Opinião – Vacina de plasma de cavalo

25/08/2020 11:12

”O presidente estava piorando e não parava de sair às ruas, agredindo os profissionais de mídia que ainda restavam no país”

Segundo informações do sistema de investigações privado do padrinho de batismo do tio de um amigo meu, o tratamento contra o corona vírus que acometeu o presidente da República Popular do Bundão foi realizado com a vacina de plasma de cavalo.

Cientistas de vários países foram até o laboratório responsável pela vacina, refizeram os testes, sempre acompanhados pela imprensa mundial e, no sábado passado, anunciaram o resultado  em entrevista coletiva.

O relatório de três cientistas apurou que, realmente, a vacina de plasma de equinos apresentou resultados surpreendentes na cura do vírus, mas com efeitos e sequelas desconhecidos. Em power point, apontando com o laser, enumeraram: a vacina faz efeito na cura do SARS-CoV-2 .

O principal efeito da aplicação é que o paciente, em cerca de 60 dias, sofre de pânico e desorientação momentânea.

Indivíduos com comportamento anormal desde a infância apresentaram reações distintas; se agressivos, após os sessenta dias, passaram a ser mais tranquilos e sociáveis como se tivessem passado por treinamento intenso em estrebarias para obedecer comandos dos instrutores.

Na segunda fase, alguns deixaram o cabelo crescer em forma de crina e, repentinamente, saÍam do caminho determinado, relinchando, dando coices e balançando as ancas.

Na terceira fase, com a dentadura proeminente e orelhas longas, saíram em passeios entre multidões e chamaram crianças para subirem em seu lombo. Até mesmo um anão foi pego à força para alcançar a altura do animal.

A solução possível para resolver o problema seria reverter a aplicação, porém, nos estudos dos cientistas locais não houve o cuidado para anular os efeitos da vacina. O presidente estava piorando e não parava de sair às ruas, agredindo os profissionais de mídia que ainda restavam no país.

Dia desses, o quase equino respondeu a um jornalista do “Sem Fronteiras” que furou a segurança e que fez a seguinte pergunta sobre uns depósitos feitos na conta bancária de sua esposa:

– Presidente, o que o senhor tem a dizer sobre uns valores que entraram na conta da sua esposa?

– A vontade que tenho é encher a sua boca de porrada.

– Fique à vontade, respondeu o repórter; só gostaria de avisá-lo que sou lutador profissional MMA, e não devo lutar contra idosos ou deficientes. Determine o afastamento dos seus seguranças, os cem que o rodeiam, pois não serei capaz de encher suas bocas de porradas, como farei com a sua.

O presidente recuou, relinchou, deu um coice em um guarda-costas, empinou e saiu em desabalada carreira em direção às estrebarias do palácio, onde chegou de cabeça baixa e rabo entre as pernas. Foi socorrido por um veterinário que determinou o uso de cabresto e antolhos todas as vezes que sair às ruas.

O repórter, antes de ser preso, se refugiou em uma embaixada de país neutro.

 

 

 

 

Por Paulo Castelo Branco

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