25/10/2021 10:46
O saldo no comércio exterior contribuirá para o PIB do Brasil crescer 5% em 2021
Brasil tem se beneficiado pela demanda externa durante a pandemia. O saldo da balança comercial nunca foi tão grande. Acumula US$ 56,6 bilhões de janeiro a setembro de 2021.
Uma grande parcela disso vem de países asiáticos em desenvolvimento. Os países mais ricos são responsáveis pela maior parte dos investimentos no Brasil. A China, 2ª maior economia do planeta, é o maior parceiro comercial do Brasil e o 5º maior investidor.
O comércio exterior será em grande parte responsável pelo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) previsto em 5% para 2021.
Mas há grandes riscos à continuidade da bonança. O preço do minério de ferro ficou alto de modo anormal durante a maior parte deste ano. Com a queda do crescimento da China, a cotação do minério já baixou e deverá diminuir ainda mais.
Os impasses que a construtora Evergrande enfrenta são apenas uma parte das dificuldades que a China enfrenta. Há quem estime crescimento zero do PIB do país no 3º trimestre de 2021. Como o país é mais opaco do que o mundo desenvolvido, é difícil avaliar antecipadamente todos os sinais.
As dificuldades da China se devem em algum grau à transição para a economia verde. O país diminui o uso do carvão como fonte de energia. É algo benéfico para o país a longo prazo. Mas, num primeiro momento, significa elevação de custos e gargalos na produção.
A crescente importância da economia verde tem consequências também para governos que não parecem suficientemente preocupados com o tema. É o caso do Brasil.
PETRÓLEO
O mais recente leilão de áreas para exploração de petróleo no país, na 5ª feira (7.out.2021) foi o pior da história. Teve peso a proximidade do leilão de áreas do pré-sal, que será em dezembro. Serão concedidas áreas que já estão produzindo. No leilão mais recente os vencedores precisarão partir da prospecção.
Mas o fato é que as empresas de petróleo estão muito mais relutantes em investir em um ambiente global avesso a combustíveis fósseis. Os investimentos do setor deverão chegar a US$ 350 bilhões neste ano. Em 2014 foram US$ 750 bilhões.
Isso tem feito os preços dos combustíveis aumentarem, com resultado nefasto para a inflação no Brasil e em outros países.
O lado bom do aumento de preços seria incentivar o aumento da produção de petróleo no Brasil. Mas, como se viu no leilão mais recente, não se pode contar com isso de modo automático quanto no passado. A escassez de estrangeiros seria uma oportunidade para empresas brasileiras? Seria. O problema é que dependem de crédito, e os bancos também estão avessos a projetos que não sejam considerados verdes.
MEIO AMBIENTE
O Brasil tem uma imagem ambiental ruim, com nível elevado de desmatamento ilegal. A avaliação predominante nos países desenvolvidos é que isso não é acidente, é resultado de políticas de governo. É difícil dizer que a avaliação é injusta.
Há muitas florestas ainda preservadas no país e uma matriz energética das mais limpas. É um bom começo para negociar compensações e transformar o patrimônio natural em vantagem. Mas as tratativas do governo brasileiro com os de outros países sobre o tema partem do pressuposto de que os mais ricos têm a obrigação de pagar o Brasil. É como se eles tivessem uma dívida.
Com esse discurso o país pretende chegar à COP 26 em Glasgow (Escócia) em novembro. Será difícil conseguir algo. O mais provável é que enfrente críticas, e saia com imagem ainda pior.
O presidente colombiano, Iván Duque, disse que “ninguém deve isolar o Brasil” em função da política ambiental do país. Mas já é demonstração de vulnerabilidade o simples fato de ter que contar com a ajuda do governo da Colômbia, um país que até duas décadas atrás enfrentava impasses causados pela guerrilha e o narcotráfico.
A Colômbia avançou muito na economia e na reputação internacional. É hoje um dos países que emite títulos públicos verdes, assim como a Espanha, o Reino Unido e a Alemanha. Os recursos que esses governos obtêm com isso são para projetos que não prejudicam o meio ambiente.
O Tesouro Nacional também tem planos de emitir títulos brasileiros desse tipo. Quando e como isso será possível é uma incógnita.
O Tesouro Nacional também tem planos de emitir títulos brasileiros desse tipo. Quando e como isso será possível é uma incógnita.
Uma parte das dificuldades que o Brasil enfrenta no cenário global são consequência inevitável da confusão causada pela pandemia. Outra parte é resultado de escolhas. Isso abriria espaço para uma solução, porque posicionamentos podem ser revistos. Mas é improvável que venham a ser no futuro próximo.
Por Paulo Silva Pinto, formado em jornalismo pela USP (Universidade de São Paulo), com mestrado em história econômica pela LSE (London School of Economics). Foi repórter da Folha de S.Paulo por 7 anos. No Correio Braziliense, em 13 anos, atuou como repórter e editor de política e economia. Atualmente, está desde fevereiro de 2019 no Poder360.