Opinião – Vamos conversar sobre criptomoedas?

29/10/2021 16:39

”Há ainda muita variação nos preços das criptomoedas, mas que tem se reduzido ao longo do tempo. A relação risco-retorno para moedas não é semelhante para as criptomoedas”

O começo da era das denominadas criptomoedas é datada da criação do Bitcoin, em 2008, que visava implementar um sistema bancário global descentralizado. Isso foi possível por conta da tecnologia blockchain, de maneira simples, um sistema que possibilita rastrear o envio e o recebimento de informação pela Internet. Imagem: divulgação

Mas o Bitcoin tem seu código aberto, o que encorajou a criação de outras criptomoedas alternativas (altcoins). A Ethereum é um exemplo, e sua principal diferença em relação ao Bitcoin é permitir que seus usuários criem suas próprias criptomoedas, personalizando os tokens na plataforma Ethereum. Considerando a capitalização de mercado, Bitcoin e Ethereum são as criptomoedas mais líquidas, ou seja, com maior facilidade para venda e compra. O Bitcoin e Ethereum representam cerca de 50% e 14% da capitalização de mercado das bitcoins em abril de 2021, segundo a página do CoinMarketCap.

O aumento da popularidade das criptomoedas levou a um aumento na variância dos preços de mercado, o que possibilitou o comportamento de especulação. Os preços de mercado de Bitcoin e Ethereum cresceram rapidamente e desproporcionalmente em relação a outras moedas, ações ou metais preciosos. Isso levou a uma narrativa da presença de bolhas nos preços de Bitcoin e Ethereum, o que poderia levar a colapsos ou mesmo desvalorizações consideráveis para ambas as criptomoedas, por exemplo. O Bitcoin tem alta variação nos preços, mas essas variações vêm se reduzindo ao longo do tempo1.

A razão risco-retorno (quanto maior o risco do ativo, maior o seu retorno) das criptomoedas é distinta comparada a outros ativos como moedas2, ações e metais preciosos. O retorno das criptomoedas tem baixa exposição às ações e às moedas, o que pode ser uma indicação da influência de fatores específicos de mercados de moedas digitais2.

Basicamente, o Bitcoin não pode ser considerado um ativo seguro, afirmação baseada no episódio de covid-193. Mas há criptomoedas baseadas em ativos, como Tether, que pode ser considerado seguro diante do Bitcoin em movimentos de muita oscilação do mercado. Tether é a primeira e a maior criptomoeda baseada em ativo (denominada de stablecoin). Stablecoins são criptomoedas que estão atreladas a outros ativos estáveis como ouro ou moedas tradicionais, como Euro, Dólar, etc. Na teoria, uma stablecoin se tornaria tão estável quando os ativos aos quais estão atrelados. Porém, isso não significa que as criptmoedas mais promissoras são as stablecoins.

Um ponto é definir se criptomoedas podem ser consideradas como moedas. Moeda é uma commodity especial que é aceita no mercado como um equivalente universal a outras commodities. Para ser uma moeda, tem de preencher as seguintes propriedades: 1) meio de troca, 2) reserva de valor, e 3) unidade de conta. Essas são as descrições das características para ser uma moeda.

O meio de troca significa utilizar a moeda para comprar bens e serviços. A característica de reserva de valor permite possuir moeda para deixar de consumir no presente para poder adquirir bens no futuro. A terceira propriedade significa que os preços são estabelecidos em Bitcoins por exemplo. Ou seja, o indivíduo vai a uma padaria e paga o pão francês com o número de bitcoins informado pelo balconista. Segundo Yermack (2013), Bitcoin não satisfaz apropriadamente as propriedades de reserva de valor e como unidade de conta pela sua grande variação nos preços. O autor considera que Bitcoin e outras criptomoedas não são moedas, mas um ativo especulativo de alto risco.

De maneira geral, as criptomoedas não podem ser consideradas moedas pela definição tradicional de moeda. Há ainda muita variação nos preços das criptomoedas, mas que tem se reduzido ao longo do tempo. A relação risco-retorno para moedas não é semelhante para as criptomoedas.

 

 

 

 

Por Diogo de Prince, docente do Departamento de Economia da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (Eppen/Unifesp) – Campus Osasco

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