Opinião – Protestos não prenunciam derrocada

16/05/2019 14:57

”A ironia disso tudo é que, Bolsonaro foi o primeiro político a intuir corretamente que aqueles protestos de meados de 2013 (…) ele acabaria sendo o maior beneficiário”

Manifestações de ontem, que misturaram protestos contra o contingenciamento orçamentário das universidades e institutos federais com apelos à soltura de Lula, adicionam tensão à guerrilha de desgaste movida pelo Centrão contra um Executivo que, até agora, tem se recusado a jogar segundo as regras do presidencialismo de coalizão/cooptação/corrupção.

Mas será que esses protestos prenunciam a derrocada do governo JB, como as Jornadas de Junho (2013) foram o prelúdio ao impeachment da Dilma e, em seguida, à eleição do ‘mito’?

Creio que não.

A gente recorda que ali, depois de um fugaz protagonismo da extrema esquerda não petista à testa dos movimentos, a iniciativa passou rapidamente para as mãos de grupos de ativistas (presenciais e digitais) situados do centro para a direita do espectro político-ideológico, a exemplo do MBL, do Vem Pra Rua, entre outros.

Sinceramente, não percebo uma alteração nessa correlação de forças políticas e socioculturais. O que não significa que o governo esteja navegando em céu de brigadeiro: à medida que as pessoas percebem que a qualidade dos serviços públicos de saúde, segurança e educação não melhora ‘da água para o vinho’ com a rapidez sonhada, e à medida, também, que a retomada da economia — e, portanto, dos empregos — demora para ‘engrenar’, a tendência é o presidente e o seu governo sofrerem desgaste da sua popularidade, o que os torna mais vulneráveis às investidas clientelistas e enfraquece sua imagem perante aquelas tais bases socioculturais.

A ironia disso tudo é que, na minha opinião, Bolsonaro foi o primeiro político a intuir corretamente que aqueles protestos de meados de 2013, de início difusos, volatilizados, sem uma liderança nítida etc, refletiam a mudança política ‘tectônica’ da qual ele acabaria sendo o maior beneficiário.

 

 

 

 

Por Paulo Kramer é cientista político.

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