Opinião – O quiproquó na casa do crime

05/07/2019 16:58

”Há sempre um Cidadão Kane agindo nas sombras do seu castelo, em Roma ou em São Paulo…”

Um deputado desqualificado chama um juiz de ladrão tentando salvar ladrões que não serão salvos, invertendo o verso do reverso.

Um grupo de cínicos na montagem de uma farsa que não convence nem o público de uma feira ao ar livre, no interior mais profundo da nação tupiniquim, fonte da sabedoria ancestral dos homens e mulheres simples, mastigados e cuspidos como sabujos por falsos caciques e pajés em milênios de dominação política em suas tribos e arruamentos urbanos.

Terminada a segunda guerra mundial, a Itália ocupada pelas forças aliadas foi entregue ao comando político da máfia pelos estrategistas do novo “mundo livre” formulado pela cúpula do emergente império norte-americano. Criaram a Democracia Cristã como ponta de lança desse projeto de controle político e social.

Com o passar do tempo, as máfias, nacional e regionais, infiltraram todo o espectro político partidário da “democracia” italiana, inclusive o Vaticano como efeito colateral, e roeram, por dentro, o Partido Socialista Italiano- o PSI-; contaminando os últimos vestígios de uma encenação da democracia parlamentar na velha Roma. Bombas, explosões, terrorismo, atentados, chegaram a atingir os alicerces de todas as instituições nacionais italianas, imolando na fogueira do crime organizado inocentes e homens de bem, como o juiz Falcone.

A Operação Mãos Limpas, assim como a Operação Lava Jato, sua cria mais representativa no mundo, passou a ser o alvo político de uma contra operação decidida a restaurar o poder de todas as máfias, de todos os partidos; e de associações diversas, de empresários e advogados, policiais, militares, cardeais e jornalistas, interessados em restaurar o status quo anterior e os fluxos bilionários do dinheiro fácil da corrupção que corria nas veias do sistema, irrigando o coração dos algozes das maiorias indefesas e inocentes.

O povo, em sua concepção concreta mais ampla, manipulado a torto e a direita pela mídia liderada pelos Berlusconis do Poder. Há sempre um Cidadão Kane agindo nas sombras do seu castelo, em Roma ou em São Paulo, falando em códigos e com misturadores de vozes em suas conspirações para a derrubada da soberania popular e vitória final das máfias, na sangrenta batalha para retomar o mal pela raiz e fazer florescer, novamente, a árvore dos enforcados, em nossa floresta do crime.

Por Miguel Gustavo de Paiva Torres é diplomata.

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