16/10/2019 17:44
”Gente que conheci cheia de censura moral, que massacrava quem cometesse o mínimo erro, hoje defende abertamente a prática da corrupção como algo inevitável e que sempre existiu”
Quando a campanha eleitoral passada estava em curso, as pessoas não questionavam a idoneidade moral de ninguém, apenas se A ou B dispunham de condições financeiras para bancar o pleito. Gente que já havia sido presa ou condenada por corrupção e outros crimes era festejada nos comitês eleitorais.
Deu para perceber que a régua moral da maioria é relativa. Não importa a origem do dinheiro do candidato, desde que aquele grupo ou família estejam sendo beneficiados.
À direita ou à esquerda, campanhas foram bancadas de dentro dos presídios. Os cabos eleitorais nunca questionam moralmente o candidato, fixam-se somente no pagamento na data combinada.
Se o criminoso for rico, não sente vergonha de nada, porque muitos o abraçam e consolam, levam-no para as festas badaladas, publicam suas fotos em colunas sociais. Os partidos disputam seu apoio.
Uma chapa inteira foi impugnada porque certo político, segundo as más línguas, infiltrou um pupilo nas fileiras partidárias e deu a ordem para que ele inviabilizasse a legenda.
Se à direita e ao centro não se questiona a retidão de caráter do candidato, à esquerda se perdoam todos os pecados, corrupção, assassinatos, enriquecimento pessoal ilícito, compra de votos e lavagem de dinheiro, desde que o criminoso seja do mesmo credo ideológico e político.
Gente que conheci cheia de censura moral, que massacrava quem cometesse o mínimo erro, hoje defende abertamente a prática da corrupção como algo inevitável e que sempre existiu.
A nossa régua moral está quebrada há muito tempo.
Por Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.