05/05/2020 00:01
”Com essa estrutura de poder ‘ágil como elefante’, não se consegue obter as reformas administrativas e políticas há muito tempo necessárias e reclamadas”
“Quando a gente pensa que chegou à melhor idade, o mundo da uma guinada e a gente vira grupo de risco…” autor desconhecido. Estou enquadrado nessa afirmação, graças à Pandemia do coronavírus.
Volto agora, ao tempo da minha juventude, e o pensamento leva-me a relembrar as minhas conquistas e os meus desenganos. Mais conquistas que desenganos. Dentre as conquistas, destaco o privilégio da família que construímos, eu e minha mulher, casados há 59 anos, tempo quase impossível comparado aos casamentos “modernos”.
Fui criado ouvindo: Brasil País do Futuro. Até hoje continuo ouvindo, ou melhor, vivendo nele, no País do presente. Muito mais desigual do que vivenciei ao longo da minha vida. Milhões de brasileiros na pobreza, sem instrução, sem emprego, massa disforme de um povo ordeiro, sempre com a esperança de melhorar.
Na década de 60 foi publicado o livro BRASIL 2001, de autoria de Mário Henrique Simonsen, então assessor especial do Presidente da Confederação Nacional da Indústria, Thomas Pompeu de Souza Brasil Neto. É leitura que ajuda a compreender as razões do nosso subdesenvolvimento. Ele, Mário Henrique Simonsen, inteligência reconhecida e festejada, engenheiro, não economista, Ministro da Fazenda no governo do Presidente Geisel, demonstra com números e projeções, soluções econômicas e políticas que poderiam ser implantadas buscando um desenvolvimento sustentável para o País.
O crescimento demográfico durante mais de quatro décadas é sempre apontado como uma das principais causas dos nossos problemas atuais, tanto econômicos como institucionais. Ouso discordar em parte: crescimento demográfico pode ser bom ou ruim, dependendo do que os novos habitantes têm à disposição, como saúde e educação. Países que vêm investindo pesadamente nessas áreas há mais de 50 anos colhem agora os frutos de decisões acertadas.
No meu entender, o que mais tem contribuído para impedir o Brasil de ser incluído no seleto grupo dos Países desenvolvidos, é a educação pífia, o analfabetismo, o pouco patriotismo, a corrupção endêmica e uma elite despreparada. Junte-se ainda o sistema de governo, que nunca passou perto de nos fazer uma real federação, concentrar os recursos no governo federal, enquanto a maior parte das obrigações fica para estados e municípios. Para que se altere essa nefasta estrutura, os 3 poderes das 3 esferas teriam que acordar uma quebra de paradigma em que alguns ganhariam e outros perderiam, algo perto do impossível numa estrutura “altruísta” como a da nossa política partidária.
Lei Eleitoral que permite um número de partidos que hoje somam 32, na maioria, apenas, para receber recursos públicos do chamado Fundo Partidário financiador das campanhas eleitorais, mantém-nos inerte “presidencialismo de coalizão”, que já produziu dois impeachments em menos de 30 anos. Sem chances de dar certo. Se não vejamos: no Executivo, burocracia invejável, no Legislativo uma câmara de deputados federais com 513 representantes do povo, Senado com 81 senadores representando os Estados, nos Estados câmaras de deputados estaduais, nos Municípios câmaras de vereadores.
No Judiciário, decisões protelatórias que se arrastam por décadas, proporcionando aos advogados honorários milionários sem que justiça se faça.
Com essa estrutura de poder “ágil como elefante”, não se consegue obter as reformas administrativas e políticas há muito tempo necessárias e reclamadas.
Somos o País dos contrastes, para agravá-los, ainda mais, vem essa epidemia do coronavírus, que assola o planeta terra.
Quem se arrisca prever o nosso futuro?
Por Jorge Motta é jornalista