Opinião – Deus, nos dê força e proteção

23/07/2021 07:22

Precisamos da sabedoria dos santos
Brasil carrega males piores que covid

”Precisamos da força, bondade e paciência dos santos”, diz autor

Senhor, eu te rogo que protejas meu país e seu povo. Que nos dê paciência e sabedoria, solidariedade e serenidade para superar este momento difícil, um momento de soluções coletivas, emperradas por arroubos individuais.

Dai-nos senhor a inspiração de Dom Helder Câmara, pacifista por vocação e tolerante por pura convicção. Dom Helder foi luz num tempo escuro governado pelo medo. Mesmo sendo homem miúdo e frágil, foi abençoado com uma coragem divina, a transbordar naquele olhar sereno e abrangente, os passinhos rápidos e firmes e emoção traduzida pelas mãos erguidas nas preces em favor dos mais humildes, dos famintos, daqueles que perderam a fé por puro sofrimento e recebiam a graça de tê-la de volta.

Nos inspire, Senhor, com a energia da sua filha Irmã Dulce, que cuidou de tanta gente durante toda a vida, sempre preocupada com a coletividade. Era o bálsamo de uma dor coletiva que ainda hoje persiste, teimosa. Dulce era tão pequena e frágil quanto dom Helder, mas com a mesma coragem e determinação para trabalhar a favor dos que mais precisam.

Estamos vendo nosso país empobrecer, Senhor. A fome aumenta na mesma proporção em que cresce a distância entre os que muito tem e muito podem e aqueles que nada tem e pouco podem.

Senhor, nos proteja daqueles que roubam dos nossos doentes os respiradores, os kits de intubação, os remédios e os hospitais. Nos poupe da doença da demagogia, uma moléstia mais mortal que o vírus. E da doença das falsas notícias, do engodo, das ilusões das redes sociais e seus guias sem pudor nem decoro, numa permanente apologia à intolerância e ao ego. Livrai-nos das tribos digitais, Senhor, porque os que lá vivem estão em bolhas, numa realidade paralela, um coletivo de faz-de-conta.

Dai-nos, Senhor, a alegria e a humildade de Frei Diogo da Bahia, um capuchinho negro, da Ordem dos Monges Menores, o primeiro baiano a vestir o hábito daquela irmandade, sempre lembrado pela sua alegria, pela sua fé e a capacidade de transformar homens e situações com a força da oração. Nos faça fortes como as rezas de Frei Diogo, capazes de curar a fome, porque ele orava e a comida chegava. Capazes de curar os doentes, aliviar a dor, adormecer as crianças e os velhos que já não sonhavam. Dai-nos a doçura desse Frei que acolhia igualmente os pobres e os ricos, porque a humanidade cabia inteira no seu coração.

Livrai-nos, Senhor, das soluções mágicas e dos atalhos de ocasião, porque acabam se transformando em abismos profundos, onde morremos aprisionados. Este país doente de vírus e de amor ao próximo, a cada dia é empurrado um pouco mais para uma encruzilhada na qual há um caminho guardado pelo bom ladrão e, outro, pelo centurião da lança. A demagogia nos coloca entre a lábia e a violência, entre aquele que dá tirando e o que atira primeiro e tira depois.

Peça a Dom Helder que nos guie e nos dê discernimento, meu Senhor. Somos um povo pobre, que, como dizia Irmã Dulce, está faminto de comida, saúde, escola e dignidade. Nos ilumine, Senhor, para que tenhamos a mesma paciência dessa sua filha para esperar horas e horas por uns míseros minutos com os poderosos financiadores da sua obra, os quais nunca poupou de verdades ditas e benditas.

Dai-nos, Senhor, a humildade de Dom Helder, que ao despistar seus perseguidores acabou numa ruela do Recife, em pleno baixo meretrício e distribuiu bênçãos a todos que lá estavam, até ser saudado das janelas e sacadas, aplaudido, tocado, santificado como o bispo das putas. E que de lá saiu incólume, como São Jorge diante, dos seus inimigos incapazes de vê-lo.

Senhor, abençoe o Brasil, nossas crianças, nossas mentes, nossas possibilidades e impossibilidades. Dê voz aos que trabalham pelo bem comum, anônimos capazes dos milagres invisíveis do dia a dia, seja um prato de comida, um remédio ou um abraço. Jogue seu manto de estrelas sobre esses poucos que cotidianamente trabalham por muitos, esses anônimos, os anti-influencers, os que vivem a dura realidade, sem mídia e sem redes sociais.

Proteja, Senhor, os que fazem da caridade sua profissão, porque não trabalham por eles, mas para este mundão de gente sem pai nem mãe, solta por aí. Dê a eles muita luz, porque só pela fé e o amor é que nos livraremos de todo mal. Amém.

 

 

 

 

Por Marcelo Tognozzi é jornalista e consultor independente há 20 anos. Fez MBA em gerenciamento de campanha políticas na Graduate School Of Political Management – The George Washington University e pós-graduação em Inteligência Econômica na Universidad de Comillas, em Madrid

Tags: