Opinião – Marketplaces para ampliar as vendas do pequeno varejo

24/09/2020 00:50

”Vendas pela internet cresceram. Varejo tem o desafio de manter. Marketplaces podem solucionar”, aponta Carlos Melles

Durante a pandemia do coronavírus, estimuladas pelo fechamento compulsório das lojas físicas e o recolhimento das pessoas aos limites da residência, as vendas online tiveram crescimento sem precedentes, reflexo direto das mudanças de hábito da população.

Alimentação, vestuário, informática, produtos eletrônicos, cuidados pessoais, móveis, itens de saúde ou lazer –o carrinho de compras das lojas virtuais nunca esteve tão abarrotado ou fez tantas viagens pela internet.

Conforme dados da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, em fevereiro, mês anterior à disseminação do coronavírus no Brasil, registrou-se um crescimento de 27,5% do e-commerce, em relação ao mesmo período de 2019. De maio a julho, esse número esteve em patamares bem mais elevados, com pico de 137,4% a mais em maio, comparando-se ao ano passado.

Com base nesses números, reportagem recente da Folha de S. Paulo mostra que, agora, manter as vendas digitais em alta é o desafio para o varejo diante da crescente reabertura das lojas físicas e o relaxamento das medidas de isolamento na maior parte do país.

“Pesquisa nacional do Sebrae, realizada em parceria com a Fundação Getúlio Vargas entre 25 e 30 de junho de 2020, comprovou que os marketplaces foram boa alternativa para os pequenos negócios na hora de enfrentar a crise econômica”

Nesse novo cenário, acredito que um bom caminho para as micro e pequenas empresas (MPEs) e os microempreendedores individuais (MEI) está na adesão aos marketplaces, uma espécie de shopping center virtual.

É uma plataforma que reúne diferentes tipos de produtos e serviços com o objetivo de atingir o maior número de clientes possíveis. Mercado Livre, Americanas, Amazon, Magalu, Submarino, Dafiti e Privália são alguns dentre os exemplos mais conhecidos.

Ao varejista, basta se cadastrar na plataforma e colocar seus produtos à venda. Uma das principais vantagens oferecidas pelo marketplace é a garantia de um público bastante amplo, com abrangência nacional, de segmentos sociais e grande diversidade cultural.

Em meio a tanta disputa no ecossistema da internet, conseguir alguns segundos da atenção do consumidor é crucial, especialmente para quem está ingressando no e-commerce. Atrair visitantes para uma loja virtual própria pode exigir investimento alto em promoção na internet e nas redes sociais.

Outro benefício é que o vendedor não precisa se preocupar com a solução para pagamento, já que o processo é todo realizado pelo marketplace. Além disso, as plataformas fornecem possibilidade de acompanhamento da performance em tempo real, com informações detalhadas sobre o fluxo de suas vendas. De posse dessas métricas, podem ser identificadas melhores práticas, tendências e problemas que afetem o desempenho do negócio.

Como contrapartida pelos seus serviços, os donos do marketplace cobram uma comissão dos vendedores, que varia conforme as regras de cada plataforma, variando em geral de 10% até 25%. O pequeno varejista, sobretudo, precisa saber precificar bem seu produto para não perder sua margem de lucro com a comissão.

É necessário também estar consciente de que o marketplace não é uma solução mágica, bastando colocar os produtos na prateleira digital e esperar uma explosão de cliques de pessoas comprando os produtos expostos. Afinal, trata-se de um ambiente em que a competição é até muito maior do que no mundo físico. Há milhares de vendedores, e muitos oferecendo o mesmo produto, o que exige muita atenção com a concorrência e a busca permanente de trunfos que ajudem a se destacar na multidão.

Pesquisa nacional do Sebrae, realizada em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre 25 e 30 de junho de 2020, comprovou que os marketplaces foram boa alternativa para os pequenos negócios na hora de enfrentar a crise econômica.

Dentre os entrevistados que usavam canais digitais em geral para a venda, muitos já adotavam os marketplaces: Mercado Livre (6%), OLX (5,6%), Americanas (1,3%) e Magazine Luiza-Magalu (1,2%), números que revelam um grande espaço para ampliação.

O Mercado Livre, por exemplo, apresentou dados muito vigorosos já na primeira onda da pandemia, tendo recebido 2,6 milhões de novos compradores no Brasil somente entre o período do final de fevereiro ao começo de maio, um acréscimo de 28% em relação ao mesmo período de 2019, segundo relatório interno. O número de pedidos subiu 39%.

Em direção semelhante, o principal destaque da operação digital do Magalu foi o marketplace, responsável pela venda de produtos de 32 mil vendedores e “que cresceu impressionantes 214% no trimestre”, segundo dados oficiais do segundo trimestre de 2020.

Esses resultados reforçam a boa oportunidade que representa a parceria entre o Sebrae e o Magazine Luiza, ao proporcionar acesso diferenciado aos clientes da nossa instituição ao marketplace Parceiro Magalu.

Em levantamento realizado em agosto, 60% das empresas cadastradas no Parceiro Magalu eram também de clientes Sebrae, isto é, 23 mil dos 36 mil CNPJs cadastrados na plataforma.

A parceria Sebrae e Magalu também beneficia as MPEs, por facilitar a transformação digital delas e abrir novos canais de venda. Além do diagnóstico de maturidade para comércio eletrônico, o Sebrae disponibilizou três módulos para a qualificação de negócios em seu portal: o que é marketplace e como isso pode ajudar o seu negócio; como fazer sua loja virtual vender mais e como melhorar a gestão. Mais de mil pessoas já passaram por essa trilha, que é gratuita e está aberta a qualquer empreendedor.

O panorama revela-se, portanto, muito promissor para quem quer entrar no universo do marketplace ou ir mais fundo nas suas enormes possibilidades. Vale acrescentar que estamos também diante de três bons momentos para dar esses passos: a Semana do Brasil, a Black Friday e a proximidade do Natal e fim de ano. Com planejamento, criatividade e dedicação, o retorno pode ser surpreendente para o seu negócio.

 

 

 

 

Por Carlos Melles, 72 anos, é presidente do Sebrae.

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