Opinião – PT, ‘fake party’?

22/10/2018 13:29

”O projeto metamorfoseante  do PT parece ser o de dar ao partido uma certa cara de PSDB, menos espinhosa, mais palatável (…) A impressão é a de que tudo no PT virou fake”

Os poucos idealistas que sobraram no Partido dos Trabalhadores (muitos dele se afastaram ao longo do lamacento caminho do ‘mensalão’ ao ‘petrolão’) têm novas razões para chorar e ranger os dentes.

É que, impotentes, testemunham a perpetração de crime de falsidade ideológica contra a essência da própria agremiação, cometido por seus dirigentes por razões meramente oportunistas.

Para emplacar a qualquer custo o candidato de baixo perfil que escolheram, o PT deixa de lado os últimos pruridos. Que se danem a dignidade, a fidelidade à história, aos fundamentos e aos símbolos do partido!

A farsa agora é total, o PT virou um ‘fake party’.

No começo, foram as mudanças cosméticas, o vermelho, cor do coração petista, foi proibido, dando lugar, com algum constrangimento, ao verde-e-amarelo.

Seu símbolo maior, a bandeira vermelha com a estrela do PT foi abadonada, dando lugar, temporariamente, à bandeira do Brasil, com Ordem e Progresso e tudo, no melhor estilo Bolsonaro.

Depois fizeram uma revisão à la União Soviética e simplesmente passaram a tesoura no Lula, uma vez que sua percepção como corrupto passou a ser um passivo eleitoral para o PT.

Mas essas mudanças de nada adiantaram, pois o adversário Jair Bolsonaro continuou a subir nas pesquisas. Já tinha avisado em coluna anterior: com tanto verde-e-amarelo o que o PT ia acabar por conseguir era aumentar o eleitorado do adversário.  Isso, claro, além de aumentar o nível de rejeição de seu próprio Haddad. Foi o que aconteceu!

Diante dessa situação, o partido partiu para ser completamente ‘fake’, passando do cosmético para o essencial, com a mudança dos pontos polêmicos de seu programa eleitoral.

Todos sabemos que tudo não passa de conversa para boi dormir, pois se Haddad viesse a ser eleito, mudaria no dia seguinte tudo o que está hoje dizendo que vai fazer. Mas isso só reforça a sordidez da mudança e não a justifica.

O projeto metamorfoseante  do PT parece ser o de dar ao partido uma certa cara de PSDB, menos espinhosa, mais palatável. Seu programa partidário já passou a mudar de acordo com os  ventos das pesquisas eleitorais. A impressão é a de que tudo no PT virou ‘fake’.

Essa metamorfose acelerada não é espontânea, mas parte de um plano preconcebido, o que a torna ainda mais deplorável. Já tinha sido prognosticada por um dos principais intelectuais do partido, o professor de História da USP e autor do livro “A História do PT”, Lincoln Secco.

Disse o acadêmico logo após a indicação de Haddad como candidato, antes mesmo do primeiro turno, que seria preciso “conciliar sua imagem moderada com um programa partidário dos mais radicais”.(1)

Disse Secco, então: “ Haddad ficará de fato colado à imagem de Lula no primeiro turno, mas caso passe para o segundo turno, pode suavizar o discurso para conquistar eleitores menos identificados com o PT. Acredito que ele foi escolhido em parte por causa disso”.

Em outras palavras, além de chamá-lo indiretamente de “poste” – um poste certamente mais suave do que foi o poste Dilma – Secco antecipou que todas essas manobras de mudança de imagem já eram premeditadas.

O programa inicial da candidatura  PT  2018  foi bastante radical tanto na linguagem quanto nas propostas, como aliás foi admitido pelo próprio José Dirceu, em entrevista. Inicialmente, foram nele incluídas propostas percebidas como radicais, com uma reforma tributária, o questionamento direto do teto dos gastos públicos, mudanças no imposto de renda, entre outros.

 

AS MUDANÇAS DO PROGRAMA DO PT

Retira a idéia de convocar uma assembleia constituinte em entrevista no Jornal Nacional (TV Globo). A nova  posição é a de fazer eventuais modificações por intermédio de emendas. (3)

Inclusão. No item sobre  políticas para o agronegócio, foram acrescentadas medidas novas, como desburocratizar a política de crédito rural e investimento em segurança e policiamento rural(3)

 Haddad retirou de seu programa menções à reforma da polícia e a descriminalização de drogas. (3)

Haddad retirou proposta de “investir na reforma da legislação para reservar a privação de liberdade para condutas violenta …”. A proposta foi modificada para“as prisões devem, prioritariamente, tirar o criminoso violento de circulação”.(3)

Inclusão de item: “O número de roubos e furtos no país reclama providências urgentes para assegurar que cidadãs e cidadãos caminhem pelas ruas do país sem medo de serem assaltados”. (3)

Inclusão de item.   Passa a defender a autonomia do Banco Central e inclui entre as atribuições da entidade a estabilidade do sistema financeiro. O texto anterior  falava apenas que “que o Banco Central reforçaria o controle da inflação, assumindo também o compromisso com o emprego”.(3)

 

FAKE NEWS

Que o PT não mede esforços para vencer uma eleição presidencial,  já ficou mais do que claro em 2014, quando com dinheiro ilícito financiou a rica e mentirosa campanha de propaganda de sua candidata Dilma Rousseff.

/Naquela campanha, o PT lançou mão das mais deslavadas mentiras para descontruir a imagem dos adversários. Marina Silva foi uma das vítimas. Em recente entrevista à agência alemã DW, disse que as “fake news” não foram iniciadas com o Trump, mas em 2014, contra ela, pela campanha do PT. (2)

 

Fontes – (1)  Entrevista á revista Exame, 12.9.2018.  (2)  Entrevista à DW. (3)UOL 

 

Por Pedro Luiz Rodrigues, diplomata e jornalista.

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