24/11/2018 14:17
”…a diplomacia brasileira foi tomada de surpresa quando, em maio de 2007, tropas bolivianas ocuparam duas refinarias da Petrobrás. Mas no Planalto, a ocupação foi comemorada”
A economia boliviana, que apresentou desempenho excepcional no período 2004-2014, anda agora aos tropeções. A queda dos preços de suas matérias primas de exportação simplesmente acabaram com “milagre boliviano”: a situação fiscal se agrava e as contas externas entraram em desarranjo.
Sem poder ampliar a assistência à pobreza, em razão da escassez de recursos, só há uma maneira de Morales iludir a opinião pública de seu país e reeguer o seu prestígio: criar ameaças e adversários externos.
Morales infernizou a vida do Chile nos últimos anos, como paladino pela revisão do acordo que tirou da Bolívia o acesso ao mar. Durante muito tempo, seus discursos duros e emocionais contra os chilenos valeram-lhe dividendos eleitorais. Mas a Bolívia acaba de ter seu pleito derrotado na Corte Internacional de Justiça, deixando Morales a chupar os dedos.
Em tais circunstâncias, Morales poderia considerar ser eleitoralmente vantajoso lançar desafios ao Brasil – o gigante geográfico e econômico da região- de modo a reeguer sua imagem de valentia e coragem.
A partir do início do processo de impeachment contra Dilma Rousseff, Morales vem se sistematicamente se intrometendo nos assuntos internos brasileiros, insistindo em desqualificar nossas instituições, em particular o Congresso e o Poder Judiciário. Mais recentemente posicionou-se contrariamente ao candidato que se tornaria o presidente eleito do Brasil.
Lula e Morales se articularam para ocupação de refinarias da Petrobras
Desde 2006, quando assumiu a presidência da Bolívia, Evo Morales percebeu que em suas relações com o Brasil conversar com o Itamaraty significava perda de tempo. A boa liga que já existia entre seu vice-presidente Álvaro Garcia Linera com o assessor internacional da Presidência da República (e ex-diretor de assuntos internacionais do PT), Marco Aurélio Garcia (MAG), permitiu que se abrisse canal direto de relacionamento com o Palácio do Planalto, onde, em nome da irmandade ideológica, todos os problemas se resolviam.
Nessa circunstância, nos governos do PT, o governo boliviano passou a driblar os chanceleres brasileiros, os quais percebia como figuras meramente decorativas. Por essa razão, a diplomacia brasileira foi tomada de surpresa quando, em maio de 2007, tropas bolivianas ocuparam duas refinarias da Petrobrás. Mas no Planalto, a ocupação foi comemorada. De tudo já se sabia de antemão, o plano havia dado certo.
Em razão dessa linha direta entre Morales e Lula, e entre Garcia Linera e MAG, os documentos do Itamaraty sobre o assunto poderão estar incompletos. Mas a confirmação do complô, das articulações por trás das cenas e dos registros oficiais, foi dada por uma insuspeitada testemunha: Luiz Inácio Lula da Silva, que então era o Presidente da República. Em palestra que proferiu em São Paulo, em outubro de 2015, Lula confirmou as manobras, cujo objetivo seria a “doação” das refinarias para o governo de seu camarada Morales.
Por Pedro Luiz Rodrigues, é jornalista e diplomata.