Opinião – Ocupação de cabeças

24/09/2018 13:22

”Assim, poderíamos ocupar a cabeça de todos. Eles não perdem por esperar. Chegaremos lá. O povo unido jamais será vencido. Ah, se eu fosse o Haddad”

Ah, se eu fosse a camiseta do Lula, quero dizer o Haddad, e conseguisse ganhar essa eleição para presidente do Brasil, o primeiro decreto que assinaria, o de número um da minha presidência, seria a decretação do fim dessa atividade nefasta do capital privado na comunicação social do país: Rede Globo estatizada, mantendo todos os empregados como funcionários públicos, com direito a bônus por bom desempenho ideológico, e mão férrea no comando do que é dito e mostrado à nação brasileira. Afinal, tudo fizeram, esses magnatas coloridos da televisão para desmoralizar e destruir o nosso partido, o maior partido das Américas, o Partido dos Trabalhadores e o seu líder máximo, Lula da Silva.

Descaradamente inventaram, com a ajuda de um juiz , o mensalão, primeira artimanha de uma conspiração que já dura mais de quatro anos. Apesar das sinceras e enfáticas declarações do nosso líder de que nunca houve mensalão. Depois, tiveram a pachorra de inventar um tal de petrolão, mesmo sabendo que nossos chefes sujaram suas mãos com óleo na defesa intransigente deste nosso sagrado patrimônio nacional. E depois a Eletrobrás, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica dos pobres poupadores brasileiros, a Val Marchiori, a refinaria enferrujada de Pasadena, os caça suecos empropinados, a Portugal Telecom, os Fundos de Pensão, as medidas provisórias sob medidas, tudo mentira.

Tudo mentira, deslavada, grosseira, cruel e enganadora.

Esconderam o progresso material e moral da nação, nossa Pátria Educadora e o Brasil para Todos. Magnatas da televisão e da imprensa escrita fazendo a cabeça da população e empurrando o país de volta à ditadura. Destruidores da democracia e da soberania popular. Tudo isso para privatizar os bens públicos e enriquecer banqueiros.

Ah, esqueci de falar no que fizemos com o BNDES, fomentando nossa indústria de conteúdo nacional, e empresas verdadeiramente brasileiras, e ainda ajudando nossos desvalidos irmãos latino-americanos e africanos. Por tudo isso, cá com os meus botões, já decidi. O primeiro decreto da minha presidência vai ser passar o controle dessa monstruosa rede Globo de televisão para as mãos do seu legítimo dono: o Estado e o povo brasileiro. Porque o Estado é o povo e o povo é o Estado.

Chega de novelas e sessão da tarde. Somente programas educativos e mesas redondas informativas. Vamos debater o bem comum e não os interesses privados. E não vai ser só um decreto. Vamos seguir, desta vez, o conselho sábio e avisado do jornalista Franklin Martins e vamos estatizar toda a comunicação social do país. E para sempre.

Tinha pensado em salvar a Folha de S, Paulo, onde temos fiéis colaboradores,  mas com essa virada que estão dando para o lado do Ciro Gomes vai entrar também na degola geral. Partido único, televisão e jornal único-poderiam ser desmembrados em vários canais e jornais, dirigidos a operários, estudantes secundários e universitários, músicos, artistas e intelectuais. Assim, poderíamos ocupar a cabeça de todos. Eles não perdem por esperar. Chegaremos lá. O povo unido jamais será vencido. Ah, se eu fosse o Haddad.

 

 

Por Miguel Gustavo de Paiva Torres é diplomata.