Opinião – Micro e pequenas empresas estão no início da transformação digital

27/07/2021 08:33

Mitos precisam ser quebrados para que pequenas empresas avancem digitalmente

Pequenos empreendedores apontam falta de recursos como dificuldade em avançar na transformação digital

Tivemos hoje o desafio crescente, e irreversível, de digitalização da economia e do setor produtivo. Acelerada pela crise sanitária, a transformação digital deixou de ser apenas um diferencial de mercado. Hoje, mais do que nunca, deve integrar a estratégia de qualquer empresa, independentemente do porte e do setor. Contudo, os micro e pequenos negócios, que são mais de 90% dos empreendimentos brasileiros e responsáveis por mais de 50% dos postos de trabalho no país, ainda estão longe da maturidade digital ideal para o ciclo pós pandemia.

Pesquisa feita pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial) e pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) revela que mais da metade das micro e pequenas empresas brasileiras (66%) ainda estão na fase inicial do processo de transformação digital, sendo 18% analógicas e 48% emergentes. Um percentual de 30% está numa fase intermediária. E apenas 3% dos pequenos negócios são considerados líderes digitais.

A média de maturidade digital desses empreendimentos é de 40,77 pontos, em uma escala de 0 a 100, sendo 0 nada digital e 100 totalmente digital. O levantamento mostra ainda que as empresas do setor de serviços são as que apresentam os melhores resultados em termos de uso de ferramentas digitais nos negócios, seguidas pelas firmas industriais. O setor de comércio, no entanto, apresentou a pontuação mais baixa para o desempenho digital.

Sobre a utilização de tecnologias, a banda larga já faz parte da realidade da maioria dos empreendimentos, mas serviços de computação em nuvem ou educação à distância são soluções pouco usadas. E o mais preocupante, o tema da cibersegurança não faz parte das preocupações dos empreendedores.

A boa notícia é que esses empresários estão abertos a inovar. E sabem que a transformação digital é um caminho sem volta. Quase 70% dos entrevistados demonstraram vontade de participar de programas de aceleração da maturidade digital. Essa prontidão oferece uma perspectiva promissora.

Mas para que essas empresas atinjam o potencial de suas capacidades digitais, é preciso quebrar mitos. Questionados sobre qual é a principal dificuldade para a transformação digital, quase 40% dos empresários mencionam a falta de recursos para investir. Outros 25% afirmam que o maior obstáculo é o desconhecimento do caminho a ser trilhado.

As tecnologias estão acessíveis a todas as empresas. A ideia de que o processo de digitalização é complexo e caro e que investir em inovação é um privilégio das grandes empresas não é mais verdade. Há soluções adequadas a todos os empreendimentos, independentemente de seu tamanho.

Portanto, mais do que desafios, as constatações dessa pesquisa apresentam oportunidades. Há um largo espaço para que essas empresas adotem tecnologias digitais e desenvolvam todo seu potencial. Mas é preciso imprimir velocidade a esse processo.

A transformação digital é um elemento essencial para ampliar os níveis de produtividade e de competitividade do nosso país, além de ser um requisito decisivo para a sobrevivência dos negócios. É fundamental que nossas micro e pequenas empresas se adaptem e aproveitem ao máximo os benefícios, e possam aprimorar sua relevante missão de contribuir com o desenvolvimento do país e a retomada da economia.

 

 

 

 

Por Igor Calvet, 36 anos, é presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. Foi Secretário Especial Adjunto do Ministério da Economia, e Secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do extinto Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Também foi Chefe da Assessoria de Assuntos Regulatórios e Internacionais do Ministério da Saúde e analista de Negócios e Projetos da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). É servidor público federal da carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. E doutorando e mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília.

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