OPINIÃO – Respeitem o Brasil: cercando fronteiras

22/08/2018 12:41

O Itamaraty tem que despertar do seu apagão diplomático e voltar a exercer a diplomacia do respeito, da autoridade e da  firmeza. Temos que ter alguém no Palácio dos Arcos  com respaldo presidencial  e  com a firmeza

Expoente do jornalismo  sério no Brasil, Ricardo Boechat denunciou no telejornal da Rede Bandeirantes, referindo-se à posse do novo Presidente do Paraguai “Marito” Benítez, o incessante e crescente tráfico de armas leves e pesadas, munições e explosivos, dos nossos vizinhos guaranis para o território brasileiro, onde os assassinatos de inocentes se contam em segundos, ordenados por organizações criminosas, milícias paramilitares, políticos e afins. O Paraguai, revela Boechat, importa nove vezes mais armas do que o total de sua população. “Marito”, filho do ex-secretário particular do General  Alfredo Stroessner, Mario Ado  Benítez, é novo expoente do Partido Colorado, réplica do PRI mexicano, com mais de cinquenta anos no poder, sustentado por uma salada de milionários, sindicalistas, fazendeiros e classe média dependente do serviço público, que conta com mais de 300 mil funcionários de governo e de estatais. O tráfico de armas, drogas, e o contrabando de bens de consumo é marca registrada das relações entre os dois países fronteiriços há mais de cinquenta anos, e não foi interrompido e nem combatido pelo governo   pretensamente opositor do  padre  Lugo, nos anos em que esteve à frente do governo paraguaio, e fez parte do círculo socialista regional. Lugo apenas acrescentou ao quadro protótipos de guerrilhas e de invasores de terra  nas fronteiras   de ninguém. O Brasil age como um refém do Paraguai, que detém uma arma equivalente a uma bomba atômica, com o compartilhamento binacional de Itaipu, e o  suposto poder de inundar ou de apagar parte  do país. A nação  guarani  sempre foi tida  como um sócio e parceiro prioritário do Brasil, que ainda guarda resquícios de culpabilidade nos subterrâneos do inconsciente da guerra da tríplice aliança no século XIX.  Respeitado e tratado com fraternal compreensão e um toque de paternalismo, pelo grande vizinho do Rio Paraná, o Paraguai  retribui  fechando os olhos à exportação do crime de sangue para o Brasil. Nada fez e certamente nada fará enquanto não houver uma guinada política e diplomática entre Brasília e Assunção.  O   faz de conta das promessas de cooperação dos setores de inteligência  dos dois países nas fronteiras nacionais só será para valer com um real comprometimento político e militar que possa medir benefícios e prejuízos para ambos os lados. No momento, no lado de cá, só contamos com prejuízos. O comércio formal entre Brasil e Paraguai é uma migalha insignificante em comparação aos lucros paraguaios com a exportação do morticínio em termos de armamentos, munições, explosivos e de drogas, eletrônicos, cigarros falsificados ou não, e bebidas. A logística do crime organizado binacional é mais  forte do que  a logística de Itaipu. O foco militar da segurança nacional na Amazônia deve ser compartilhado com foco  adicional na fronteira com o Paraguai. Os nossos consulados de  fronteiras  precisam  ser reavaliados e estruturados  para  assumir um papel prioritário e executivo  na integração com as forças armadas e policiais , para com vista a um   combate efetivo nessa guerra que abate a população brasileira. Inicialmente, e desde que assuma, o novo governo do Brasil, seja qual for, precisa ter como  prioridade o cerco  à fronteira seca e fluvial com o Paraguai.  Uma ação de  guerra de inteligência   limpa, em um estado de paz ,suja de sangue coagulado. E para que essa guerra seja efetivamente   levada a cabo será central o eixo diplomático, com uma Missão Diplomática brasileira em Assunção devidamente instruída e focada nessa batalha contra  a  dissolução da nação. Quem são os responsáveis por este estado de coisas e quais são os interesses regionais e extra regionais na fragilização do Brasil.  A Embaixada em Assunção tem que estar habilitada a responder com objetividade essas questões necessárias ao planejamento estratégico da nossa resistência e dos nossos movimentos táticos para ganhar essa luta infame, que  coloca na UTI  a população brasileira. Em Assunção devemos contar com o que tivermos de melhor em nossos quadros diplomático e de inteligência militar e policial. Não é o local apropriado para a diplomacia de luvas ou de  bastidores . O Itamaraty tem que despertar do seu apagão diplomático e voltar a exercer a diplomacia do respeito, da autoridade e da  firmeza. Temos que ter alguém no Palácio dos Arcos  com respaldo presidencial  e  com a firmeza e  a autoridade do grande brasileiro que foi, por exemplo,   Paulo Nogueira Batista, cujo trabalho testemunhei à frente da delegação do Brasil na  ONU ,na década de 1980. Não temos tempo a perder. A cada  segundo,  literalmente,   cidadãos  brasileiros são abatidos em poças de sangue por armas, munições e explosivos  traficados do Paraguai, onde está homiziado no momento o maior doleiro e lavador de dinheiro do mundo, Dario Messer,  brasileiro-paraguaio   protegido pela máfia que controla as porteiras fronteiriças.

Miguel Gustavo de Paiva Torres é diplomata.