Análise – O bom exemplo do cooperativismo financeiro na pandemia

03/08/2020 00:23

”Micro e pequenas empresas conseguem amparo em cooperativas durante pandemia; oferece socorro a pequenos negócios; são mais de 850 cooperativas”, aponta Melles

Desde o início da pandemia do coronavírus no Brasil, o Sebrae vem monitorando o impacto da crise econômica no setor dos pequenos negócios por meio de pesquisas nacionais, 1 termômetro que ajudou a avaliar o alcance da crise econômica provocada nos últimos meses, com queda do faturamento, demissões e fechamento de unidades. Nos sucessivos levantamentos, um obstáculo se destacou como crucial na busca de soluções emergenciais: as dificuldades de obtenção de empréstimos bancários para a sobrevivência imediata e manutenção das atividades.

Nesse quadro de adversidades ainda em andamento, uma novidade positiva despontou nos resultados das pesquisas: a força do cooperativismo financeiro como instrumento de acesso ao crédito para micro e pequenas empresas (MPEs).

Quando considerada a taxa de sucesso na busca por empréstimos, o ranking das instituições que proporcionalmente liberam mais crédito para os pequenos negócios coloca o Sicoob e o Sicredi à frente dos 2 maiores bancos públicos do país, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, bem como dos gigantes privados Bradesco, Itaú Unibanco e Santander. Na enquete realizada de 25 a 30 de junho, o Sicoob apresentava taxa de sucesso de 20%, ao passo que o Sicredi, de 17%.

Essa taxa de sucesso se reflete no resultado do crescimento das carteiras de crédito das cooperativas no período da pandemia. Segundo dados obtidos junto ao Sistema Sicredi, no período de janeiro a maio deste ano a concessão de crédito para os pequenos negócios foi de R$ 2,7 bilhões, representando um aumento de 21,3% em relação ao mesmo período de 2019. Já no Sistema Sicoob houve um aumento de 27,7% na quantidade total de operações de crédito para o segmento. Somente na carteira de empréstimo e financiamento o aumento no volume de concessão no Sicoobfoi de 71,7%, atingindo o volume de R$ 6,6 bilhões de janeiro a maio de 2020, frente aos R$ 3,8 bilhões no mesmo período de 2019.

De imediato, essa realidade pode indicar um caminho alternativo para as MPEs que tiveram seus pedidos de crédito rejeitados ou que ainda venham a apresentá-los. A mesma pesquisa do Sebrae constatou que 57% dos pequenos negócios não haviam conseguido empréstimo, 25% aguardavam resposta e apenas 18% tiveram o pedido atendido. Os bancos de maior porte são exatamente os mais procurados pelos pequenos negócios, por já terem conta e por desconhecimento das possibilidades das cooperativas. Dito de maneira clara às MPEs: tentem também as cooperativas nessa hora de tantos apertos.

Uma explicação para ajudar a entender porque há mais facilidade para essa aprovação está no próprio objetivo das cooperativas, que visam a geração de valor compartilhado para os seus cooperados. Elas oferecem os mesmos serviços de uma instituição financeira tradicional, com o diferencial de ser mais simples, mais vantajoso e mais justo para o conjunto de seus associados. Se a cooperativa for do tipo livre admissão, qualquer pessoa física ou jurídica pode fazer um pedido para compor o quando de associados. Tradicionalmente, já trabalham com juros mais baixos do que o mercado e com menos burocracia. Ao mesmo tempo, zelam pela saúde de suas operações, submetidas aos mesmos rigores das normas do Banco Central, como integrantes do SFN (Sistema Financeiro Nacional).

Dessa maneira, as cooperativas priorizam a colaboração e a associação de pessoas ou grupos com os mesmos interesses, visando a obter benefícios comuns em suas atividades econômicas. Praticam uma política de finanças de proximidade, ou seja, conhecem melhor o cliente. Possuem, portanto, uma afinidade natural com as empresas de menor porte e servem de canal com interlocução de igual para igual para os pequenos empreendedores.

O cooperativismo financeiro ocupa posição estratégica na agenda do Sebrae, por considerá-lo opção bastante consistente para que as MPEs tenham acesso ao crédito saudável e a serviços financeiros eficientes. O suporte do Sebrae se dá mediante a prestação de serviços tanto para empreendedores já associados ou com potencial para se associar, quanto para gestores e lideranças cooperativas.

Já em 2003, foi instituído o Programa Sebrae de Apoio ao Cooperativismo de Crédito, que atualmente se encontra em seu 4º ciclo de apoio ao segmento. De 2008 até agora, o balanço soma 22 unidades da Federação contempladas e cerca de 400 cooperativas participantes. Foi prestado atendimento com soluções de capacitação e consultoria a mais de 5.000 empresas cooperadas. As ações contribuíram para a adesão de  mais de 220 mil novos pequenos negócios e o incremento acima de R$ 8 bilhões no saldo da carteira de crédito de pessoa jurídica das cooperativas integrantes.

O Sebrae também dá suporte às SGC (Sociedades de Garantia de Crédito), que fornecem o aval necessário para obtenção de empréstimos. O FRL (Fundo de Risco Local) reúne R$ 33 milhões, destinados exclusivamente para amparar garantias a MPEs junto a instituições conveniadas às SGC. Mais de 80% das operações de créditos avalizadas pelas SGCs são em cooperativas de crédito.

Diante dos prejuízos causados pela pandemia da covid-19 à economia brasileira, o cooperativismo vem demonstrando que cumpre um papel vital de sustentação às MPEs. São 857 cooperativas e mais de 6.000 pontos de atendimento em todo o país, contribuindo de maneira significativa para a retenção de renda nos municípios e para o desenvolvimento das comunidades locais. Com seu espírito de solidariedade, servem de exemplo a ser seguido por todo o sistema financeiro nacional, público e privado, na ajuda tão necessária aos pequenos negócios na atualidade.

 

 

 

 

Por Carlos Melles, 72 anos, é presidente do Sebrae.

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