08/10/2020 11:45
Recentemente foram retomadas pesquisas e plantios de trigo em escala comercial em todas as regiões do cerrado brasileiro. Foi concluída também, neste mês, a safra de trigo irrigada.
Ela é plantada após a soja quando a janela climática não é mais adequada para o milho, ou como 3ª safra, após soja e milho. Novamente tivemos produtividades surpreendentes.
Até há poucas décadas, se pensava que os países produtores de alimentos (cereais e oleaginosas) estariam situados na zona temperada do hemisfério norte: Europa e Estados Unidos.
Aos países tropicais restariam algumas culturas de subsistência e o extrativismo.
Esta era a situação mundial da produção de alimentos até a década de 70, quando foi fundada a EMBRAPA, e dada largada para a pesquisa agropecuária, que tiraria o Brasil da condição de importador de comida.
Começamos com o “pé direito”. Naquela época centenas de agrônomos, graças à visão do ministro de agricultura da época Alysson Paulinelli, foram enviados ao exterior para fazer cursos de pós graduação nas universidades europeias e americanas. Foi o começo da nossa “inteligência” rural, que se mantém até hoje, agora com as próprias pernas e que resultou nesse tremendo sucesso.
A natureza nos proporcionou o cerrado incompleto para o plantio.
Quimicamente os solos são extremamente fracos, porém, tecnologicamente recuperáveis.
Na parte física, a natureza foi pródiga e decisiva para o sucesso do cerrado: clima de altitude favorável, terras em geral planas que possibilitam a mecanização, chuvas quase sempre suficientes para duas culturas anuais e água em abundância para viabilizar projetos de irrigação.
Com relação ao manejo, a técnica do plantio direto, proporcionou ganhos tanto na produtividade como no balanço do carbono.
Tornou também o solo mais poroso, melhorando o efeito “mata-borrão” e possibilitando uma maior capacidade de absorção das enxurradas. Este controle da erosão foi também um grande passo para a preservação e é pouco comentado como ganho ambiental.
Esta condição de aumento da produção e da produtividade com sustentabilidade ambiental, em tão pouco tempo é fato inédito no mundo inteiro.
Desde o início da EMBRAPA são pesquisadas variedades de trigo adaptadas às condições do cerrado desde o Maranhão até o Mato Grosso do Sul.
Hoje temos variedades de trigo altamente produtivas com médias de mais de 6.000 kg/ha em grandes extensões. Esta média é mais do que o dobro das obtidas no sul e estão próximas das maiores médias mundiais.
A introdução do trigo no coquetel das culturas do cerrado se deve ao incremento da utilização da técnica da irrigação, onde a cultura se encaixa perfeitamente no período seco.
Está garantida também a nossa produção de cerveja. Onde dá trigo, dá cevada.
Além de exigir pouca água e estar mais imune às doenças, tem a grande vantagem de usar o mesmo maquinário e a mesma mão de obra utilizada para o plantio da soja e do milho.
Percebam o alcance tecnológico e de redução de custos que isto representa. Nos países temperados do hemisfério Norte é plantada somente uma safra anual.
Quem vai concorrer com o Brasil?
Este avanço exponencial da cultura do trigo, certamente nos levará, em poucos anos, a auto suficiência. Simbolicamente, isto significa muito. Será um marco e o coroamento da nossa bem sucedida exploração do cerrado.
Parabéns à pesquisa e ao agricultor brasileiro.
Por Arno Schneider, engenheiro agrônomo e pecuarista.