Opinião – O ‘recado’ das eleições alemães

27/09/2021 09:37

”Sobretudo para o Brasil, que em outubro de 2022 irá às urnas para o decidir o seu futuro”

Olaf Scholz (SPD), novo presidente da Alemanha. Foto: Pool/AFP

Concluídas as apurações da eleição na Alemanha.

Conforme tendência já manifestada em todos os países escandinavos, a “social democracia”, de centro-esquerda, ganhou as eleições, derrotando o bloco da centro-direita da chanceler Ângela Merkel.

O vitorioso Olaf Scholz, do SPD (social democrata) obteve 25,9% dos votos, à frente de 24,1% para os conservadores. Os ambientalistas Verdes ficaram em terceiro com 14,8%, seguidos pelo Partido Liberal Democrático (PDL) com 11,5%.

Falta ainda tempo para a definição do novo governo alemão. Agora, tem início a fase de negociação envolvendo os partidos.

As próximas semanas serão de longas conversas entre as lideranças. Após anos de coalizões entre dois partidos, há indícios de que serão necessárias três legendas para formar uma maioria desta vez.

Não existe um prazo definido para o fim das negociações, embora o Parlamento tenha de realizar sua sessão inaugural no máximo até 30 dias depois da eleição, em 26 de outubro.

Enquanto isso, o governo vigente permanece no poder de forma interina, o que daria a Merkel mais alguns meses como chanceler.

O pior cenário seria um impasse.

A eleição passada foi realizada no dia 24 de setembro de 2017, mas Merkel só foi confirmada como chanceler em uma coalizão entre CDU-CSU com os socialdemocratas do SPD em 14 de março de 2018.

Após o conhecimento dos resultados, a indagação é se Angela Merkel foi derrotada.

A maioria das análises converge para negar essa hipótese.

O prestígio da Chanceler continua de pé. Apenas, prevaleceu na eleição uma tendência política, talvez consequência das dificuldades da pandemia.

A população deseja maior presença e proteção do estado, optando por alternativas que priorizem o social.

Até o FMI realçou em documento, que o aumento da desigualdade social exige medidas que abram mais as oportunidades e reduzam disparidades sociais;

O FMI sugeriu taxar ricos e empresas que lucraram na pandemia.

O aumento da tributação ajudaria a garantir medidas de apoio às populações mais vulneráveis.

Foi tal preocupação que levou os alemães a optaram por governo com orientação diferente de Merkel.

Isso, entretanto, não afetou o respeito que ela continua a merecer no país.

O estilo da chanceler foi sempre de “buscar o que era possível”, ou seja, aquilo pelo qual ela sabia que seria capaz de obter maiorias.

Procurava o que é possível, não o que é necessário.

Não foi uma transformadora, foi uma gestora.

O seu sucessor Olaf Scholz como ministro das finanças geriu a pandemia e não titubeou em quebrar o “teto de gastos” da Constituição alemã para favorecer as classes mais necessitadas.

Essa marca de redução das desigualdades sociais o ajudou na vitória, embora por margem pequena.

O resultado da eleição da Alemanha deve servir de exemplo, por ter sido um claro “recado” às democracias globais.
Sobretudo para o Brasil, que em outubro de 2022 irá às urnas para o decidir o seu futuro.

 

 

 

 

ney lopesPor Ney Lopes, jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino Americano; ex-presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal; procurador federal – [email protected] – @blogdoneylopes

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