Análise – Chance de Bolsonaro em 2022 depende cada vez mais de falhas dos adversários

21/10/2021 19:12

”Os obstáculos do presidente são grandes, mas os dos outros possíveis candidatos podem ser maiores”, pontua autor

Fachada Palácio do Planalto. Brasilia. Foto: Sérgio LimaO crescimento econômico em 2022 seria o maior trunfo eleitoral de Bolsonaro e o principal temor de seus adversários. Seria. Mas as perspectivas têm piorado.

A pesquisa do BC (Banco Central) com analistas de mercado divulgada na 2ª feira (27.set.2021) mostra aumento da expectativa na inflação oficial de 2021 (de 8,35% para 8,45%) e de 2022 (de 4,10% para 4,12%) e menor alta do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022 (de 1,63% para 1,57%). São estes os riscos para 2022:

baixo crescimento — o aumento do PIB poderá ser ainda menor do que o previsto atualmente. O BC terá que elevar o juro e mantê-lo alto por mais tempo para reduzir a inflação. Isso afetará o PIB e impedirá a criação de empregos. É um remédio amargo sem o qual os preços subirão ainda mais;

falta de chuvas — são as mais baixas dos últimos 91 anos, o que dificulta a produção de energia. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) diz que será possível evitar o racionamento. Mas ninguém tem certeza disso, nem mesmo no governo;

falta de insumos — a pandemia desorganizou as cadeias produtivas globais. Há também escassez de contêineres. Isso resulta em desabastecimento e inflação;

incertezas na China — é de longe o país que mais compra produtos brasileiros. Enfrenta impasses com a construtora Evergrande, à beira de falir. Mesmo com a provável solução, o Brasil deverá ganhar menos em 2022 com as exportações de minério de ferro. Isso poderá pressionar o dólar e a inflação.

O futuro é preocupante para Bolsonaro. O presente também. Ele está em patamar bem mais baixo de intenção de voto do que Luiz Inácio Lula da Silva em 2005 e Dilma Rousseff em 2013, ambos presidentes petistas a 1 ano de disputar a reeleição.

Bolsonaro tem 28% e Lula 37% da preferência de eleitores para 2022. A soma dos outros nomes e dos indecisos é 35%. O conjunto deles supera Bolsonaro e empata com Lula na margem de erro de 2 pontos percentuais.

Na 4ª feira (29.set) sairá nova pesquisa do PoderData, a 1ª depois das manifestações pró-governo no 7 de Setembro.

Em 11 de outubro de 2013, Dilma tinha 37% no pior cenário para ela no Datafolha, em que Marina Silva (Rede) tinha 28% e Aécio Neves (PSDB), que veio a ficar em 2º lugar, 21%. Em 12 de setembro de 2005 no Ibope, Lula tinha 33% e José Serra (PSDB), 30%, enquanto Geraldo Alckmin (PSDB), com quem acabaria disputando, tinha 14%.

DIFICULDADES DA OPOSIÇÃO

As perspectivas econômicas e as pesquisas eleitorais indicam que Bolsonaro não será reeleito. Mas os seus adversários também enfrentarão dificuldades:

Lula – até agora, tem jogado parado e mantido a liderança. Mas com o início da campanha passará a ser atacado por todos os adversários pelas acusações de corrupção em seu governo e pela recessão no período de Dilma Rousseff;

3ª via – embora a soma dos outros nomes seja grande, nenhum tem 2 dígitos. É muito pouco a 1 ano da eleição. Em 2013 e 2005 vários pré-candidatos estavam mais bem posicionados. Nem assim venceram. A chance de alguém do grupo chegar ao 2º turno é pequena.

Bolsonaro tem a seu favor o poder do incumbente. Todos os presidentes que disputaram a reeleição venceram: Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Lula e Dilma

A eleição de 2022 contrastará, aparentemente, com as anteriores. Terá, a preços de hoje, um presidente fraco buscando a reeleição. Mas seus adversários também estarão muito vulneráveis. Ninguém terá conforto.

Vencerá quem conseguir mostrar ao eleitor pobre, a maioria, que ele terá prosperidade de 2023 a 2026. Hoje, esse nome é Lula. Daqui a 1 ano, por mais inacreditável que pareça (e injusto na opinião dos críticos) poderá ser Bolsonaro. É muito pequena a chance de que seja uma 3ª pessoa.

 

 

 

 

Por Paulo Silva Pinto Formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics). Atua no Poder360 desde fevereiro de 2019. Foi repórter da Folha de S.Paulo por 7 anos. No Correio Braziliense, em 13 anos, atuou como repórter e editor de política e economia.

 

Tags: