23/04/2020 12:38
”No caso brasileiro, os ‘gestos’ deveriam partir não apenas do Presidente Bolsonaro, mas também de seus adversários, inclusive do Partido dos Trabalhadores”
Quando se fala em preservar a democracia, toda ação, ou tentativa é válida.
O Brasil está imerso, além de numa crise sanitária, numa delicada crise político-institucional. Ninguém pode negar.
Tudo se acalmou no início da semana, com a posição firme das Forças Armadas, em favor das liberdades e instituições livres. Porém, seria “tapar o sol com peneira” negar os choques entre o Presidente Bolsonaro, o Congresso e o STF.
Não cabe analisar as razões desse clima, por serem óbvias para aqueles que tenham bom senso e lucidez.
Chega a hora de “gestos”, que jamais significarão adesismos, ou, “negociata política”. O cientista político Sérgio Abranches, em 1988, usou o termo “presidencialismo de coalizão”, que significa em todas as “democracias do mundo”, alianças entre partidos políticos/forças políticas, em torno de objetivo comum. Isso pode ser feito às claras, sem subterfúgios e à luz do meio dia, em torno de critérios e metas administrativas a atingir. Nas últimas horas anuncia-se que o Presidente Bolsonaro busca essa “coalizão”, o que é bom e não significará “traição” ao que ele pregou na campanha.
A história mostra diálogos entre contrários, em defesa de objetivos superiores. Churchill tinha relações tensas com Stalin. Mas, em plena guerra (1942) encontrou-se e firmou aliança com a Rússia, que colaborou para a Paz Mundial.
No ano seguinte, novo encontro de “contrários” para idêntico objetivo: Josef Stalin, Churchill e Roosevelt.
Na ditadura Getúlio Vargas, o líder comunista Carlos Prestes ficou preso por nove anos e viu sua esposa, Olga Benário, ser entregue, grávida, à Alemanha nazista. Mesmo assim, os dois dividiram palanque na cidade de São Paulo, em manifestação pró democracia.
No caso brasileiro, os “gestos” deveriam partir não apenas do Presidente Bolsonaro, mas também de seus adversários, inclusive o PT.
Uma “pauta” de superação de divergências e aproximação de convergências seria a bússola a orientar todos. Nunca foi tão atual a frase do Almirante Barroso: “O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever”.
Por Ney Lopes – advogado, jornalista, ex-deputado federal e ex-Presidente do Parlamento Latino Americano