Opinião – Lobos vorazes

21/09/2018 16:47

”A geração de políticos que assumiu o poder depois de 1985 frustrou as expectativas dos brasileiros. Só a ela cabe a responsabilidade pelo desencanto na democracia”

Custeado pelos contribuintes, o horário eleitoral põe a nu a fragilidade desta falsa República. Enfadonha sucessão de mensagens radiofônicas ou televisionadas revela a indigência intelectual da maioria dos candidatos, e prejudica a reduzida parcela que teria algo a dizer.

Elevado número dos atuais integrantes do Poder Legislativo procura a reeleição. Consulte-se a relação dos membros da Assembleia Nacional Constituinte eleita em 1986. Passados 30 anos é expressiva a quantidade daqueles que continuam hóspedes privilegiados da Câmara dos Deputados e do Senado, e lutam para não ser despejados. Como lobos vorazes, envelheceram, mas não perderam o vício. A alcateia é incapaz de sobreviver longe da Praça dos Três Poderes e do Tesouro Nacional. A maioria representa Estados pobres e municípios miseráveis, cujas arrecadações mal conseguem pagar prefeitos e vereadores. Outros se colocam como defensores de operários, de servidores públicos, da infância e da família, mas são incapazes de apresentar algo positivo feito em benefício da Nação. Como de hábito prometem moradia, emprego e renda, inclusão social, proteção à infância, defesa das minorias, combate à violência.

A repulsa aos partidos e candidatos é perceptível nas ruas. Estamos a menos de um mês das eleições e fatia importante do eleitorado comparecerá às urnas a contragosto, por ser obrigada. Aguarda-se elevada porcentagem de votos brancos e nulos. Segundo as últimas pesquisas, o confronto final dar-se-á entre Jair Bolsonaro e Fernando (Lula) Haddad.

Por que os eleitores estão apáticos e desiludidos? Imagino que deixaram de entender o significado de expressões como representação popular, república e democracia. Lembrados apenas em épocas eleitorais, o ideal do governo do povo, pelo povo e para o povo, não lhes faz sentido. Para o trabalhador desempregado, o Estado é da elite, pela elite e para a elite. Daí a expansão das áreas de extrema pobreza e a concentração de riqueza nas mãos de minoria. Estamos na oitava Constituição.  Alguém nascido antes de 1934 conheceu e viveu sob todas, mas raramente percebeu diferenças. Para a maioria, pouca diferença faz se a Lei Fundamental continuar sendo emendada, vilipendiada ou vier a ser substituída.

A geração de políticos que assumiu o poder depois de 1985 frustrou as expectativas dos brasileiros. Só a ela cabe a responsabilidade pelo desencanto na democracia.

 

 

Por Almir Pazzianotto Pinto é advogado. Foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.