo, inodoro, incolor, insosso, sem aderência na sociedade”
Virou lugar comum nesta corrida presidencial a busca pelo centro. Certos de que este caminho pode levar ao Palácio do Planalto, os postulantes ao cargo de presidente recorrentemente falam que desejam ocupar este espaço. Os analistas e repórteres políticos fazem eco, na tentativa de tornar esta tese uma verdade incontestável.
Como dizia Garrincha, falta combinar com os russos, neste caso, o eleitor. A vontade de parcela da mídia em encontrar um centrista tornou-se mais um desejo do que uma análise calcada na realidade. É o que chamamos na política de wishful thinking. Certos de que o caminho do meio seria uma virtude também no tabuleiro eleitoral, incentivam o surgimento de um outsider com estas características ou estimulam nomes que já se apresentaram como candidatos a adotar esta roupagem.
Fato é que este centrismo é um caminho perigoso dentro da política, pois gera no eleitor a sensação de vazio e falta de convicção do candidato. Em uma eleição como esta que se aproxima, nada afasta mais o eleitor do que aquele candidato morno, sem paixão ou bandeiras, que se acomoda na roupagem covarde, porém confortável, que visa agradar a todos, mas na realidade não agrada ninguém.
Isto explica porque muitos candidatos deste corte continuam patinando nas pesquisas. Chegariam ao Palácio do Planalto somente impulsionados por uma fatalidade, o fator imponderável da política, mas em condições normais de temperatura e pressão, não emplacam nem sequer no segundo turno. Enquanto isso, aqueles que se apresentaram até aqui com uma mensagem clara, destacam-se no cenário eleitoral.
Isto explica a falta de força dos partidos tradicionais. Os tucanos, novamente envergonhados em defender o legado das reformas de Fernando Henrique Cardoso, seguem pelo caminho habitual. Enquanto isso, um MDB rachado hesita em defender as bandeiras levantadas por Michel Temer. Já o Democratas, outrora centro-direita, hoje redefiniu-se como um partido de centro. Somados, os três grandes partidos do passado não batem em 10% das intenções de voto.
Enquanto isso, Bolsonaro e Lula surgem liderando as pesquisas. O petismo, mesmo sem seu principal líder, estará presente e com o impulso dos militantes, com chances reais de chegar ao segundo turno. Enquanto isso, o conservadorismo liderado por Bolsonaro, que muitos jornalistas afirmam ter atingido seu teto, mostra que parte na verdade de um piso consolidado e confiável para crescer.
Na ânsia de enfrentar alguma destas duas forças no segundo turno, surge um centrismo frouxo, monótono, amorfo, inodoro, incolor, insosso, sem aderência na sociedade. A busca pelo outsider visa preencher esta lacuna aberta pela falta e desgaste de lideranças tradicionais. Entretanto, a vitória de um candidato que inspire liderança, confiança e motivação parece cada vez mais real. Nesta configuração a busca por esta forma de centrismo pode acabar por sepultar a carreira política daqueles que fizeram a opção preferencial pela covardia e a passividade.
Por Márcio Coimbra