01/06/2020 00:48
”O modo de agir de um sabotador é clássico (…) Busca reduzir ou mesmo suprimir os recursos necessários ao andamento de qualquer projeto que não goze de sua simpatia”
Contemple seu planeta. Seu país. Perceba que muitas das dificuldades que enfrentamos por conta da pandemia que se instalou poderiam ter sido evitadas – estamos todos a sofrer mais do que deveríamos.
Veja, por exemplo, como ainda somos uma sociedade presa ao papel – das repartições públicas ao mundo privado. E medite sobre como poderíamos, neste momento, ter uma economia e uma sociedade mais dinâmicas. Tente calcular quantos semelhantes nossos estão sofrendo por conta do nosso atraso.
Analise, agora, o conjunto de nossa civilização. E sinta como temos perdido tempo! Olhe, com olhos de ver, como temos perpetuado as práticas anacrônicas – e com isso facilitado o domínio dos maus.
Que esta pandemia nos tenha legado a lição de que prevenir é melhor do que remediar. A constatação de que não se deve retardar o progresso – seremos nós, afinal, a pagar o preço que o obscurantismo impõe.
Recuperar o tempo perdido será tarefa para algumas gerações. Mas, para que possamos iniciar este processo de forma séria, um primeiro e formidável inimigo deve ser combatido: os sabotadores.
São pessoas aparentemente comuns, que fazem parte do cotidiano da humanidade. Podem ser identificados pela oposição surda e discreta, porém cruel e firme, a qualquer inovação. Sabotam, sem piedade, qualquer boa iniciativa.
Os motivos dessa gente são os mais mesquinhos possíveis. Giram, normalmente, em torno da defesa do “meu espaço”, da “minha informação”, do “meu setor” etc. Eventualmente passam pela inveja pura e simples, materializada na conhecida expressão “botar azeitona em empada alheia”. E chegam, em alguns casos, na manutenção de esquemas cavernosos de poder e corrupção.
O modo de agir de um sabotador é clássico: “cava por baixo”, influenciando tomadores de decisão e o próprio público. Busca reduzir ou mesmo suprimir os recursos necessários ao andamento de qualquer projeto que não goze de sua simpatia.
Não os subestime. Sabe quem inventou o rádio? Um brasileiro, Roberto Landell. Dois anos antes de Marconi transmitiu a voz, e não apenas sinais telegráficos. Fez isso ali em São Paulo – para ser acusado de bruxaria e ter seus inventos queimados.
Medite, agora, sobre quantos sabotadores você já viu em ação. E perceba, com Morgenstern, que “quanto menor o cantinho, tanto maior a escuridão”.
Por Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.