18/10/2021 09:01
“A tecnologia ensinou uma lição à humanidade: nada é impossível” – Lewis Mumford
Imagine uma empresa avaliada em US$ 5,6 bilhões que não dispõe de sequer um escritório – um empreendimento que funciona de forma totalmente remota. As reuniões mensais dos seus cerca de 500 funcionários são realizadas exclusivamente pela Internet. Eis a Hopin, uma empresa especializada em conferências virtuais – realizou mais de 80.000 delas entre 2020 e 2021. Quem imaginaria que algo assim fosse possível?
Considere, agora, uma empresa que a cada noite hospeda cerca de 2 milhões de pessoas, mas que não dispõe de um único quarto – falamos da famosa Airbnb. Segundo li seu valor de mercado situa-se em torno de US$ 38 bilhões. Em 2017 lucrou impressionantes US$ 93 milhões. Pense por um instante: há não muito tempo você diria impossível que algo assim desse certo.
Não nos esqueçamos, evidentemente, da empresa que entre 2010 e 2020 realizou mais de 10 bilhões de viagens transportando passageiros pelas ruas do planeta – sem dispor de um único veículo ou motorista. Sim, falamos do Uber – presente em 700 cidades de 63 países. Apenas em 2018 faturou US$ 11,3 bilhões. Calcule sua expressão se há alguns anos alguém lhe sugerisse ser viável um empreendimento desse.
Menciono, em seguida, a famosa Amazon – responsável por incríveis US$ 524 bilhões em mercadorias vendidas sem dispor de uma única loja física. Calcula-se seu valor em cerca de US$ 315,5 bilhões. Uma empresa criada dentro de uma garagem de Washington, nos EUA. Também aqui fique a rir gostosamente com a expressão que faria se há algumas décadas alguém tivesse lhe perguntado acerca das probabilidades de algo assim dar certo.
Encerrando esta relação falemos da iFood. Li que está presente em 662 cidades brasileiras. Tem mais de 100 mil estabelecimentos parceiros e 72 mil entregadores cadastrados, que transportam uns 20 milhões de pedidos a cada mês. É uma de nossas maiores fornecedoras de refeições – sem dispor, porém, de um único restaurante. Já vale mais de US$ 1 bilhão. Uma vez mais, imagine-se opinando sobre a viabilidade de uma iniciativa assim há algumas poucas décadas.
Pois é. Será que estamos atentos, enquanto Brasil, às necessidades e possibilidades deste mundo novo? Meditemos, enfim, sobre sábia reflexão de Lewis Mumford, segundo quem “a tecnologia ensinou uma lição à humanidade: nada é impossível”.
Por Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.