21/09/2018 15:37
Bandeira da França não havia. As últimas já haviam sido distribuídas pelo embaixador na recepção ao Presidente Macron. Comprei um boné azul francês
A porta de saída do museu te joga numa rua de pedestres, exclusiva, mas nem por isso aberta a algum sossego.
Há shoppings dos dois lados e bares nas esquinas.
A menos de um quilometro, uma bandeira do Brasil assume destaque na paisagem turbulenta.
A animação é uma só. Regada à cerveja. Como se sediasse uma liga das nações muito solta, doidona, a céu aberto, a rua fechada aos carros aninha grupos de todos os cantos. De todos os cantos, não. De todos os cânticos e entonações, certamente.
Amanhã termina a Copa na Rússia, mas a turba parece querer prorrogar a alegria. O Brasil fora da final, mas os brasileiros que ficaram, e foram muitos, seguem no clima.
As bandeiras que agitam, preferencialmente, são as da Croácia, da França, da Rússia, do Brasil. Auriverde pendão da minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança!
Por um segundo imagino que deveria ter levado uma bandeira do Maranhão. Lá, me declaro torcedor do MAC, o velho bode gregório, o Maranhão Atlético Clube.
E eu sempre me liguei tanto em futebol que nem sei se o Maranhão ainda existe. O Vitória do Mar ainda existe? O Ferroviário ainda existe? Na Feira do Paraguai, em Brasília, vi um cara vendendo camisas do Sampaio Correa, o de maior torcida em São Luís.
Em São Paulo, meu time é o SPFC, o São Paulo Futebol Clube.
Nada de Corinthians, dono do Itaquerão, o estádio cuja construção foi orçada, a época, em 1 bilhão e 200 milhões de reais. O BNDES caiu com 400 milhões a serem pagos em 12 anos a juros moles. Hoje, só a Caixa Econômica Federal tem mais de um bilhão de reais a cobrar. É o time do Lula.
Aqui, na rua onde o oxigênio só não totalmente puro porque há um bafo de onça, ou melhor, talvez, um bafo de urso, uns brasileiros gritam em português bem claro – Lewandowisk, Lewandowiski e outros respondem Levandouisque, Levandouisque!
E tome mais cerveja no canecão à moda alemã e mais agito com a bandeira brasileira. Lewandowiski, Levandouisque!
Tenho para mim que, embora a pronúncia seja a mesma com que nos referimos em Brasília ao nosso estimado Ministro do Supremo, a alegria dos nossos patrícios esteja a se referir ao Robert Lewandowsk, o festejado atacante de 29 anos, requisitado do Bayern de Munique, Alemanha, para a seleção do seu país, a Polônia. A qual não demorou e logo ficou fora. Que nem o Brasil.
Não achei engraçada aquela curtição dos rapazes brasileiros. Notei que não havia moças entre eles. Alguns barbados, na moda globalizada destes tempos.
Não houve loja que tivesse bandeira do Brasil. A preço salgado, encontramos camisas amarelas do Brasil. Mas com o Brasil fora o que eu iria fazer vestido de amarelo no estádio Lênin vendo a final entre França e Croácia?
Bandeira da França não havia. As últimas já haviam sido distribuídas pelo embaixador na recepção ao Presidente Macron. Comprei um boné azul francês.
Mas o que me chamou a atenção imensa praça à entrada do estádio foi a enorme estatua do Lênin. O cara de colete e terno, e um sobretudo nos ombros, exubera elegância e simpatia. No bronze.
Por Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal. Esteve em Moscou, é claro